sábado, 20 de maio de 2023

Uhum

 


Tornei insensível meu coração,

De todos os rostos,

Não quis guardar emoção,

Nenhuma fotografia ou lembrança – nulo,


Surdos os meus ouvidos

Para toda a declaração,

Cegos meus olhos

Para juras ou aclamação,


Há coração que se converta

Ou possa após isso encontrar cura?

As vezes, confesso me indagar:

Até quando?


Este coração que está em ruínas

Não encontra habitante,

Dentro de mim há um pouco de abandono,

Fora isso – estou bem,


Não digo que os sonhos estejam devastados,

Porém, não me posiciono em alguém,

Não me sinto desolada,

Mas o amar está distante, bem distante,


Ainda que todos vejam meu rosto,

Não me verão,

Se ouçam minhas palavras,

Também não entenderão,


Mesmo que estejam vendo,

Ainda assim não perceberão,

Mesmo que um décimo de mim recorde,

Ou que algo em mim o procure,


Não saberão,

Dos sonhos que sonhei um dia,

Nem todos se arruinarão,

É certo.


Mas como a flor permanece na árvore,

Sempre que esta cai,

A dor também está lancinante,

E minhas lembranças buscam fugir,


Penso que viver ele não foi importante,

Amá-lo nunca foi tão caro assim,

E o amor não deve ferir,

Se é amor então não deve ferir,


Quantos troncos serão derrubados

Para que se possa tocar a flor do alto?

Arrancá-la ao meio,

Despida de seu lugar ela não permanece,


Sabe-se que o perfume – mesmo este,

Vem da árvore.

Assim a santa semente é arrancada,

Do núcleo da flor é extraída,


Atira-se ela a terra,

E espera,

Logo a árvore nasce e a flor retorna,

Mas sabe-se – ela cresce e sobe,


Lá no alto torna-se inatingível?

Não, ela apenas conhece seu lugar e valor,

Há para tudo um tempo e modo...

Há quem entenda de tempo,

Há quem nisto perda todos os seus modos.


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