Deus abençoe o suco de coco no frescor do outono,
Ela levantou um sorriso enquanto levava o copo aos lábios,
Você aprecia meus brincos novos? Ela indaga descontraída,
Um elogio eleva o ânimo, mais ainda quando parte de quem se
gosta,
Ela trazia as folhas para perto do rosto, indecisa sobre o
teor,
Há quem prefira o remorso do que a sinceridade de confessar
sua dor,
Provavelmente, naquele papel reciclado estivesse o resumo da sua vida,
Pedindo-lhe com uma singela assinatura que desse fim aos anos
de casada,
Jogando ao acaso, como se cada sonho não significasse mais
nada,
O nome que ele pediu para abdicar outrora agora fazia a
diferença,
Daria um passo para trás no tempo, porém não nos anos que
passaram,
Obteria sua vida de solteira de volta mas com o status de
divorciada,
Não houve resposta sobre a sua pergunta por ela estar
sozinha,
Sem ninguém para desabafar além de si mesma,
Ainda assim ela tagarelava, como se tudo o mais caísse, sem
importância,
Em um gesto de descuido, amassou o documento,
Ele resolveu dar um fim as promessas desfeitas em que a
prendera,
Demorara um ano preparando a data da cerimônia,
E pedia, no mesmo dia, 06 de maio para dar um fim ao que
viveram,
Nem mesmo o vestido de noiva ela havia jogado fora,
Pergunta-se, quem tem o dom de decidir um futuro,
O amor que jurara o para sempre, ou uma briga de meses?
A tudo o amor é atento, com o mesmo zelo do início ao fim do
beijo,
Por que a pressa ou a demora em procurar por ela?
Aquele homem que amara já se foi, ou estava arrumando uma
desculpa?
Desabafar, talvez fosse uma ideia boa, podia telefonar para
alguém,
Confidenciar o que sentia, correr o risco de ser traída,
Ela aconchegou-se na cadeira de balanço, sorveu o consolo em
um gole,
O beijo que merecia estava distante agora, fugira do seu
contato,
Repetir promessas não faz tanto bem, acaba aprisionando ao
passado,
De forma insensata, ela se indagava: quem mudou a direção do
amor?
O amor lhe virava as costas, havia nisso uma dura prova?
Tentou levantar-se num salto, perdeu a direção dos seus modos,
Derrubou o copo sobre o celular, perdeu a oportunidade de
companhia,
De tudo que podia pensar, a culpa era a que menos teria
efeito,
Já havia desperdiçado seu tempo o suficiente com essa
história,
Levantou o rosto para o horizonte, as estrelas lhe dariam a
direção,
Seu rosto que ganhara uma expressão descontente, estava sem
emoção,
Todavia, seu punho se contraia em um sentimento que poderia
definir-se: ódio,
Sua voz, se tivesse com quem conversar teria o tom estridente
do rancor,
Tornou a encolher os ombros sob um sol amarelo que parecia
se por,
Auto piedade não cura ou conforta quem você tenha magoado,
Esteja onde estiver o seu amor, ele saberá direcioná-la,
Como sempre fez antes de acreditar estar apaixonada,
E se entregar a quem agora, não lhe dava sombra de vida,
Ela agarrou-se sedenta a aquele tênue fio de esperança,
Enquanto pedia outro suco de acerola com manga e menta,
Qual foi o motivo que desencadeou em tudo isso, ela não
sabia,
Parecia estar rodando em uma rua sem saída sempre em
equívoco,
Ela recorda de ter sido xingada e ter devolvido a fúria com
a mesma voz,
Quando se pegou estacionada para refletir sobre que direção
trafegar,
Se viu em uma rua sem saída, um beco que não levava para
nenhum lugar,
Mas, dessa vez o homem que a protegia a assustava,
Ela empreitava em fuga, mas não tinha para onde ir ou ficar,
O mais difícil nisso tudo, era estabelecer um diálogo com
aquele,
Com quem você repete a anos a mesma coisa e ele não ouve ou
entende,
O ataque precisava ser resolvido ou poderia terminar em
sangue,
Sua vizinha caiu da janela do prédio numa noite escura de
inverno,
Em certa vez, ela errara o pé do freio, noutra o confundiu
com a marcha a ré,
Mas o amor estava atento, a dirigiu para aquele chalé de
outono,
Ela abriu as mãos e suspirou com sua característica
melancolia,
Não sentia dor, embora por dentro estivesse vazia,
O amor perdia a sua utilidade para virar penitência,
Não importava o que sentia, seu sentimento volta-se contra
ela,
Inquieta ela sacara uma arma na bolsa, a pôs sobre a sua
perna,
Uma mulher abandonada ao acaso, depois de crer em tantas
promessas!
Todavia, a três dias atrás via assinada a sua sentença,
Quando foi buscar as crianças na escola e o pegou com outra,
Agora sua intenção era esquecer o embaraço de ter trocado o
dia de ir busca-las,
Simples e direta: ponto de impacto isolado, só queria dormir
agora,
Os dois meninos se aproximaram dela com um menear de cabeça,
Pareciam não gostar de contemplar a situação em que a mãe
estava,
Pensara em indagar a eles sobre tudo o que vira, mas
rejeitaria as respostas,
Arrependimento, um pedido de desculpas, não: um divórcio
calculado,
Sua cabeça pesava com as lembranças deixavam as ideias
desnorteadas,
Entre tantas juras, ele se perdera no caminho do tempo,
Ela não soube conduzir sua dor, fugira desolada para longe
de tudo,
Pegara as crianças, sussurrava coisas desconexas com beijos
ao ouvido,
Tudo parecia um absurdo erro que condenava ao fracasso a sua
vida,
Ele deixara quedar em caprichos todo o amor que lhe foi
revelado,
Com um suspiro ela não esperou o suco, pôs a arma na bolsa,
Pegou as crianças e foi caminhar na água tranquila do
riacho,
Sentara-se na água com elas ao lado, então ouvira uma voz
sonora,
Antes de ter tempo de virar-se, sentiu um projetil lhe ferir
por trás,
Depois disso, ouviu um grito masculino e outra arma ser
disparada,
Antes de ter tempo para qualquer coisa, ouviu um grito
feminino,
Que agoniava a dor de ser perfurada três vezes antes de cair
nas pedras,
Ela reconhecia a voz masculina, era a do seu esposo um tanto
raivoso,
Não pode dizer ou fazer nada até sentir a água penetrar suas
narinas,
E ver as crianças em pânico enquanto tudo escurecia aos seus
olhos.
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