Uma voz que soava a brisa fria do inverno,
Mas que, de alguma forma, suava acolhedora...
Ele soltou um suspiro de prazer intenso,
Ora, mas que astucioso, sorria ainda mais bonito,
Um sorriso sincero nos lábios e no rosto a seriedade,
Havia um quê de mistério que eu gostava nele,
Olhei-o da forma mais discreta que pude,
Eu o desejava e isso se desenhava em minha face,
Que sorte tenho eu em encontrar alguém que me entende,
Eu lhe disse: meu amor, entende porém, não acostume,
Não pretendo ser para sempre da forma que sou agora,
Pelo menos, minha vida, me esforço para não sufocar,
Me refiro ao que sinto, meu amor – e ele me olha em tom
acusador,
Me refiro ainda ao que sou e ao que você refreia,
Ele faz um meneio vigoroso com a cabeça mas cala a voz,
Faço o que posso para que seja você mesmo e isso é bom,
Se houver alguma essência de lavanda, usa-a em minha
dignidade,
Gosto de chamar a atenção ao que me orgulha,
Querido, não te esqueces de quem caminha ao meu lado – você;
Por vezes, penso que não sabes o quanto você envaidece
A mulher que há em mim, ela se apaixona por você sempre,
Porque em cada dia te reconhece mais um pouco e mais o quer,
Há algum erro em achar alguém perfeito?
Querido, te confesso dois temores: amar muito e o de perde-lo,
Já tentou se colocar em pé com a dignidade ferida?
Meu amor, isso não acontece com alguém que tem você,
Você é uma espécie de troféu, quem já teve não quer perder,
Me insinuo um pouco, a voz soa tremula e oscilante
Conforme faço caras e bocas brincando com o sorvete,
O vento ainda sopra contra o sol que arde na pele,
Tento desanuviar o pensamento, e peço um beijo,
Minhas pálpebras se pesam, me vejo divagar em devaneios,
Seu tom continua sincero, olhos certos e boca tremula,
Parece não perceber que sua postura dificulta um pouco,
Eu continuo em silêncio. Vejo que não sei o que faço,
Aperto os dedos uns contra os outros, luto emudecida,
Sou o que ele quer que eu seja mas me vejo mais que isso,
Ou então, não entendo muito o que ele pensa,
Por trás daquela fachada de quem sabe muito bem o que quer,
Ele tenta me fazer imaginar insegurança, eu duvido dela,
Há sempre uma voz ao lado dele da qual eu discordo,
Penso em tudo que fui e fiz, repenso muita coisa,
O sorriso feliz se desfaz como que por encanto,
Me distraio, puxo outro assunto em silêncio, sem dizer nada,
Há sempre algo de belicoso em mim e eu mordo o lábio,
Fossem veneno as minhas palavras o que fariam agora?
Chego mais perto dele, encaro olho a olho,
Meu queixo está ereto, meu semblante altivo, a boca tremula,
Cheiro seu queixo, chego aos seus lábios e me afasto,
Não imagine que não cogitei diversas possibilidades,
Mas havia algo importante por trás, melhor repensar um
pouco,
O gosto dele estava esmorecendo na lembrança,
O nó se desatava na garganta, algo nele o deteve,
O homem que julguei tão forte tinha um ponto fraco e caia,
Não desejei saber mais sobre ele, me afastei um pouco mais,
Olhei para o colo dele, na altura do seu peito,
Havia uma mulher lá, não era eu, joguei o cabelo para o
lado,
E me afastei mais ainda, a ponto de não vê-lo,
Nem sempre vale a pena olhar muito para os lados...
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