É como se um rosto enrugado
Com tivesse algo de uma rosa,
Com suas pétalas aveludadas,
Que sempre que cai o sereno
Ele não resvala,
Ele desce feito carícia,
Terno e demorado sobre as pétalas.
O sofrimento no rosto do meu velho
Eu o sinto desta forma,
É sempre mais maduro e contudo,
Sua dor não se derrama,
Nem é gritada,
Simplesmente é sentida
Terna e profunda.
Sinto como se a dor
Em meu peito fosse mais devotada,
Eu sinto,
Logo grito e espalho pelos ares,
O choro em meu rosto
Desce feito sereno em zínia,
Longo e rápido,
Chega e não se demora
Vai as profundezas.
E lá fica até criar raízes,
Lá naquele seio onde
Moram suas sementes.
Mil brotos de dor saem
Por minhas veias,
E eu os entrego em cada movimento,
Palavra ou gesto.
A dor não foi feita
Para rostos envelhecidos,
Estes devem ser poupados,
As lágrimas em suas faces
São como cachoeiras soltas
Rumo aos riachos...
Da cachoeira nota-se o riacho,
Do riacho não vê-se a cachoeira.
A dor num rosto sofrido
Passa despercebida,
Este rosto já não fala muito
E a dor se instala sem reclamar.
É certo que dor foi feita
Para rostos jovens,
Lá a lágrima brilha,
A dor reluz e a fala se aflige,
Lábios jovens contorcidos
São facilmente notados.
E jovem sabe lavar o rosto
Na água fria,
Construir um sorriso
E curar as próprias feridas.
É o que penso,
Quando vejo a dor
Próxima a meu velho
Eu me aflito,
Eu penso
“quando será que a dor irá leva-lo?”
Prefiro, então, carregar a dor comigo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário