Tinha muito medo de demonstrar o que eu sentia e chocar,
Eu o amava em demasia, mesmo ante a sua ausência,
Mesmo sabendo que, talvez, nunca mais iria vê-lo,
Nunca mais tocá-lo, ou quem sabe ouvir o som da sua voz,
Mas certamente, não o esqueceria nem com mil vidas,
Nem mesmo se já houvesse outra em meu lugar,
O lugar que fiquei por pouco tempo, mas que fora o bastante,
Para mantê-lo seguro em meu peito, para todo o sempre,
Talvez, o segredo que eu venha a confidenciar cause mudanças
significativas,
Ao contrário da minha opinião, pois meu coração ressoa:
Ele já sabia, e ainda assim se fora embora sem voltar-se,
Sem tirar satisfação de como eu estaria, de como me sustentaria,
O êxito de amar alguém é não ter medida para o que se sente,
Mas, eu tive uma, a qual manterei comigo por toda a vida,
Recordo de o solo estar quente em razão do sol que se
ausentava,
A tardinha se despedia e nós riamos sem parar, deslumbrados,
Imaginávamos se as nuvens permitiriam as estrelas brilharem,
Se a lua renasceria serena, com aquele seu teor enamorado,
Sem perceber, deitados naquele solo arenoso, demos as mãos,
Entrelaçamos os dedos de forma apertada, como uma jura de
algo,
Algo que não desejamos confidenciar, mas que nos manteria
juntos,
Por uma noite ao menos, eu imaginava em meu coração,
Mas em minha alma eu ouvia o para sempre através dos seus
olhos,
Embora, eles não estivessem fechados, entoava o som de um
pedido,
Eu não me recusaria, nem ele, a noite caía a nossa frente,
Mas o céu se recusava a isso, se mantinha inerte,
Era como se nada estivesse acontecendo, corriqueiro, nada
além,
A maneira como ele se manteve impassível a tudo, confesso,
Nunca compreendi, eu estava imóvel, ele movia os dedos,
Um afago singelo sobre minha mão, eu sorria de modo
significativo,
Estar com alguém ao seu lado, poderia ser libertador o suficiente,
Eu havia lido sobre isso em muitos textos diferentes,
A liberdade de poder amar me parecera crucial, desejei-o,
Indiferente do amanhã, sem ter vistas para os resultados,
Os interesses congênitos as vezes falam alto demais para ser
calados,
Mesmo quando as vozes se calam a contemplar o infinito,
É difícil defender o posicionamento oblíquo, aquele sem
perspectivas,
Que busca viver o momento, como se bastassem as promessas,
Aquele eu te amo ressoado entre um acariciar e outro,
No olhar desinteressado que parece nos desejar tanto,
Que não se possa resistir, que não se queira mais que estar
perto,
Eu sabia que poderia me apaixonar de verdade e amá-lo,
O bastante para pensar nele por muito tempo, todavia,
Naquela época, não imaginava que amaria dessa forma,
Que nunca esqueceria, que lembraria dele em cada vírgula,
Que mesmo tendo colocado um ponto final, não o via,
A proximidade dele me deixara intensa a ponto de querer ser
sua,
Sem justificativas, viver aquilo que sentia, provar sua
boca,
O amanhã não me deixava inquieta, nem a ausência de
palavras,
À tardinha caiu inofensiva, não disse adeus nem nada, apenas
partira,
Com ela o sol, pareciam estar de mãos dadas, as estrelas
sorriam,
Surgiam de uma a uma, como se estivessem a beijar nossas
juras,
Aquelas que não dizíamos, embora estivéssemos a
contemplá-las,
Antes que víssemos se a lua brilharia ou não, senti sua carícia,
Agora mais invasiva, soltara a minha mão e subia por meu
braço,
Afagava meu rosto, colocava-se ao lado dos meus lábios,
Com o polegar pareciam abri-lo, eu respondia com um arfar,
E um suspiro incontido, ele levantara do solo quente e
febril,
Beijara minha boca, com cautela e desejo, a noite caíra por
completo,
Apesar de, não ter exato sentido sobre o fato, de olhos
abertos,
Só conseguia fixar nele, no sentimento que me consumia por
inteira,
Fechei os olhos sem perceber, tudo já havia sumido do meu
redor,
Podia sentir os olhos dele em mim, meu corpo se movia eu o
procurava,
Sentia ondas de desejo me tomarem, não tinha controle sobre
meus afagos,
Puxei-o com força sobre mim, intensificamos as carícias,
Algo nos roubava o controle e as horas se perdiam distantes,
Futuro duvidoso, que ao sabor do seu beijo valia cada hora
perdida,
Nos encontramos um no outro, isso me bastaria para sempre,
Era como se o amor que acabava de acontecer ecoasse na alma,
Não quedamos a razão, somente respondíamos em intensidade,
O medo, as dúvidas, tudo soava estúpido demais para ser
ouvido,
Em nossas almas, nada além das nossas juras silenciadas ao
peito,
Feliz, completa até o fundo da minha essência,
De olhos fechados, podia não apenas ver seu rosto mas todo o
resto,
Era como se o seu corpo estivesse sendo desenhado de dentro
para fora,
Eu o sentia responder aos meus afagos e isso me fazia única,
Aquela expressão distante que ameaçava leva-lo embora,
Não seria o bastante para apagar cada segundo do amor que
vivemos,
Talvez, eu imaginasse que nos separaríamos, mas não reagi de
acordo,
Minha mão não se comportava, diante dos seus afagos me via
ruir em seus dedos,
Folheava as páginas de um jornal, alguns meses depois de
tudo,
Já pensando em ligar para ele, contar-lhe minhas notícias,
Virei a página, percebi então que havia lido a descrição da
morte de Paulo,
Havia uma foto, ele estava dentro de um carro esmagado, tudo acabara.
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