quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

Uma Cerveja a Mais


Se eu tivesse dado aquele beijo de despedida,

Será que isso realmente faria a diferença?

É certo que meu nível de atenção sofreu uma queda acentuada,

Sempre que ouço seu timbre de voz, o imagino aqui comigo,

Mas, isso não é o bastante para fazer com que eu me arrependa,

Não depois de vê-lo transitar com outra, beijar outros lábios,

 

Reúna todas as suas forças eu disse para mim mesma,

Você conseguirá se sair bem, sussurrei ao meu ouvido

Com um mover lento dos meus próprios lábios - como ele fazia -,

Mas antes que uma lágrima afogasse os meus olhos,

Em algo desastroso feito o ciúme me fazendo soar indesejada,

Movi um sorriso de canto de olho para os meus lábios,

 

É certo que aquela situação não se perduraria no tempo,

Não como nossos momentos, coisa semelhante acontecera outrora,

Diferente de como partira ele retornou para os meus braços,

Com um muxoxo de desgosto e mil eu te amo na ponta da língua,

Dialogo preparado para conquistas baratas de bares de esquina,

Na época eu gostara um pouco, posso admitir isso, porém, agora...

 

A minha expressão ao vê-lo me representou ser negativa,

O homem que eu havia deixado lá atrás, havia mudado,

Me parecera que seus lábios já não continham o mesmo sabor,

Mesmo seus braços estavam emagrecidos, semblante tristonho,

Olhar vago, acho que eu nem caberia mais em seu colo,

 

O fato de eu ter engordado um pouco a silhueta,

Não produzia influencia alguma nisso,

Mas ainda assim, algo falava alto em mim,

Claro que o fato de ele ser alto em estatura produzia influencia,

Apenas isso, seus cabelos fartos e negros, lábios bonitos...

 

Mas suas mãos me soavam imprecisas, tremulas ante alguma falta,

Não possuíam a destreza que eu reconheceria em qualquer lugar,

Sentia que elas tateavam no escuro sem conseguir encontrar nada,

Como se ele estivesse fraco, distante do que fora quando me apaixonei,

Aquela precisão medida que ele possuía estava longe dele agora,

Tivesse uma arma engatilhada em mãos atiraria contra si mesmo,

 

Aqueles olhos vagos, já não sabiam reconhecer um alvo mesmo a curta distância,

Isso mexia comigo, isso me deixava sôfrega, será que ele percebia?

Será que decidira frequentar o mesmo lugar que eu para me atormentar?

Ainda abraçava outra, brincava com tudo que já havia existido entre nós,

Percorri a distância que me separava do bar, comprei uma cerveja barata,

Arranquei a tampa com os dentes, só para sentir o cravejar na ponta da língua,

 

Virei a tampa dentro da minha boca, desejei amassa-la com uma mordida,

Cuspi ela fora cuidando aonde cairia, deixei ela ali no chão, sem dizer nada,

Que ficasse onde estava, o que importaria? Sorvi o líquido em goles medidos,

Me demorei o suficiente para senti-la quente entre os meus dedos,

Não desejava tanto saborear seu gosto, mas aprovava o efeito em meus lábios,

A forma como tremulava meus pensamentos, o jeito como mexia comigo,

 

Ele estava abraçado a ela na minha frente, sorri disso, a sensação era boa,

Beijaram-se algumas vezes, eu continuei onde estava liquidada,

Fazia frio lá fora, uma brisa passava através da porta e me tocava,

Meus lábios ficaram gélidos, encerrei a garrafa, pedi outra cerveja,

 Já na metade da segunda, percebi que a noite prometia muita coisa,

Esperava que o resultado fosse bom quando eu acordasse no outro dia,

 

Enquanto as horas não passassem: beberia, de garrafa em garrafa,

Embora meu estado aparente de sobridez contradissesse a minha fala,

Eu não me sustentava em pé como antes ante o exame de olhos atentos,

Muitas relações poderiam acontecer ao meu redor que serviriam

Para ilustrar em bom estado a dor de cabeça em que eu acordaria,

Mas tudo ficava a esmo, sem emoção, dizem que um casal deve ficar junto,

 

Mas esquecem de dizer quando o ponto final passará a surtir efeito,

Quando a boca em que beijamos já perdeu nosso gosto ao tocar outra,

Quando as mãos que tocaram nosso corpo já estão seguras para tocar outro,

Quando braços que já nos refugiaram em abraços, podem considerar-se livres,

Mordi os lábios, já não os sentia muito, embora não tenhamos trocado alianças,

Talvez, eu o tivesse amado, como saberia se partiu tão depressa para outra?

 

Eu tentava buscar uma desculpa que me tirasse daquele lugar,

Qualquer coisa para me agarrar e que me levasse longe de tudo,

Com um cair de braços, toquei sem jeito o bolso do meu calção,

Encontrei as chaves do carro, eu poderia ir embora a qualquer hora,

Olhei para o líquido da cerveja, ainda não havia acabado,

E o gosto estava muito bom para jogar fora, movi uma das pernas,

 

Me vi tremula, parece que a cerveja reagiu rápido em meu organismo,

Nada pior que isso, teria que encarar os beijinhos sem poder fazer nada,

A distância era segura: que aproveitassem, eu me sentia bem assim mesmo,

É claro que minha roupa não ajudava muito, não valorizava meus pontos fortes,

A maquiagem já estava borrada, eu havia dançado e ela deslizou por meu rosto,

Ao menos poderia contar com ela para me dar cobertura para aquele, ciúmes?

 

Havia em meu rosto a recompensa por pensar tanto em nós,

Maquiagem escorrida, lágrimas escondidas em algum lugar,

Precisava embriagar um pouco a alma, ela sentia-se descompassada,

Deixava incerto meus passos, como poderia me questionar dessa forma?

Se eu agi, agi; se perdi, perdi; agora ela decidia me contradizer,

Decidi beber mais uma, precisaria de forças para encarar o dia que amanhecia,

 

Haviam tantos lugares para ter acesso de ciúmes, precisava ser na frente dele?

Decidi afastar de mim esses pensamentos, o beijo já havia iniciado,

E cá entre nós, minha alma e eu: não parava nunca, troquei a cerveja por refrigerante,

Olhei para outro rapaz, fui dançar um pouco, contradizer minha alma desiludida.

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