Se eu tivesse dado aquele beijo de despedida,
Será que isso realmente faria a diferença?
É certo que meu nível de atenção sofreu uma queda acentuada,
Sempre que ouço seu timbre de voz, o imagino aqui comigo,
Mas, isso não é o bastante para fazer com que eu me
arrependa,
Não depois de vê-lo transitar com outra, beijar outros
lábios,
Reúna todas as suas forças eu disse para mim mesma,
Você conseguirá se sair bem, sussurrei ao meu ouvido
Com um mover lento dos meus próprios lábios - como ele fazia
-,
Mas antes que uma lágrima afogasse os meus olhos,
Em algo desastroso feito o ciúme me fazendo soar indesejada,
Movi um sorriso de canto de olho para os meus lábios,
É certo que aquela situação não se perduraria no tempo,
Não como nossos momentos, coisa semelhante acontecera
outrora,
Diferente de como partira ele retornou para os meus braços,
Com um muxoxo de desgosto e mil eu te amo na ponta da
língua,
Dialogo preparado para conquistas baratas de bares de
esquina,
Na época eu gostara um pouco, posso admitir isso, porém,
agora...
A minha expressão ao vê-lo me representou ser negativa,
O homem que eu havia deixado lá atrás, havia mudado,
Me parecera que seus lábios já não continham o mesmo sabor,
Mesmo seus braços estavam emagrecidos, semblante tristonho,
Olhar vago, acho que eu nem caberia mais em seu colo,
O fato de eu ter engordado um pouco a silhueta,
Não produzia influencia alguma nisso,
Mas ainda assim, algo falava alto em mim,
Claro que o fato de ele ser alto em estatura produzia
influencia,
Apenas isso, seus cabelos fartos e negros, lábios bonitos...
Mas suas mãos me soavam imprecisas, tremulas ante alguma
falta,
Não possuíam a destreza que eu reconheceria em qualquer
lugar,
Sentia que elas tateavam no escuro sem conseguir encontrar
nada,
Como se ele estivesse fraco, distante do que fora quando me
apaixonei,
Aquela precisão medida que ele possuía estava longe dele
agora,
Tivesse uma arma engatilhada em mãos atiraria contra si
mesmo,
Aqueles olhos vagos, já não sabiam reconhecer um alvo mesmo
a curta distância,
Isso mexia comigo, isso me deixava sôfrega, será que ele
percebia?
Será que decidira frequentar o mesmo lugar que eu para me
atormentar?
Ainda abraçava outra, brincava com tudo que já havia
existido entre nós,
Percorri a distância que me separava do bar, comprei uma
cerveja barata,
Arranquei a tampa com os dentes, só para sentir o cravejar
na ponta da língua,
Virei a tampa dentro da minha boca, desejei amassa-la com
uma mordida,
Cuspi ela fora cuidando aonde cairia, deixei ela ali no
chão, sem dizer nada,
Que ficasse onde estava, o que importaria? Sorvi o líquido
em goles medidos,
Me demorei o suficiente para senti-la quente entre os meus
dedos,
Não desejava tanto saborear seu gosto, mas aprovava o efeito
em meus lábios,
A forma como tremulava meus pensamentos, o jeito como mexia
comigo,
Ele estava abraçado a ela na minha frente, sorri disso, a
sensação era boa,
Beijaram-se algumas vezes, eu continuei onde estava
liquidada,
Fazia frio lá fora, uma brisa passava através da porta e me
tocava,
Meus lábios ficaram gélidos, encerrei a garrafa, pedi outra
cerveja,
Já na metade da
segunda, percebi que a noite prometia muita coisa,
Esperava que o resultado fosse bom quando eu acordasse no
outro dia,
Enquanto as horas não passassem: beberia, de garrafa em
garrafa,
Embora meu estado aparente de sobridez contradissesse a
minha fala,
Eu não me sustentava em pé como antes ante o exame de olhos
atentos,
Muitas relações poderiam acontecer ao meu redor que
serviriam
Para ilustrar em bom estado a dor de cabeça em que eu acordaria,
Mas tudo ficava a esmo, sem emoção, dizem que um casal deve
ficar junto,
Mas esquecem de dizer quando o ponto final passará a surtir
efeito,
Quando a boca em que beijamos já perdeu nosso gosto ao tocar
outra,
Quando as mãos que tocaram nosso corpo já estão seguras para
tocar outro,
Quando braços que já nos refugiaram em abraços, podem
considerar-se livres,
Mordi os lábios, já não os sentia muito, embora não tenhamos
trocado alianças,
Talvez, eu o tivesse amado, como saberia se partiu tão
depressa para outra?
Eu tentava buscar uma desculpa que me tirasse daquele lugar,
Qualquer coisa para me agarrar e que me levasse longe de
tudo,
Com um cair de braços, toquei sem jeito o bolso do meu calção,
Encontrei as chaves do carro, eu poderia ir embora a
qualquer hora,
Olhei para o líquido da cerveja, ainda não havia acabado,
E o gosto estava muito bom para jogar fora, movi uma das
pernas,
Me vi tremula, parece que a cerveja reagiu rápido em meu
organismo,
Nada pior que isso, teria que encarar os beijinhos sem poder
fazer nada,
A distância era segura: que aproveitassem, eu me sentia bem
assim mesmo,
É claro que minha roupa não ajudava muito, não valorizava
meus pontos fortes,
A maquiagem já estava borrada, eu havia dançado e ela
deslizou por meu rosto,
Ao menos poderia contar com ela para me dar cobertura para
aquele, ciúmes?
Havia em meu rosto a recompensa por pensar tanto em nós,
Maquiagem escorrida, lágrimas escondidas em algum lugar,
Precisava embriagar um pouco a alma, ela sentia-se
descompassada,
Deixava incerto meus passos, como poderia me questionar
dessa forma?
Se eu agi, agi; se perdi, perdi; agora ela decidia me
contradizer,
Decidi beber mais uma, precisaria de forças para encarar o
dia que amanhecia,
Haviam tantos lugares para ter acesso de ciúmes, precisava
ser na frente dele?
Decidi afastar de mim esses pensamentos, o beijo já havia
iniciado,
E cá entre nós, minha alma e eu: não parava nunca, troquei a
cerveja por refrigerante,
Olhei para outro rapaz, fui dançar um pouco, contradizer minha alma desiludida.
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