terça-feira, 29 de dezembro de 2020

Maio de 2002

 

Ela pressionou os lábios frios em minha boca,

Pegou as chaves do seu carro e deu partida,

Foi embora após um mero adeus por despedida,

Na linguagem do amor isso é saudade premeditada,

Eu prometi a mim mesmo que ficaria em casa,

Não me permitiria sofrer, mas refletiria

Sobre tudo que vivemos, os possíveis erros e afins,

 

Porém, a lua ressoou meia-noite e eu me direcionei para a balada,

Contudo ir sozinho me pareceu uma ideia ruim naquela hora...

Ao chegar lá, qual não foi minha surpresa me deparei com ela,

Achegada em conversinhas com outro rapaz,

Embora eu também estivesse acompanhado me senti usado,

No entanto, não recai, peguei a mão da minha acompanhante

E direcionamo-nos para a pista de dança, e o que eu senti foi único,

 

Percebi no ritmo contagiante daquela dança que

No outro relacionamento eu apenas havia perdido meu tempo,

Desperdiçado minhas horas em sonhos que eram só meus,

Os quais ela nunca acreditou nem ao menos se esforçou,

Na primeira oportunidade virou as costas e foi embora,

Seria forçoso admitir, mas talvez, mesmo antes do fim,

 

Ela já tivesse entrado em outro relacionamento,

Me senti traído, eu entreguei meu amor, minha vida

A quem nunca soube dar valor, a quem apenas usou de mim,

Abusou do que eu sentia, me forçou a acreditar no que não existia,

Mas agora tudo estava esclarecido e o fim chegou ao que nem deveria ter iniciado,

Digo isso com certo orgulho, para que me apegar ao passado?

 

É certo que o fato de encontra-la acompanhada por outro na balada,

Havia sido um tanto quanto provocativo, confesso que mexeu comigo,

Mas o que eu faria se foi ela quem decidiu dar fim ao que tínhamos?

Assumo que posso não ter sido perfeito, aceito que possa ter havido erros,

Mas desistir de tudo tão facilmente me soa um tanto intransigente,

Nós mantínhamos um diálogo singelo, falávamos de tudo um pouco,

 

Confesso que as vezes ela me fazia pedidos para os quais eu não me sentia preparado,

Mas por um fim em tudo por tão pouco, isso me soou um tanto apressado,

No meio da pista, virei o rosto para contempla-la, não por interesse,

Mas por respeito ao que vivemos, senti curiosidade,

Qual não foi minha surpresa, ela estava aos beijos com o outro cara,

Aquilo me feriu de morte a alma, percebi que nunca deveria ter investido nela,

 

Continuei a dançar, com passos desconcertados, um pouco nervoso,

Parece que quando a gente fala de sentimentos para outro coração,

Por termo-nos aberto de modo tão íntimo desejamos no mínimo respeito,

Mas o fato é que cada momento responde de modo diferente no que tange a emoção,

E assim havia sido conosco, eu amei com toda a alma, mas ela não,

Ela simplesmente se recusou a entregar-se a nossa paixão,

 

E agora remava em outro barco, direcionada por outra maré,

Não seria eu que a perseguiria como se quisesse obriga-la a viver o que não quer,

Todos possuímos direito de escolha e o meu era o de não ser humilhado,

Deste modo, peguei a mão da moça com um leve aperto,

Me aproximei e nem esperei o final da dança, cheguei ao seu ouvido,

E a convidei para irmos a outro lugar arejar o pensamento,

 

Talvez um bar tomar um chopp, mas não ficaria a contemplar

A mulher a quem tanto amei se entregando de forma

Que julguei tão fútil e voraz a outro rapaz,

Talvez ela nunca tenha agido daquela forma comigo,

Mas não me deixaria abater por isso, na saída, me aproximei dela,

Com toda a educação e respeito conquistado em nosso relacionamento,

 

Sorri e cumprimentei a ambos, com um aceno desejei a ela sorte,

Voltei-me a minha acompanhante e nos dirigimos a um café,

No caminho contei que se tratava da minha ex,

Ela sorriu e me elogiou por minha atitude,

Seu sorriso mexeu com minha alma de uma forma inusitada,

Então olhei para ela, eu estava a dirigir o carro, mas mesmo assim,

 

Estendi uma mão a acariciar seu rosto e provei o gosto da sua boca,

Algo em mim me avisou que este relacionamento poderia ser diferente,

E não haveria motivos para não o ser,

Não foi necessária investigação muito profunda,

Seu beijo era algo que me envolvia e contagiava,

Aquele maio de 2002, ficaria marcado para sempre em minha vida,

 

Ela tocou o vestido de uma forma urgente e provocadora,

Eu sorri, “estou encrencado como é possível notar”,

Disse a ela, com um sorriso e um brilho especulativo no olhar,

Ela também sorriu, disse que se estivesse no meu lugar,

Talvez não tivesse agido com o mesmo respeito e cautela,

E que no decorrer da sua vida, ela procurava alguém assim,

 

Já havia se sentido perseguida por outros rapazes por bem menos,

Então achava que minha atitude havia sido louvável e digna,

Disse ainda que minha beleza já havia conquistado sua estima,

Porém com minha atitude conquistei sua alma,

“Para você ver o quanto estou encantada,

Poderia parar um instante para me dar um beijo na boca?

Este beijo apressado foi ótimo, mas eu gostaria de um bem demorado...”

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