domingo, 20 de dezembro de 2020

Noite as Escuras

 

Eu seguia caminho ao sul de certo lugar,

Uma nuvem de poeira me fez calar,

Piscar e em seguida parar de olhos fechados,

O vento parecia estar desalinhado dos meus planos,

Virei-me por dois pequenos minutos,

Permiti-me pensar um pouco sobre o assunto,

 

Foi quando o vento cessou, eu me admirei por isso,

Depois de tudo revisto, parecia ser adequado dar prosseguimento no feito,

Quando se acredita em algo de verdade,

Sabe-se que até o impossível é capaz de prover o alcance,

Mas, talvez não no outono, nem mesmo no inverno de 1999,

Com um pingo de sorte, talvez ocorresse um pouco antes,

 

Quem sabe, na vontade que a Deus pertence...em instantes;

Observei a nuvem de poeira levantar-se para o firmamento,

A brisa soprou em meu rosto de forma refrescante,

Deixando o chão em que eu pisava nitidamente limpo,

Levantei os olhos para o horizonte, sorriso radiante,

Os pássaros brincavam ao meu redor, felizes e absortos,

 

Sorri diante disso, dessa vez com uma ponta de incerteza,

Parecia-me, naquele instante, que para seguir teria que abdicar de algo,

Eu possuía muitos sonhos, se não lutasse por eles, perderia de qualquer forma,

Mas, logo mais adiante, só Deus poderia prever o que me esperaria,

E depois, ainda mais a frente, não havia visão que me precavesse do futuro,

Andar com olhos incertos me parecia demasiadamente vago,

 

Estendi a mão para o alto buscando um pressagio, um aviso sobre algo,

Porém, não permiti em nenhum segundo que o medo me parasse,

Apesar de a cada distância percorrida algo deixar meu instinto intrigado,

Eu confiava que tudo daria certo, precisava seguir o roteiro,

Que eu mesma me permiti escrever quando desejei sonhar a alguns anos atrás,

Nada passava despercebido, tudo era envolto por uma espécie de relevância,

 

Sobre aquele manto que tentava camuflar os acontecimentos ao meu redor,

Eu desejei, com toda a intensidade, desvendar, retirar, deixa-lo as margens,

Não me pareceu correto que o meu redor se apresentasse tão incerto,

Naquele mesmo dia, meus olhos tinham outro significado, então, na calada da noite,

Eu ainda parecia vagar, mas na verdade, já não eram expectativas que me moviam,

Mas uma força muito maior, meus dedos compunham roteiros feito uma espada flamejante,

 

Mas ao invés de desejar queimar ou ceifar vidas como em pensamento do que é comum,

Eu transcrevia a verdade dando vida as linhas de um caderno qualquer,

Guardado comigo como um amuleto, que talvez, algum dia pudesse fazer sentido,

Quando a notícia ganhasse as páginas de algum jornal da cidade traçado em linhas de sangue,

Mesmo que em última instância, aberto, desvendado aos olhos de algum tribunal,

Selado pelo compromisso de uma jura temerária a Deus de dizer a verdade,

 

Algo me instruía para o fato de que ao traçar aquele trajeto perdido e distante de tudo,

Eu teria, em algum momento, que pesar meu itinerário na balança da justiça,

Se fosse o caso, depois de confessar a Deus todos os meus pecados

E obter sua remissão, sempre guardei comigo esta certeza,

Conforme rezava minha antiga Vózinha, que Deus a tempos a guardava ao seu lado,

Eu sempre estaria protegida e abrigada de todo o mal a se estender no meu panorama,

 

Até aquele momento, não havia nenhum impasse, nada que pudesse me fazer desistir,

Nenhum preço seria alto o suficiente para deixar de lutar por uma vida em dignidade,

Quando se luta por o que se deseja, há cinquenta por cento de chances de se conseguir,

Porém, suas chances mudam para zero quando, no caminho, se desiste,

Eu precisava de um lugar para me abrigar, aquela cidade me pareceu um bom lugar,

Haviam muitos recintos em que eu esperava ser bem recebida,

 

O suor escorreu por meu rosto embebendo o sorriso dos meus lábios,

Precisava relaxar, tomar um banho gelado, talvez, ouvir algo

Diferente do barulho dos meus passos que, agora, ecoavam pela calçada malfeita,

Tudo ali era desenhado em um estilo rústico,

Naquela hora da noite, parecia ter parado no tempo,

Como se a vida estivesse se cansado e fugido dali para algum outro ponto,

 

Como um símile de um filme antigo de faroeste,

Localizada a oeste do estado em que havia sido construída,

Haviam muitos segredos por entre aquelas paredes,

Algo dentro de mim gritava estas palavras e eu ansiava para que fossem ouvidas,

Até quando desejariam calar-se diante da verdade,

Espalhada, desenhada em cada estrutura, em cada rosto daquelas pessoas?

 

Se alguém acreditou algum dia que fosse me parar, eu tive certeza,

No primeiro passo que pus naquele chão estendido em um tapete negro,

Não iriam e acredito que, a essa altura, se tivessem um mínimo de astúcia,

Já teriam desistido e quem sabe, empreitado em fuga para um outro caminho,

Gravei cada nome, tracei cada perfil e tive certeza, a justiça os encontraria,

O que eu queria dizer era: nada poderia ser mantido em segredo por muito tempo,

 

Deitei na cama por mim escolhida, fechei as janelas, pensei comigo:

Vá pela sombra o sol costuma ofuscar a visão, até mesmo a noturna,

Acredite, naquele instante em que você se detém para contemplar o firmamento,

Ele fica lá, a espreita, a te desvendar de algum lugar incerto e não sabido,

Ardiloso, adora se esconder em fagulhas celestes, até mesmo na lua apaixonada,

Há quem acredite que ele blefa com a lua somente para derrete-la,

Há quem prefira a hipótese de que ele esteja a corteja-la...

Em breve, quem sabe, isso possa ser esclarecido, algum dia.

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