A presença de Josefe
Naquela sala
Se desejou algum dia
Nunca pode passar despercebida.
Desde a maneira como andava,
A roupa com corte apurado,
Ele fazia a barba toda manhã,
Gostava de hidratar as mãos.
Houve quem tropeçasse
Na porta por um cumprimento,
Quem não visse a porta
De vidro
E esperasse fora dela
Em pé por horas,
E quem excluísse o tapete
A tropeções.
Tudo isto, em sua frente,
Todas estas coisas ele mudou
Nada de repente.
Era alto, cheinho e forte.
Músculos se desenhavam
Ternamente pelo
Corte apurado da roupa.
Está sua aparência pessoal
E acolhedora causava inveja,
Desagradava a maioria,
Mulheres usavam roupas
Pra agradar,
Homens atitudes de desagrado,
E vice-versa.
Certa vez,
Decidiu trocar todos os colegas
Por robôs,
E obteve muitos pontos favoráveis
Ao fato.
Rapidez no trabalho,
Eficiência e precisão de detalhes,
Sem salário ao final do mês.
Ocorre, que saiu para fora
Da empresa,
E se deparou com pessoas
Em estado de necessidade,
Crianças pedindo esmolas,
A prostituição se avistava da janela,
Os pequenos delitos
Como meio de ganhar a vida.
Isto o incomodou mais
Que as outras coisas,
Então, não optou por robótica.
Era mais que orgulho
Por ser um sujeito honesto,
Tratava-se de segurança pessoal.
O crime que passa a existir,
Mesmo que distante,
Se alastra
E atinge a todos.
Se inicia no garoto
Da notícia do jornal,
Que furtou a avó,
Depois de tirar seu dinheiro,
Ele conseguiu um advogado,
E fez uma procuração em nome dela,
Através dela ele teve acesso
A todos os bens.
Gostando disto,
Ele roubou um talão
De cheques de um pequeno
Empresário local,
Lá, ele não apenas ganhou
Todo o dinheiro que o homem tinha.
O rapaz matou o empresário
Na porta de casa
Com uma lajota do seu quintal.
Na notícia ele é considerado
Principal suspeito,
Não há fotografia
Que represente um rosto,
Consta somente a atitude.
Contudo, além de humanitário,
Josefe era inumanamente bonito.
Mas isto não o ocultava
De crimes tão odiosos
E irreversíveis,
Dos quais poderia ser vítima.
Dentro do seu prédio,
Ele sentia-se seguro
Lá do quintagesimo andar,
Era como abrir a janela
E aguardar as nuvens,
Nem dirigir,
Voar pelos céus.
Contudo,
Neste dia de quarta-feira
Decidiu usar o elevador,
O elevador parou no andar vinte e cinco.
Travou, desligou as luzes
Normais e emergiu
Luzes coloridas,
Então, houve uma voz.
Terrível voz:
- sequestramos seu filho
Esta manhã na escola,
O deixamos vivo,
Contudo exijo cem bilhões.
Faça o Pix neste CPF.
Ótimo,
Ele sorriu feliz,
Tinha um número de CPF,
Faltava apenas buscar
A quem se referia.
Então, chorou,
O filho?
Seu filho estava nas
Mãos de bandidos.
- vocês me ouvem?
Ele indagou.
Só recebeu silêncio.
Abriu seu celular
Na tela surgiu a fotografia
Do filho com ferimentos
No rosto,
E uma bola de papel
Dentro da boca.
O filho chorava.
Isto é dor que um pai
Não merece.
Logo, surgiu escrito
Na tela do celular
“pago, pago, pago”.
Ele chorou,
Suas mãos ficaram trêmulas,
Ele derrubou o celular.
Se ajoelhou rápido,
Feriu os joelhos e
Pegou o celular.
A tela estava escura,
O vidro se rachou.
- Allah.
Mash’allah .
Ele gritou.
Então a voz riu alto,
Depois disso,
A tela reativou
E surgiu exatamente na conta dele,
Inclusive com o valor expresso:
Trezentos bilhões.
O celular por si próprio
Foi digitando e seguindo
Adiante as etapas.
O valor triplicou,
A dor de ver o filho
Naquela fotografia
Jamais se resumiria a numeral.
- me devolvam meu filho,
Me devolvam.
Ele gritou desesperado.
Arrancou os cabelos,
Deu socos no elevador,
Deu um chute.
Então, o elevador desceu,
Três andares,
Parou.
E houveram mais risos.
Ele colocou a senha,
E apertou o verde.
Ok.
Transação feita.
Então, em sua tela
Surgiu o saldo de sua conta
Zero, zero zero.
- o quê?
Ele gritou.
- isto mesmo,
Zerei sua conta.
Uma voz feminina falou.
O valor cobrado foi exorbitante.
- devolvam meu filho,
É tudo que eu amo!
Nisto, surgiu uma ligação
No celular dele,
Ele teclou para receber
Mas não atendia,
Tentou inúmeras vezes
E a tela estava inerte,
Se desesperou.
Depois de ter chorado
Até soluçar,
A ligação atendeu-se por si mesma.
Surgiu o filho no vídeo,
E uma arma apontada contra
Sua cabeça,
Então, o tiro.
E gritos,
Muitos gritos,
E a imagem do filho caído,
Sangue no chão,
Seus olhos abertos
E estagnados.
O coração pulsou tão intenso
Que via-se através de sua
Camisa branca.
Ele gritou.
Gritou.
Chamou o filho.
- Vane fiquei vivo,
Por favor,
Permaneça conosco.
Eu te amo...
E continuou gritando.
-agora, você vai até seu carro.
Sobre o vidro do parabrisa
Terá um jornal,
Vai te interessar.
A voz retornou a falar.
O elevador andou.
Ele chegou ao carro
E pegou o jornal
Com data do dia seguinte.
“Criança mata a si própria
Tendo encontrado arma
No armário de roupas do pai”.
Então, a fotografia.
O menino caído,
O sangue por toda parte.
A manchete a seguir dizia.
“Empresário bem sucedido
Procura pelo filho perdido
No supermercado.”
E outra,
“Corpo de criança
Em decomposição é encontrado.”
Lá havia uma fotografia
De um corpo pequeno,
Envolto em um tecido negro.
Ele sentiu toda a sua força
Se esvair.
Correu até a área criminosa
A qual cuidou através de sua janela,
Pediu ajuda as pessoas do local,
Mostrando o jornal.
Um rapaz reconheceu o local,
Onde foi fotografado
O corpo do menino em decomposição
Dentro do embrulho negro,
Como sendo um barracão abandonado
Não distante de onde estavam.
Ele chegou lá,
Juntou um porrete de madeira,
E encontrou três pessoas.
Matou a todas.
Encontrou o filho caído
E sangrando,
Pegou-o no colo e o retirou
Do lugar.
Nisto, juntou todos os celulares
Que haviam lá,
Recuperou seu dinheiro,
E levou o filho até o hospital.
O filho passa bem.
Está sendo medicado.
Josefe sentou ali,
Bem em frente a cama,
Com as portas fechadas,
E os pés estendidos.
Teve tempo de tomar
Dois cafés com whisky,
As oito em ponto,
Pegou o filho no colo,
E foi para casa.
Foi alvo do olhar
Dos presentes,
Como sempre,
Olhares tentadores
Pareciam querer
Lhe dirigir a palavra,
Como se quisessem
Seduzir sua atenção.
Ele disse adeus
E saiu.
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