Eu o amava por uma vida inteira, soube isso antes de
beijá-lo,
E muito mais depois disso, em cada lembrança me certificava
Que tudo que vivemos não ficaria esquecido em outros tempos,
Embora, as horas nos distanciassem, em minha boca eu o
sentia,
Em minha memória o trazia para perto, com um sorriso de
soslaio,
Seguido por qualquer gesto irrisório que viesse a facilitar
o desembaraço
De sorrir por lembra-lo em qualquer ponto que estivesse,
Feito uma boba sorrir por simplesmente recordar sua imagem,
O amor pode incentivar e até mesmo impor que se recorde,
Só quem ama sabe como isso acontece e o porquê de acontecer,
Eu necessitava, por vezes, adquirir um pouco mais de
precisão,
Recordar nossos instantes não bastava para acalentar a
paixão,
Considerações sobre a eficiência de trazê-lo em meu
pensamento
Suplementam o argumento em favor de não desejar nenhum
outro,
Quando se defende que beijar uma vez basta para amar para
sempre,
Não precisa se agarrar em muitas desculpas para verificar
essa verdade,
Tivesse ele me fornecido bons argumentos para esquecê-lo,
Talvez, eu pudesse me permitir pensar em outro, mas mesmo
isso,
Não seria intenso o suficiente para negar tudo que vivemos,
Apagar nosso passado como se fosse um desenho inacabado,
Um sonho que caíra ao assoalho em fragmentos dilacerados,
De forma que mais ferisse que fizesse bem, não fora assim,
Mesmo não tendo mais conversado, não nos negamos,
Sem desculpas ou justificativas, apenas não nos vimos mais,
O gosto do seu beijo em minha boca era crucial todos os
dias,
Me fazia desenvolver meus passos sem desviar a nossa rota,
O caminho em que cruzamos juntos estava no mesmo lugar,
O amor que nutri por ele, também, não mudara em nada,
Existem contra-argumentos a serem examinados nesse contexto,
Certa manhã nublada, em que eu trafegava de ônibus eu o vi
na rua,
Essas duas questões – sua distância em minha vida e as
lembranças-,
Entraram em descenso, com atenção merecida quis revê-las,
Mas em outra hora, naquele instante revê-lo era tudo que eu
precisava,
Sorri a contragosto, o que queria na verdade era correr para
os seus braços,
Parar naquele mesmo ponto, gritar que o amava e que não
havia esquecido,
Mas, agi diferente disso, como a janela estava embaçada
Em razão da neblina, permiti que meu hálito quente
desfragmentasse a visão,
Tornando a janela nublada para que dificultasse de ele me
avistar,
Escrevi Eu Te Amo com a ponta do dedo indicador, o mesmo que
em paixão
Usei para afagá-lo, a mesma mão que ele pegou em nossa
primeira vista,
A que prometera acaricia-lo em cada dia que tivesse vida,
Abaixei-me, vez que o ônibus fez um solavanco fazendo minha
mão bater na janela,
Por sorte não apagara a frase em que declarei minha afeição,
No entanto, deixara a marca da minha mão fechada em punho ao
lado dela,
Como se no furor de terna emoção, eu não desejasse ferir
nosso final,
Mas, deixar minha digital para que ele reconhecesse quem o
amava,
A marca ficara de lado, formando um ponto de exclamação,
Mesmo ante a ideia de rejeição se formando em meu coração,
Tudo em mim ainda dizia que o amava, cada traço, cada forma,
Agora o sol decidira se abrir, como se sorrisse desse amor
tolo,
A neblina fora ternamente se apagando, restando a minha
promessa,
A que exclamava por uma chance a mais, recusava-se a pôr um
fim,
A frase tomava proporções maiores todos podiam contemplá-la,
Ficara marcada pela ponta dos meus dedos, os que o esperavam
ainda,
Não permiti que o meu rosto fosse visto, talvez ele
reconhecesse minha letra,
Então, se recordaria de nós, e iria me procurar por
retribuir o amor,
Estivessem guardados em sua alma os nossos carinhos, com
certeza,
A digital ele reconheceria, a frase talvez, estivesse
cansado de ouvir,
Mas o sentimento, era puro de forma que não haveria nenhum
outro,
Se sentisse ao menos um pouco do que eu sinto, não
refletiria muito,
Reconhecer-me-ia, cheguei a vê-lo isso acalentava a alma,
Mas, implorava por novo encontro, eu ainda o amava como em
outrora,
Sem medir as consequências, sem pensar em nada, só o
desejava,
Por mais um dia ou em chance única por uma vida inteira,
Minhas expectativas aumentaram com particular veemência,
Não expressei seu nome, não me identifiquei, mas bastava,
Havia feito o suficiente para que ele repensasse sobre sua
ausência,
Dado o óbvio argumento de que meu amor não mudara em nada,
Pelo contrário, o esperava com a mesma ânsia, a mesma
crença,
A de que seriamos felizes juntos por uma vida inteira,
No entanto, como as pessoas buscam se afastar por vários
motivos,
Ele pode ter se apegado a qualquer um e ter se colocado
distante, só isso,
Nada tão significativo que pudesse destruir nossos sonhos,
Apagar nossos ideais, os sonhos que se quebraram com sua
partida,
Poderiam ser consertados, usaria a mesma mão com a qual
declarei amor,
Antes com afagos agora escrevendo-o, no teor do inverno de agosto,
Tirar a luva me ferira os dedos, então, juntar os sonhos aos
pedaços,
Não faria nada pior que isso, ao contrário, valeria cada
machucado,
Um coração concertado enfrenta qualquer barreira, unido a
outro,
Não restariam fronteiras que pudessem nos separar,
enfrentamos o tempo,
Que haveria de opor-se a nós dois e ser maior que isso?
Estar em seus braços era seguro, eu encontraria calor e
conforto,
O bastante para enfrentar o que fosse preciso, por ele, por
nós,
Não o queria por momentos, segundos de amor não constroem
sonhos,
A substituição parcial dos nossos afagos por lembranças,
Mesmo eu esforçando-me para negar, estava me destruindo,
O que, ainda, não era visto e interpretado como um desincentivo
Tão grande que me fizesse negar nosso passado, ou odiá-lo,
Pelo contrário, sentia orgulho de tudo que havia vivido,
Dos sonhos, mesmo que estivessem dilacerados por meu pranto,
Conforme, as vezes, eu mesma me permitia supor,
Fato que era negado a cada recordar, a cada segundo em que o
via,
O problema da falta de incentivo não estava ausente entre
nós,
Deveria haver uma razão para isso, eu a descobriria em
seguida,
Assim que o ônibus retornasse por aquela rua,
Eu já não estaria mais dentro dele, mas ele reconheceria a minha letra...
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