Difícil lembrar,
Ninguém quer voltar atrás.
Mas,
Eu vinha da aula,
Segura,
Mochila pesada nas costas.
O amiguinho chegou por trás
A gritos estarrecidos:
- você não me fode.
Você não me fode.
Ao gritar ele subiu em mim
Por trás,
Pisou na minha panturrilha,
Na minha nádega
E tentou arranhar meus cabelos,
Ou desferiu um golpe contra minha cabeça,
Não lembro como muitos detalhes,
E não queria ter sofrido
Nada daquilo.
Então, ele desceu os dedos
Rasgando meu rosto e pele,
Encontrou minha boca
E puxou com seus dedos
Meus lábios
Como se quisesse rasgar,
Abrir ou obrigar-me a falar:
- você é suja,
Você é suja,
Você é suja.
Ele gritou
Com a mão no meu pescoço.
Eu fiz o que pude para me esquivar,
Dei um golpe contra a cara dele
E o deixei sentado no chão de terra
E pedras.
Ele voltou e pulou contra minha
Perna direita.
Tudo foi dolorido.
Idade escolar primária.
Ele chegou para minha prima,
Correu até ela
E com um golpe
Enfiou sua mão na vagina dela.
-Ela levou a mão na boca,
Tentou empurrar ele
Através de sua cabeça
E fez gritos de prazer:
-ah uh, ah uh.
Que prazer,
Que delícia.
Eu sou uma delícia agora.
Ele riu do rosto dela,
E retirou a mão com força,
Depois de levar e puxar
Por duas vezes,
Arrancou de lá com sangue
Jogando-a pra trás de dor.
- não era pra você gostar,
Era pra você dizer.
Não, não cai, cai.
Era dia do índio,
Ela deveria ter entendido
Que precisava comemorar com ele.
Escola dos diabos,
Eu sobrevivi,
Corri muito.
Coitada da minha tia
Que ficou para trás.
Corria quem tinha forças.
Eu não permiti
Que ele me tocasse.
Eu fui a suja,
Aquela que eles jogavam lama
Com pedras contra
Meu corpo e minha pele,
Deles não recebi carícias.
Ainda precisei olhar no rosto
E chamar de amigo.
Éramos vizinhos.
Malditos criminosos odiosos.
Sinto medo de me mover,
De estar rápida
Ou lenta,
Medo de olhar,
Medo de falar,
Mas eu ensinei eles a escrever,
Hoje eu escrevo bem.
(Penso que ele arrancou
O osso da vagina dela).
Isso me assusta
E me causa piedade.
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