Anjello, sentiu o chão fugir sob seus pés,
A sensação era de afundar-se na lama,
Sentiu-se preso e incapacitado de seguir adiante,
O pior de tudo isso era que a água
Que subia dali para a superfície,
Estava o tomando de si próprio e até da lama,
A questão é que ele não sabia nadar,
E permanecer ali seria uma morte imediata,
Porém, como dissesse no início,
Estava preso, com lama acima das botas,
E a água subindo-lhe aos joelhos,
Era preciso passar,
Houvesse o que fosse precisaria seguir,
Pensou por um segundo
Em tudo que era capaz de dar-lhes forças,
Mas precisava unir forças multiplicadas,
E o beijo que o esperava já parecia pouco,
Voltar atrás era impossível,
Anjeel, como gostava de ser chamado
Estava atolado em sentimentos e infortúnios,
Só que agora o destino lhe pregava uma peça,
Pregando-o, mantendo-o estagnado ao chão enlameado,
Estava extenuado,
Para onde poderia ir?
Como alcançaria força o bastante para fugir?
Sentiu que uma perna avançou,
Mas isso pareceu lhe deixar mais fraco e inconsistente,
A bota ficou presa e o pé escapou,
Apesar do medo firmou o pé no chão –descalço,
Há instantes em que uma bota não ajuda,
Não importa a qualidade ou a marca,
Também, há momentos que conhecer o chão em que se pisa
É mais importante que todo o resto,
Menos que sua vida,
Muito menos que o amor que sentia,
Também, menos que o beijo que proviria,
Porque, um pouco adiante,
Não tanto distante,
Sua amada o esperava
E isso lhe dava força o bastante – acreditava,
O lamaçal tão profundo de início agora começava a
desanuviar,
Talvez precisasse pôr os pés no chão,
Despir-se de imprecisão e de suas botas,
Não importaria em nada que estas ficassem para trás,
Perdidas e atoladas até o fim no lodo,
Porém, ao segundo passo o pé se afundou mais,
A moda resvalou e ele caiu de costas,
A água lhe veio a boca e a sujou,
Agora toda a sua força era usada para levantar-se,
Precisava sair dali o quanto antes,
O lodo lhe prendia ao chão escorregadio e pegajoso,
Talvez, em poucos instantes nunca mais a veria de novo,
Elevou-se, caminhou a passos tortuosos,
Mas assim seguem os esperançosos,
Creu nesta hora que muitos ficaram ali,
Sem forças para sair ou resistir,
A água agora lhe batia a cintura,
Uma chuva fina começava a cair,
E não parecia querer parar,
Afundava e afundava-se,
Perdia-se em tudo que pensava e em seu medo,
Poderia ter estado com ela,
Poderia nunca a tê-la deixado,
Mas isso significava expô-la a perigos
E ele preferiu enfrentar isso... sozinho?
Havia uma força que o magnetizava
E não importava o que ela dizia,
Ele sempre se encaminhava a sua amada,
Isso era o bastante e teria que o ser agora,
Este lodo era tão denso e capaz de sugar um homem,
Capaz de leva-lo a sepultura sem dar mais notícias,
Haveriam aqueles que nunca seriam encontrados...
Corpos perdidos e vagantes perante os escombros,
Evidentemente que ele poderia ter suportado o peso dos dois,
Talvez, se ela estivesse ao seu lado fosse mais fácil sair,
Foi então que seu braço quebrou,
Já não conseguia abrir o lodo a sua frente,
Agora teria apenas a força do próprio corpo,
As chances de se salvar eram maiores isoladamente,
Teve que admitir,
Conseguiu avançar,
Agora era o quarto passo,
Não haviam muitos até o final,
Mas o lodo era espeço, pegajoso e mortal,
Carregava nele um moribundo,
Que talvez já fosse um cadáver e nem saberia,
Pensou se não estava lá atrás ainda caído,
E apenas sonhando com tudo isso,
Jurou que não,
Levantou o braço acima da água que estava no peito,
E seguiu, tirou o boné e o encheu da própria água,
Jogou sobre a cabeça e saiu correndo,
Feito um louco,
Quis gritar mas não o fez,
Quis nunca mais passar por ali,
E assim o fez.
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