Marcando cada segundo em um ritmo inespecífico
Aos que amam, exato aos que sonham,
Como se fosse soprado pelo vento em pequenos pontos
Espelhou-se a brilhar pelo céu estrelado,
Alguns o chamam esperança, outros estrelas,
A lua solícita gosta de fazer suspense, por vezes brinca de
esconder-se,
Apenas para forjar indiferença, quando na verdade está a
contemplar,
Tanto os que amam quanto os que sonham se sentem arrebatar,
Em um fascínio que os envolve sem força alguma que os atraia,
Ao contrário, dizem os céticos que exista força que os
repila,
Mas há quem ainda acredita em verdades incertas? Sim, há;
Quando chovia no outono, eu gostava de molhar os pés na
goteira,
Quando chovia no verão eu gostava de nadar no rio de água
morna,
Porém, quando a chuva se ausentava eu sentava para atirar
pedras,
E ver a água abrir-se para recebe-las apenas para abriga-las
em algum lugar,
O fato é que a chuva adorava perturbar minha alma,
Estivesse eu triste ela se derramava só porque sabia que eu
não a resistiria,
Fazia os pássaros sobrevoarem a cantar na sinfonia da
natureza,
As flores abrirem-se para receberem seus desígnios,
Por vezes, acompanhada pelo vento, pela brisa fria,
Outrora, trazia o sol para aquecer a terra envolvendo-a em um
arco-celeste,
Fazendo todos moverem-se a sua volta, em perfeita sintonia,
Como um pedido de que se voltem para os céus e vejam que a
vida é maior,
Tentei descrever os fatos, mas as palavras careciam de
sentido,
Existem coisas na vida que só mesmo a contemplação é capaz
de mostrar,
Há quem saiba disso, mas sempre há quem se negue aos fatos,
Embora de vez em quando, algo pareça se modificar,
Como se gritasse aos ventos da mudança que havia chegado a
hora,
Há quem acredite que tudo esteja descrito nas estrelas,
Há quem prefira percorrer seu próprio caminho em coerência,
Durante o decorrer do meu dia eu gostava de ficar na
varanda,
Ler um livro bem escrito, marcar uma página com minha
empatia,
Brincar com os bichos ao meu entorno, sussurrar aos ventos
Um eu te amo para que ele o eleve ao firmamento,
E possa ser ouvido a quem necessite de gestos de carinho,
E de preferência possa traduzi-los em vínculos de afeto,
Durante a noite eu amava ouvir a chuva no telhado a embalar
meu sono,
Cheguei a me indagar se algum dia existiria sinfonia mais
perfeita,
É claro que há, repetia aos meus pensamentos no sereno
noturno,
Uma noite, enquanto eu estava absorta em pensamentos,
Uma chuva de estrelas rompeu o horizonte, como se sonhos,
Despendessem-se dos céus e viessem ao nosso encontro,
Acreditei que cada sonho que eu havia pedido as estrelas,
Desde tenra infância até nos silêncios das minhas orações
noturnas,
Haviam caído ao meu encontro, porém, pensei comigo mesma,
Fossem eles anjos, teriam flutuado, mas foi inesquecível eu
repetia,
Naquele momento perfeito e intuitivo,
Meu cão se aproximou por trás das minhas costas,
Com um suspiro ao meu ouvido, pedido silencioso de ser
ouvido,
E eu o abracei como teria feito ao meu melhor amigo,
Como se me sorrisse com seu jeito ingênuo e protetor,
Ele recostou seu nariz quente e úmido na ponta do meu nariz,
Naquele instante dividíamos o mesmo ar, os mesmos sonhos,
Ele poderia não se expressar com palavras, mas nunca foi
necessário,
Havia muito amor envolvido em cada fato, em cada movimento
calculado,
Me permiti acreditar que Deus havia me ouvido, e quem sabe a
alguém mais,
Então ficamos abraçados, a contemplar o desenvolver dos
astros,
Que tal me dar atenção agora, ele parecia me falar com seu
olhar castanho,
Com aqueles olhos grandes que pareciam ver muito a sua
frente,
Muito mais que confessasse, de um jeito astuto que parecia
mero reflexo,
Só para fingir ignorar tudo que percebia descrevendo-se no
horizonte,
Eu o olhava e sorria, ele fechava os olhos como se estivesse
dormindo,
Mas nunca se permitia baixar a guarda, sempre atento, seguro
sobre nós,
Um desenho de sobrancelhas castanhas se desenhava sobre sua
fonte,
Como se mesmo enquanto dormisse, ele se mantivesse acordado,
Estratégico, gostava de se camuflar nas sombras,
Protegido por seu manto de pelos negros, sempre alerta,
E que tudo se desenhava em seu pensamento antes mesmo de
tomar forma,
Inteligência espantosa, força sobre-humana, desenhado pelo
amor,
A água da chuva pingava nas folhas, escorria a percorre-las,
Como se concedesse voz as suas fantasias,
Momento perfeito em que céus e terra se juntavam,
Formando a vida em todas as suas formas,
Por mais que Deus não tenha especificado línguas,
Ele concedeu a todos o dom da fala, de conseguir se
expressar,
Em um pacto natural de convivência humana.
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