O ponteiro do relógio havia quebrado na exata hora em que
ele foi embora,
Ela decidiu nunca concertar, deixaria gravado nas areias do
tempo,
Apesar do esforço para fingir indiferença, ela sentia que
ele ainda a amava,
Mas o fim havia chegado, seus carinhos descompassados
desataram os laços,
Seus beijos sôfregos soltaram as amarras que os mantinham
juntos,
Embora ela recordasse muito mais dos momentos felizes
vividos,
Ela ainda poderia recordar da facilidade que ele tinha para
chorar,
Um homem de uma sensibilidade ímpar, porém, distante um
pouco,
Ela ainda podia lembrar com um sorriso de canto da boca,
De cada vez em que o mandava embora da sua vida,
Alegando ter acabado o amor, ser pouco o que sentiam para
mantê-los juntos,
Sozinha, em silêncio, ela ainda era capaz de escutar seus
soluços,
Não tão exagerado quanto uma criança fazendo escândalo,
Nada tão silencioso que pudesse ser ignorado com desdém,
Ela sente uma lágrima a molhar seu sorriso enquanto recorda,
Era um soluço profundo que parecia vir de dentro dele,
Mas que nada, agora ele estava longe demais dela,
E ela acreditava que nada o traria de volta,
Foi este o fim que escolheram juntos,
Seu primeiro ímpeto ao vê-lo partir foi saltar para o alto,
Como se tivesse dado um passo rumo ao infinito,
Feliz, acreditou poder tocar as estrelas, sem limites,
Sua segunda reação, foi repensar cada atitude...
Havia colocado tantos sonhos naquela relação,
Sentia tanta pressão sobre si mesma quanto a sua emoção,
Em terceiro momento, agarrou-se as lembranças do passado,
quando,
Parecia que percorrer um caminho sozinha, era mais
intimidador,
Estaria exposta a mais riscos provenientes da rua,
Riscos, dos quais, ele poderia, caso quisesse, protege-la,
Seria então uma relação por conveniência, em que cada um cede
um pouco?
Mas ele não parecia disposto a isso, talvez se sentisse
inseguro a respeito,
Seu futuro aparecia diante dos seus olhos com detalhes
definidos,
Iria desistir de tudo pelo que tanto acreditou em razão de
sonhos?
Quem em idade adulta ainda ousava acreditar nessa bobagem:
os sonhos?
As pessoas se conheciam, ou nem isso, casavam-se e tinham
seus filhos,
Pronto, eram assim todos os casamentos, se haveria separação
ou não,
Isso dependeria de cada casal, não era? Por que ela teria
que se diferenciar?
Ela tinha objetivos, os quais, desejava alcançar em seu
coração,
O restante poderia deixar para depois, quem se recordaria de
tal fato?
Em uma noite úmida, quanto tocou em seus lábios pela
primeira vez,
Achou sensato conhece-lo mais um pouco, a cor dos seus olhos
era azul,
Alguém o definiu assim certa vez, ela não quis discutir, que
assim o fosse,
Não foi um encontro às escondidas mas nem tanto ao clarear
do dia,
Seus carinhos nunca haviam pertencido a ninguém, não fazia
sentido aquilo,
Sentia-se como uma arma engatilhada, que negava-se a
quietude de uma sala vazia,
Candidatos a Romeu não faltariam, porém, um pior que o
outro,
Ela, nestas histórias nunca desejou ser a julieta, quem
aceitaria?
Ser a impassível, trancada em sua redoma enquanto tudo acontecia
ao seu redor,
Não seria a atitude mais plausível principalmente no que
tange ao final da história,
Ela conhecia estas e outras, muito bem, faria o que fosse
possível,
Não mais que o suficiente, ele também não lhe cobraria
muito...
Naquela noite, ela percorreu-a insone, com lágrimas a molhar
o travesseiro,
Sentia-se excluída, ao avesso de tudo o que acontecia ao seu
entorno,
Era como se tivesse um revolver engatilhado entre os seus
dedos,
Um passo em falso e atiraria, não queria a chance de errar o
alvo,
O beijo não passou de um roçar de lábios, nada profundo,
Sem direito a carícias, nada muito invasivo, demonstrou
controle,
O preço por buscar o que acreditava não parecera alto
naquele instante,
Tudo em seu caminho parecia encaminha-la para aquele
destino,
As dúvidas que a tiravam dos seus sonhos, estavam a
afaga-las,
Que passo seria o correto para seguir ao destino escolhido?
Decidiu sorver suas esperanças em um trago de cerveja,
Não convidou seus objetivos para entrarem no quarto,
Deixou-os do lado de fora, queria ficar absorta, tranquila,
Não desejava nada que pudesse pressiona-la, não naquela
hora,
Tudo o mais poderia esperar até o amanhecer do dia seguinte,
Essa decisão não duraria muito, teria que escolher...
Decidiu por concordar, meio que a contragosto,
Tudo estava ao avesso, indefinido mesmo,
As pessoas encaminhavam-se todas naquela direção,
Seria a mais acertada parecia lhe direcionar a razão,
Sem sentença de culpa ou de improcedência da ação,
Simplesmente seguir com a coerência da emoção,
Estava prestes a tomar uma atitude importante,
Teria que ser coerente, pensar em um futuro distante,
Se estava a se negar aos seus sonhos, apegar-se-ia aos
objetivos,
Nada seria fácil, mas ela era boa em planejamento,
Se algo saísse dos trilhos ela desistiria na mesma hora,
Se aquilo não era a melhor saída, estava bem próxima disso,
O único detalhe que decidira ignorar e que a pressionava
era...
Ela não sentia que o amava, não como sonhou amar um dia,
Então, namorar tremulava ante a sua segurança,
Fazendo a caminhar com as pernas bambas, incertas,
Ele soube disso, em cada momento, mas manteve-se calado,
Pelo menos pelo tempo que julgou necessário,
Nem tudo na vida baseava-se unicamente no amor,
Fosse dessa forma que casamento resistiria aos anos?
O amor poderia colocar o primeiro pilar,
Porém, ao final a maioria os resumia em amizade,
É como aquele rapaz bonito que chama o olhar,
Mas ao chegar perto é vazio, não tem nada a acrescentar,
Fosse o amor o convite, ela sabia que não havia chegado a
hora certa,
Não o sendo, poderia dar andamento aos seus planos,
Ainda hoje, ela se pega a pensar por que sua relação não deu
certo,
É certo que ter ignorado a ausência do pilar principal,
Tendo colocado um falso no lugar nunca teve influência no
caso,
Mas ela estava certa, havia encontrado um caminho, agora o
seguiria...
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