quinta-feira, 27 de outubro de 2022

O Atolado

Anjello, sentiu o chão fugir sob seus pés,

A sensação era de afundar-se na lama,

Sentiu-se preso e incapacitado de seguir adiante,

O pior de tudo isso era que a água


Que subia dali para a superfície,

Estava o tomando de si próprio e até da lama,

A questão é que ele não sabia nadar,

E permanecer ali seria uma morte imediata,


Porém, como dissesse no início,

Estava preso, com lama acima das botas,

E a água subindo-lhe aos joelhos,

Era preciso passar,


Houvesse o que fosse precisaria seguir,

Pensou por um segundo

Em tudo que era capaz de dar-lhes forças,

Mas precisava unir forças multiplicadas,


E o beijo que o esperava já parecia pouco,

Voltar atrás era impossível,

Anjeel, como gostava de ser chamado

Estava atolado em sentimentos e infortúnios,


Só que agora o destino lhe pregava uma peça,

Pregando-o, mantendo-o estagnado ao chão enlameado,

Estava extenuado,

Para onde poderia ir?


Como alcançaria força o bastante para fugir?

Sentiu que uma perna avançou,

Mas isso pareceu lhe deixar mais fraco e inconsistente,

A bota ficou presa e o pé escapou,


Apesar do medo firmou o pé no chão –descalço,

Há instantes em que uma bota não ajuda,

Não importa a qualidade ou a marca,

Também, há momentos que conhecer o chão em que se pisa


É mais importante que todo o resto,

Menos que sua vida,

Muito menos que o amor que sentia,

Também, menos que o beijo que proviria,


Porque, um pouco adiante,

Não tanto distante,

Sua amada o esperava

E isso lhe dava força o bastante – acreditava,


O lamaçal tão profundo de início agora começava a desanuviar,

Talvez precisasse pôr os pés no chão,

Despir-se de imprecisão e de suas botas,

Não importaria em nada que estas ficassem para trás,


Perdidas e atoladas até o fim no lodo,

Porém, ao segundo passo o pé se afundou mais,

A moda resvalou e ele caiu de costas,

A água lhe veio a boca e a sujou,


Agora toda a sua força era usada para levantar-se,

Precisava sair dali o quanto antes,

O lodo lhe prendia ao chão escorregadio e pegajoso,

Talvez, em poucos instantes nunca mais a veria de novo,


Elevou-se, caminhou a passos tortuosos,

Mas assim seguem os esperançosos,

Creu nesta hora que muitos ficaram ali,

Sem forças para sair ou resistir,


A água agora lhe batia a cintura,

Uma chuva fina começava a cair,

E não parecia querer parar,

Afundava e afundava-se,


Perdia-se em tudo que pensava e em seu medo,

Poderia ter estado com ela,

Poderia nunca a tê-la deixado,

Mas isso significava expô-la a perigos


E ele preferiu enfrentar isso... sozinho?

Havia uma força que o magnetizava

E não importava o que ela dizia,

Ele sempre se encaminhava a sua amada,


Isso era o bastante e teria que o ser agora,

Este lodo era tão denso e capaz de sugar um homem,

Capaz de leva-lo a sepultura sem dar mais notícias,

Haveriam aqueles que nunca seriam encontrados...


Corpos perdidos e vagantes perante os escombros,

Evidentemente que ele poderia ter suportado o peso dos dois,

Talvez, se ela estivesse ao seu lado fosse mais fácil sair,

Foi então que seu braço quebrou,


Já não conseguia abrir o lodo a sua frente,

Agora teria apenas a força do próprio corpo,

As chances de se salvar eram maiores isoladamente,

Teve que admitir,


Conseguiu avançar,

Agora era o quarto passo,

Não haviam muitos até o final,

Mas o lodo era espeço, pegajoso e mortal,


Carregava nele um moribundo,

Que talvez já fosse um cadáver e nem saberia,

Pensou se não estava lá atrás ainda caído,

E apenas sonhando com tudo isso,


Jurou que não,

Levantou o braço acima da água que estava no peito,

E seguiu, tirou o boné e o encheu da própria água,

Jogou sobre a cabeça e saiu correndo,


Feito um louco,

Quis gritar mas não o fez,

Quis nunca mais passar por ali,

E assim o fez.


 

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