domingo, 28 de julho de 2024

Jardim de Inverno

Desafiador.
Às dez horas da noite,
Chamada do namorado.
Seguido de convite.
Ela chega ao bairro do interior
Da cidade onde vive.
Entra num jardim inglês,
A oeste de Dubai,
O jardim de inverno 
Estilo medieval,
Esconde flores lindas,
Que iluminado a meia luz
De lamparinas solares,
Formam um espetáculo único.

Flores brincam umas com a outra,
E colam-se as pernas dos que andam lá,
Como se a pedirem para ficar,
Molhadas de sereno parecem jurar,
Sob a luz do luar paira um altar,
Que abaixo, bastante abaixo,
De um amontoado de estrelas,
Se assemelhariam a uma cama alta,
Um convite de namorados,
Ou algo de bonito, romântico e profundo.

Qualquer um que não ame,
Não seria capaz de estar ali,
Dizem que as flores despertam alergias,
E outras urticárias a quem lhes seja inertes,
Ou insensível,
Seja como for,
Assim que ela passa o portão,
Sente falta do namorado,
E o deseja com profunda paixão,
Quase como uma necessidade,
Urgência moderada e desesperada.

O jardim se ergue elegante,
Com árvores floridas
E pedras postas juntas,
Como se fossem bancos naturais,
Um gramado florido resplandece ali sempre,
Seja dia ou noite,
Cada estação com cores e formas diversas.

Bem, logo de entrada encontra ali uma caixa,
De formas antigas e amarrada,
Cordão antigo,
Lacre desconhecido,
Ela a pega,
E seus dedos correm para abri-la,
Mas como se por desejo,
Ou urgência,
Ouve a voz do namorado,
E teme o conteúdo,
É como se fosse especial,
Mais que o beijo ou se abraço,
E isto não lhe parece verdadeiro,
O que haveria de mais importante,
Mais único ou desejado?

É como se o ouvisse dizer que é antigo,
Presente de avó,
Que foi deixado de lado,
Porque embora querido,
Nunca o foi aberto,
Apenas guardado,
Como se o conteúdo fosse do mais alto valor,
Então, vieram as mulheres,
Mãe e namorada,
Porém, a caixa permaneceu no lugar,
Quase como se fosse parte daquela entrada,
Ou se tivesse aderido a beleza.

Sempre limpa sobre a pedra,
Nunca, nunca aberta.
Os anos vergaram o corpo da mãe,
Levaram a avó,
E dificultaram a visão,
E a caixinha foi ficando,
Agora estava em suas mãos.
Quase que por instinto,
Por saber de seu amor,
Ter certeza de tudo que sentia,
Seus dedos foram seguindo o barbante,
E romperam a cera do lacre antigo,
Um anel surgiu brilhante,
Feito estrelas,
Ela virou-se seguida pelo mesmo instinto.

-Sim, eu aceito.
Simplesmente disse,
Conhecedora de que ele estava perto,
A amava e que também lhe era amado,
Ele tomou o anel entre os dedos,
Sem que ela abrisse os olhos,
O colocou,
-Nunca quis algo mais que isso.
Uma cortina de flores se abriu,
Ante o peso dos dois sobre o piso
De grama sobre pedra natural,
E abriu-se um desconhecido 
E único jardim,
Cheiroso, florido e antigo.

Dava-se para enxergar seus avós ali,
Juntos,
Plantando, limpando, colhendo…
Animais brincavam,
Borboletas e pássaros,
Também coloridos vagalumes,
Dava-se para ver o nascimento do pai,
Sob a luz de luar ocre,
Suas vestes deixadas ao tempo,
E uma história que ficou, até então, guardada.


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