terça-feira, 16 de abril de 2024

Passado

Com tudo que não suportaria
Ele chegou em minha vida.
Com o ápice que me destruiria
Ele partiu para sempre da minha vida.
Como me sinto?
Péssima.
Pior que isso.
Em péssima companhia.

O problema é que minha
Maior companhia,
Sou eu própria,
E um reflexo desfocado no espelho.
Olho meu corpo,
Dobro e redobro.
Instante em que minha barriga,
Se assemelha a um embrulho.
Mais que angustiante.
Enjoativo.
Perdo a vontade de comer.

Pego antigas fotos
E tento guarda-las em meu peito.
Por Allah odeio meu passado,
E quase todos os segundos que vivemos.
Mais triste que isso,
É esmiuçar as horas 
Até alcançar os segundos.
Tempo entregue em desvalia.

Olho para mim melancólica,
Não sinto saudade de nada,
Apenas ódio,
E minha aparência 
Nunca esteve melhor,
Estou ganhando percalços 
Sobre meus ossos,
Saliências que falam alto
Mas eu não as entendo.

A cabeça pende em negativa,
Sempre reflexiva.
Que há tanto para pensar?
O tanto que há para modificar,
Modificar exige eu me mover.
Já não me sinto preparada.
Os anos retiram as forças,
E também as cartilagens.
Pareço um relógio de ponteiros,
Que movem- se e falham.
Não perco os segundos por nada.
Porém, há problemas entre as horas.

Muitos e muitos anos atrás,
Lá no Norte,
Eu tinha outras ideias.
Agora os passos se perdem,
Vagarosa e trêmula,
Amedrontada é meu nome.
Honra e outras coisas 
Não constroem expectativas.

Eu fui enganada.
Eu fui enganada.
Joguei todos os talheres,
Menti para o tempo que era prata,
Mas não afastei a tempestade,
Tanto não sou relógio 
Quanto o tempo não iria identificar materialidade.
Maldito vento,
Maldito raio,
Bendita chuva que remedia
Meu varal de roupas ensopadas.

Minhas mãos podiam
Suplicar unidas uma a outra
Na altura do peito,
Mas ali eu guardei fotos antigas,
Não quero ve-las,
E sequer recorda-las.
Sigo.
Dou a cara para açoite a chuva.
Nenhuma pedra.
Chuva fria e densa.

Beije-me.
Beije-me.
Eu imploro,
Mãos ao alto.
Não sinto medo
De perder memórias antigas.
Me vejo sozinha.
Oh, querido.
Mentira.
Mentira.
Quero que não só memórias antigas
Mas também o que vier com elas
Queimem.
Queimem.
Em brasa viva.
Odeio o que houve por lá.
Odiosos segundos
Que fragmentam as horas.
Odeio até o relógio que falha.

Chore.
Chore.
Quero te ver sofrer por ela.
Odioso o estúpido
Que me faz ver desta forma.
Morte.
Morte.
Ateiem fogo,
Degenerem.
Façam como puder.
Odeio.
Odeio.
Odiosos segundos
Que sempre me carregam
Devagar e ilusória.
Juntar o bastante 
E jogar por entre as horas.
De pronto.
Deposto.
Odioso desgosto.

O Senhor lá de cima
Toca meus cabelos,
Eu o vejo por meio da chuva,
De lá não distingue-se muita coisa,
Mas eu sou especial.
Especialmente burra
De tanto ódio.
Ódio me consome em loucura.
Lembranças doentias,
Quem me dera acaba-las.
Lembranças não são fotografias.

Procuro um peito livre,
Um desastre onde me recostar,
E construir a partir dele,
Memórias,
Fotos são feitas para reviver,
Direi:” reconstruir minha vida”.
Sugiro um lar para nós,
Lhe devoto obediência,
Recosto-me para ser embalada.
Odeio desfragmentar horas,
Para buscar vestígios,
Conforto,
Abrigo.
Ódio.
Eu lhe devoto fidelidade 
E respeito.
Não irei fazer o quê?
Devolver tudo que me fizer?
Odia-lo como a cada foto.
Destruí-lo para apagar passado?
Que ódio.
Que ódio!

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