domingo, 9 de maio de 2021

O Amor; Num Gesto: Flores; Numa Palavra: Sorte

 

Nunca se sabe o que o futuro pode reservar,

O presente deveria ser nosso maior interesse,

Aquele que conquistar o amor e o conservar,

Que faça uma oferenda dentro dos seus instantes,

Pensou ela afável, enquanto comprava flores,

Preparando-se para sofrer a vaidade de amar alguém,

 

A chuva limpou suas lágrimas do seu rosto triste,

Logo que ela pôs o pé fora da floricultura,

Respirou o ar quente que levantava no horizonte,

Desejou não precisar estar ali, sozinha como estava,

A água gelada recuperava o sabor de sua juventude,

Lhe brindava um aspecto de quem sabe o que faz,

 

Ela olhou para as flores, eram feitas uma carícia sobre ela,

Um afago que embora estivesse em suas mãos, não a pertenciam,

Seria destinado a uma outra pessoa, ela apenas desejava

Que ele soubesse retribuir o carinho, que devolvesse em algo bom,

As flores tinham vida curta, diferente dos afagos que receberia,

A chuva soava em desespero, ela esforçava-se para entende-la,

 

Das suas mãos sairiam os afagos que ela desejava para si mesma?

Isso parecia dizer muito para ela, não que ela fosse capaz de entender,

Com um gemido sôfrego recebeu um pingo no olho -  a lágrima negada -,

Aquela que ela nunca quis chorar no meio da rua, a denunciava – insensatez-,

Aquele que pudesse jurar amor, que ao menos fizesse por vontade própria,

Castigo severo deveria cair sobre aqueles que se distanciavam do que diziam,

 

O choro descia por sua garganta em seco, precisava de uma bebida,

Qualquer coisa que amenizasse o efeito sobre a sua alma solitária,

Ouviu-se engolindo as palavras, a chuva as tornava macias,

Ou era ela que de tão vazia, já se satisfazia por qualquer coisa?

O buquê tomava seus braços como um abraço, inundava-a,

Se fazia pequena por traz do gesto, abrigava a si mesma nas flores,

 

Por certo ao entrega-lo, elas seriam substituídas, por um bom tempo,

Pelo abraço que ela necessitava e esperava ficar restabelecida nele,

Por tempo o bastante a ser chamada de amor ou algo bonito,

Em que pudesse acreditar e do qual não pudesse se soltar nunca,

Quando o que mais queria era soar decidida, ter autoridade sobre seus atos,

Se via boquiaberta engolindo a chuva para esconder o pranto,

 

Ouvia-se engrolando-se entre as palavras, "já chega por ora", pensava,

A roupa encharcou-se, o tecido branco juntou-se aos seus contornos,

Agora se via de alma nua e um corpo esbelto a mostra – absorta -,

Olhos a acompanhavam, mas ela já conhecia a técnica: ignorar a todos,

Limpou os lábios com a língua, ignorou os assobios sedentos por ela,

Voltou-se para o outro lado, como se a chuva sussurrasse em seus ouvidos,

 

Um sorriso brilhou em seu rosto, gotas de água pairavam sobre sua boca,

Entrou no carro, repousou as flores – suas companheiras, agora -,

A parceria que ela precisava para completar sua promessa apaixonada,

Seguiu o roteiro, vencido o trajeto ao som de rock, saiu do carro,

Calçou o salto alto, dirigiu-se até ele, antes de entrar, abriu três botões da blusa,

Seios fartos e redondos abriam o caminho, olhos apaixonados a buscavam,

 

Visita inesperada e bem-vinda, uma boca se abria para dizer algo,

Algo que não era pronunciado, olhos transeuntes observavam com sorrisos,

Ela mordeu o lado do lábio inferior molhado, sentiu a água quente dele,

Colocou um dedo de sobreaviso sobre a boca, sugeriu silêncio,

Um arfar no peito dele concordava, um piscar de olhos descria da imagem,

Um pedido de casamento pulsava em seu peito – pulsante e taciturno -,

 

"Não diga nada, eu sei que não me esperava, mas o dia estava propício,

Acordei com seu gosto, e sua lembrança parecia me chamar para perto,

Peguei as chaves do carro e dei partida, então, lembrei do seu sorriso,

Bem, não preciso dizer mais nada, precisava de um gesto mais confirmativo..."

Ela emudeceu quando ele começou a vir ao seu encontro, as flores tremiam,

Algumas gotas de chuva percorriam a ambas, flores e ela,

 

Sorrisos congelados tomavam bocas quentes e sedentas por contato,

As mãos dele descreveram uma forma no ar, e, com vida própria,

Suspeita-se que por trás de todo bom-humor há um motivo sinistro,

Mas, naquele instante poderia cair o mundo e não haveria nada melhor,

Nada que estragasse aquele instante ou que ferisse o que sentia por ela,

A felicidade sempre se projetou em algum momento do seu futuro,

 

E esse instante chegou na hora certa, através da pessoa certa, como deveria ser,

Eu te amo ele se ouviu mover os lábios como se quisesse falar e não pudesse,

Então repetiu, talvez por mil vezes, até que próximo a ela ganhou força suficiente,

Tornou a declarar: "doçura, eu te amo, nunca saberia dizer o quanto você é importante,

Você me faz sentir melhor, me faz sentir orgulho do que sou, você me faz bem",

As frases soavam jogadas por sua alma, como se cada flor merecesse uma diferente,

 

Como se ela inteira, merecesse todas as palavras bonitas, assim como ele recebia agora,

Sem ouvir muito, pois tudo que ele precisava estava em pé na sua frente,

Dizia que o amava e isso era o bastante para durar por toda a sua vida,

A razão é óbvia: tudo que viveu no passado era recompensado por sua mulher,

Cada momento de dor, ganhava outra cor e outro sentimento mais intenso,

Substituía seus passos em falso, por algo melhor do que em qualquer sonho seu,

 

O que mais o presente poderia oferecer a alguém?

A partir deste instante, nada mais seria como antes... felicidade radiante!

Olhava para a mulher a sua frente de outra forma, agora a via como mãe,

A esposa que esperou em cada dia da sua vida, um beijo se fez naquele instante,

Com a mesma intensidade que seria dali para frente, até o sempre,

Ficou entorpecido de felicidade, e pela primeira vez conheceu o significado da sorte!

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