O interesse de uma pessoa não precisa prejudicar o de outra,
Naquela noite, eu percebera que algo havia mudado em mim,
E este algo me fazia ver as coisas sob outro prisma,
É difícil defender um posicionamento quando se está sozinha,
Eu estava em pé em frente ao público, mas prometi: não
desistiria,
Tinha um texto em mãos, resultado de muitas horas de estudo,
Não deixaria todo o meu trabalho resultar em nada por medo,
As pessoas teriam direito a opinar e eu a responder em
conformidade,
O que estava fora dos planos, fora aquele homem sentado à
frente,
Ele me olhava em expectativa, parecia gostar e apoiar o que
ouvia,
Nenhuma suposição precisa ser feita sobre o que nos motiva
A direcionar-nos a alguém em especial, principalmente nestes
casos,
Em que o público no geral é o alvo, já que a questão embasa
a totalidade,
O olhar dele não passaria despercebido nem mesmo nas
sombras,
Nem mesmo se ele virasse de costas ou buscasse ofuscar-se,
Era muito bonito, no entanto, contemplava-me em posição
rígida,
Com aquele teor de inteligência de onde se sabe que vem as
encruzilhadas,
Em que seguir um caminho a outro pode terminar em horas de
conversas,
Discussões sem hora para terminar, e isso, tinha um teor de
apropriado,
De tudo o que eu dissera, não discordava de uma única
palavra,
Seria fácil discorrer uma conversa por um longo período de
tempo,
Estando em dúvida entre dois posicionamentos ambos poderiam
ser exatos,
Olhava ao redor enquanto discorria as minhas teses e
posicionava-me entre elas,
Não que fosse o tipo de pessoa que gosta de dar a palavra
final,
Mas, queria encontrar propriedade em que alicerçar o que eu dizia,
Perder na primeira oportunidade seria no mínimo ingenuidade
E desleixo com relação as longas horas de analises e estudos
de caso,
Por mais que tentasse disfarçar ele sempre se tornava o
alvo,
Algo nele pedia para que eu me aproximasse e algo em mim
queria isso,
Eu sentia um teor de importância nele mais do que em qualquer
outro,
Queria ouvi-lo falar, entender o que ele teria a dizer sobre
meu trabalho,
Juntei os papeis em ambas as mãos e coloquei-os de lado,
Olhei-o de forma direta, os estudos ficaram para segundo
plano,
Desejara me aproximar, não em razão do trabalho, tinha outro
propósito,
Continuara a minha fala, mas sem me ater ao que estava
escrito,
Não conseguia ignorá-lo, nem por um segundo, o gosto era
bom,
O gosto de saber que entre tantas pessoas alcançara a sua
atenção,
Aquele momento era apenas meu, e eu entregava-o a ele,
Sem receio algum, apenas seguia a direção da minha emoção,
Sem saber quem ele era, com uma mínima ideia sobre o que
fazia,
Com certeza, algo relacionado aos meus estudos, algo em minha
área,
Ficara pensando em quanto tempo seria necessário para
alcançar
Um beijo dos lábios que haviam se tornado alvo do meu
desejo,
Isso não ocorria com frequência e eu não estava pronta para
reagir,
Mas, enquanto eu falava e ele sorria em expectativa, eu
pegava gosto,
Me sentia respeitada, imaginava que talvez precisasse de
algum tempo,
O convidaria para tomar um café, discutir um livro, mudar o
teor,
Queria converter o tom do trabalho em algo mais casual e
satisfatório,
Na verdade, não queria conversar por muitas horas, queria
resultados,
Beijá-lo, aproveitar cada minuto em seu corpo, cada abraço
apertado,
Nós parecíamos compatíveis em grandes medidas, sem conflitos
ou projeções,
Tudo dependeria de como formularia as suas questões,
Que abordagem utilizaria, porque eu lhe concederia tempo
para opinar,
Então, o preparei, no tempo em que analisava as suas
reações,
Em meu carro havia um banco vazio, em minhas horas tempo o
bastante,
Tentei me afastar, me direcionar para outro âmbito, tudo
estava evidente,
Ele percebera e soube chamar minha atenção, olhando as
horas, ocupado,
Me parecera que se não houvesse minha interação ele sairia
daquele local,
Ele parecia ser um homem decidido, daqueles que não gosta de
perder tempo,
Lembrei que havia reservado um jantar, talvez, fosse bom ter
companhia,
Minha voz ficava embargada, ela parecia agoniada, eu me
esforçava,
Mas não sei se as coisas soavam tão boas quanto olhá-lo,
Eu ouvi um pigarro, ele olhava em tom altivo, me
impulsionava,
Minhas pálpebras tremeram, e eu me apaixonava aos poucos,
O texto mudara o teor, vinham palavras diferentes a boca,
Embebidas em sentimentos, acho que o pedia em namoro,
Recordo de ter sorrido e ele também da mesma maneira,
Fosse um pedido que estivesse sendo feito, acho que
aceitara,
No mesmo instante em que o fiz, recordo do consentimento,
Não recordo o que fora que pedi, mas sabia que era amor,
Desde que me coloquei naquele palco, desde que olhei-o,
Mesmo antes, de costas, senti um olhar sobre mim, fechei os
olhos,
Os abri mas deixei-os baixo, ao levantá-los, não consegui
desviar,
Acho que o destino programara o nosso encontro,
Não sei se o teria avistado em outro lugar, tudo fora tão
casual,
Quanto o apaixonar instantâneo que surgira entre nós,
O trabalho em que me esforçara tanto para finalizar,
Agora produzia resultados muito mais peculiares,
Direcionavam minha vida a um abraço, a segurança de ter
alguém,
Mesmo o Eu Te Amo nunca tendo saído dos meus lábios,
Sussurrei olhando-o nos olhos, Eu Te Amo e gostaria que
fosse para sempre,
Então, baixei os olhos aos papeis, ajeitei-os com duas batidas
na bancada,
Encarei-o, quando o vi em pé, me estendendo a mão em
respectiva,
Fora dessa forma, sem aguardar nem ao menos ouvir sua fala.
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