Por mais que amasse o trabalho que desempenhava,
Sentia que faltava algo a mais em sua vida,
Algo em que se dedicar, algo em que acreditar,
Um rosto belo lhe tocava a lembrança,
Ainda podia lembrar das tardes de outono
Em que cavalgavam juntos pelos bosques,
No carreiro que se desenhava aos poucos
Por entre as folhas secas e densas árvores,
Amar era algo que dava trabalho,
Ele ainda lembrava do quanto se dedicava a ela,
Do quanto ela tomava seu tempo com seus abraços insaciados,
Mas agora, mesmo longe, as lembranças ainda vinham
abraça-lo,
Sem o calor do seu corpo macio em seu abraço apertado,
Sem sua voz melodiosa a tentar convencê-lo de algo,
Sem o seu cheiro a assalta-lo, toma-lo dos seus pensamentos,
Rouba-lo de tudo, fazendo-o esperar, desejar sua presença,
Se entregava ao trabalho diuturnamente,
Mas nada parecia tirar a sensação dela de sua pele,
Ainda lembrava como o sol a tocava,
Iluminando com algo misterioso o seu olhar,
Recordava como nunca o quanto ela sorria,
Enquanto cavalgava, indefesa, linda e esbelta,
Com seus cabelos escuros, longos e soltos ao vento,
Ela parecia iluminar, contagiar o seu redor,
Com uma espécie de felicidade que ele procurou
Por todos os cantos das cidades em que passou,
No entanto, nunca encontrou, ela era única,
Suave ao vento, feito as folhas que pairavam na estrada,
Com uma lágrima silenciosa e despercebida
A percorrer o caminho do seu rosto,
Ele lembrou da forma como ela apeava do cavalo,
Colhendo os frutos frescos das árvores,
Ela sempre o convidava para acompanha-la,
Tinha gosto em usufruir da sua companhia,
Colhia os frutos que alcançava e ainda o lançava
Aquele olhar de menina meiga, para que ele
A ajudasse a colher os frutos mais altos,
Depois o permitia escolher os que quisesse,
Nunca houve competição entre ambos,
Ao contrário, sempre se apoiaram em tudo,
Protegendo-se, andando lado a lado,
Desta forma, ela sentava-se na grama, no chão, onde fosse,
E lançava aquele olhar com um sorriso humilde e iluminado,
Fazia questão de sempre o presentear com seu abraço,
Olhar para as nuvens, construir desenhos,
Brincar com as folhas, saciar a sede nos frutos frescos,
Tudo estava tão vívido em sua memória,
Que ele sentia que poderia toca-la,
Lembrar sua fala macia, alta, rouca lhe trazia conforto,
Eles sempre colhiam alguns frutos para levar para casa,
Eu te amo pronunciavam em olhares cumplices,
A felicidade os encontrava onde quer que estivessem,
As vezes, cortavam caminho para ir brincar no rio,
Pescar sobre alguma pedra da encosta,
Nadar, brincando de ser peixinho,
Mergulhar como se a água fosse parte de si mesmos,
Depois descansavam nas margens,
Brincando de fazer as pedras baterem sobre a água,
Ela sempre o permitiu jogar sua pedra mais longe,
Isso era o que ela pensava,
Apesar de não discutir ele sempre soube que tinha mais
força,
Pensando bem, ele achou que poderia confessar algo
Lembrava que ela sempre teve azar com as iscas,
Apesar dela esforçar-se, ele sempre pescava o peixe maior,
Depois de horas, ela se cansava e fazia birra queria ir
embora,
Para convencê-la a permanecer na pesca,
Ele entregava sua própria linha, seu lugar e tudo o mais,
Mas a sorte permanecia com ele,
Embora lhe entregasse todas as dicas,
Ela nunca conseguiu nada,
Irritada ela se carregava de pedras e apedrejava a água,
Se ela não poderia pescar então parecia mais sensato
impedi-lo,
E ele disparava atrás dela, que culpa ele teria?
Ela se esforçava ele sabia, mas ele gostava de protegê-la,
Ela tinha aquele jeito de menina forte que precisa de
alguém,
E ele se esforçava ao máximo para suprir suas necessidades,
Outrora, sentavam-se na barranca e faziam uma fogueira,
Colhiam milho e assavam no fogo do outono,
Ele fazia sua imitação do pato Donald e ela amava,
Brincavam de cuidar dos girinos para ver se tornarem sapos,
Só para ouvi-los coaxar em seus ouvidos,
Embalando seus sonhos de meninos,
Corriam por entre os vagalumes, sob a luz do luar,
Muniam-se de toda a coragem em seus corações,
E enfrentavam a escuridão das noites sem lua,
Apenas para sentir a brisa fresca que caia,
Ouvir os cantos dos pássaros noturnos,
Contemplar as estrelas brilharem únicas no céu negro,
Até dispararem correndo, assustados com algo inventado,
As horas passavam feito segundos marcados no relógio,
A partir do instante em que adentravam na floresta,
Nada mais parecia convencê-los a saírem de lá,
Tudo chegava ao seu coração feito um sonho maravilhoso,
Mas era muito mais que isso, era a realidade em que viveram,
Ele sentia falta disso, precisava reviver estes momentos,
Permitir-se-ia a chance de encontra-la novamente,
Poder lhe dar o abraço que tantas vezes entregou ao
travesseiro,
Acender uma fogueira para falar das histórias que traçaram,
Desistir de chorar calado, dar ouvidos a voz que o chamava
Que o fazia acordar tarde da noite para procura-la,
Ter um número em que discar no telefone celular,
Ter uma companhia para ouvir suas músicas,
Recitar um poema a luz do luar,
Que agora, jazia, tão triste no romper da aurora,
Pegou a lista telefônica, procurou por seu nome,
Discou de número a número até que uma voz conhecida
Atendeu com aquele mesmo tom que tanto lembrava,
Fez-se um minuto de silêncio, alô, disse ele...
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