domingo, 8 de dezembro de 2024

Saudade

Acostumou-se a sua presença,
Desejava as conversas
Que perduravam as horas,
Gostava dos assuntos,
Parecia que haver troca de olhares,
Sentimento de carinho recíprocos.

Contudo,
Sem delongas,
Na terça-feira ele não veio,
Na quarta-feira não deu notícias,
Na quinta-feira da mesma forma.

Ela esperou.
Preparou o chá da tarde,
Sentou-se no banco junto as flores.
Na sexta-feira sentiu-se estúpida,
Chamou a filha,
Pediu sua companhia,
Conversaram bastante,
Mesmo assim,
Seu olhar buscou o portão
E esperou por ele,
Ela nem soube o quanto.

No sábado sentiu-se indisposta,
Ninguém bateu a porta,
Ou fez ligação alguma,
Ele não veio outra vez,
Ela uniu forças e levantou-se ao meio-dia.
A tarde preferiu ficar a janela,
Não molhou as flores,
Não caminhou pelo quintal,
Retirou-se para o quarto logo.

A noite percorreu insone.
O domingo veio chuvoso.
As quinze da tarde
Ela tomou coragem para o café.
Dispensou o almoço,
Escolheu o filme tedioso.
Chamou o abraço da filha e chorou.

Segunda-feira de novo,
Nenhuma notícia.
Ela tropeçou no tapete
Ao retornar do quintal,
Bateu o queixo no chão,
Foi para o quarto,
Ficou febril e adoeceu.

Sentiu dificuldade para respirar,
Febre intensa,
Dores no corpo.
Sim,
Ausência dói,
Saudade corrói,
E homem vagabundo mata.

Ela sempre foi forte,
Cuidou da filha de forma exemplar,
Mas seu coração preocupava-se,
E o motivo era importante,
Ele ausentar-se
Não era nada inaceitável,
Mas tantos dias,
Sem apresentar notícias,
Isto, no mínimo era importante.

Abraçou a filha forte,
Sem sair da cama,
Ou tirar o pijama.
- gripe, mãe.
Ele deve estar gripado.
Ela não aguentou ouvir isso,
Sentiu-se pior,
Fechou os olhos
E não teve mais forças para abri-los.

A filha saiu,
Foi a cozinha,
Fez um chá forte
E voltou ao quarto.
- tome.
Cuide-se por ele,
E mesmo distante ele irá melhorar.
Ela uniu esforços,
Abriu os olhos,
Bebeu de gole a gole.

E sorriu.
- sinto que ele ficará melhor.
Sei que sim.
Obrigada, filha.
Abraçou-a.
Tomou sopas,
Comeu saladas e frutas,
Bebeu muito chá com mel.

Rezou muito para Allah,
E soube em seu íntimo,
Ele iria resistir,
Fosse o que fosse,
Não iria desistir.
A noite soube
Que o telefone dele quebrou,
A mãe dele faleceu,
E ao chegar em casa e vê-la morta,
Desmaiou,
Acordou sem forças e
Sem lembranças,
Mas a algumas horas
A memória voltou fragilizada,
Foi como se uma imagem
Lhe surgisse no pensamento,
Então, viu ela rezando por ele,
E no passar das horas,
Recordou aquele número de telefone e discou:
- então, quem você é?
Ele pediu.

- há alguém morto aqui.
Eu me sinto mal.
Ele disse.
- querido, penso que seja sua mãe.
Ela respondeu,
Sabia em seu coração
Que ele jamais machucaria alguém,
Muito menos a trairia,
Está mulher que ele encontrou
Caída no assoalho de casa,
Não podia ser pessoa diversa,
Se tratava da mãe,
E ele não mentiu,
A casa era dele,
E ele não a traiu.
Ela sabia disso.
Não soube dizer como.
Mas estava certa.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

A Hora

Anunciaram os djins, - aproxima-se a Hora. O povo daquelas areias Sobre o mar azul e limpo Estremeceu. Aguardaram uns de Al...