quinta-feira, 2 de janeiro de 2025

Lá, Depois do Para Sempre

Você foi a melhor pessoa
Que houve em minha vida!
Ele disse com olhos seguros,
Um leve rumor de lágrimas
Lá no fundo,
Muito distante,
Mas, perceptível.

Obrigada.
Respondeu ela,
Trêmula,
O houve disse o bastante,
Tornou-se passado,
Acabou.

Suas mãos oscilaram,
A voz veio de seu peito,
De um lugar profundo
E quente,
Saiu feito uma chama,
Como se o afugentasse,
Ela baixou o olhar
Para as mãos quentes,
E percebeu que tudo acabou.

Um frio tocou seus ombros
Logo que ele ergueu os braços
Até a grade de sua casa,
E segurou o portão com força,
Suas mãos próximas e seguras
Tornaram-se vermelhas,
E brancas.

Ela estremeceu,
Pegou as chaves por instinto
E enterrou em seus bolsos,
Não o queria perto,
Suas unhas roçaram na roupa,
Dobraram-se para trás,
Um estímulo de dor,
Ela não o desejava.

Ficou tudo no passado,
Então.
Ela respondeu
Com o peito arfante,
Olhar altivo e seguro,
Buscou no fundo do olhar dele
O entendimento
Do que dizia,
Falou alto e claro o suficiente
E não desejou falar muito,
Bastava que entendesse
E se afastasse.

O para sempre acaba.
Ele falou,
Seu sorriso se abriu,
Dentes claros feito leite,
Bem cuidados,
Unidos um ao outro
Ficaram a mostra.

Este seu sorriso,
Eu lhe ensinei.
Ela respondeu.
O peito queimava,
Parecia arder em fogo,
Os braços tremiam
Na altura dos cotovelos,
Até as mãos.

De repente,
Suas mãos se endureceram,
E ficaram estagnadas abertas
A sua frente,
Ela sentiu que não havia
Grades entre eles,
Levou suas mãos até ele,
Encontrou as deles
E as apertou
Não parecia usar força,
Apenas respondia a vontade,
Apertou até ele gritar,
Apertou até seus dedos contraírem-se,
Apertou até desmanchar seu sorriso,
Apertou até ele chorar,
Apertou até sentir dos nos cotovelos,
E afastou-se,
Ele jogou-se para trás
Como se houvesse grudado na grade,
E suas mãos marcaram o portão,
Sem riscos,
Apenas afundaram a grade dele.
Chorão bobão.

Ela falou
De peitos arfantes.
Foi o tempo,
Foi seu sorriso,
Veio as lágrimas,
O arrependimento,
Entendeu que também,
Com isso,
Passou o para sempre?
O quê?

Ele indagou atônito,
Chacoalhando os cabelos,
Como se suas palavras
Fossem arremessos
Contra ele
E o ferissem.

Então, olhou-a com o rosto
Gordo vermelho e branco,
Desvanecendo,
Sua gordura pareceu escorrer,
E a velhice o pegou desprevenido
Por anos,
Seus 30 beiraram 60.

O olhar correu.
E ele tropeçou para trás.
O tempo do para sempre
Se foi.
Acabou
E não há beleza nisso,
Nem no que houve,
E mais nada haverá.

Sem amizade.
Sem cumprimentos.
Sem sorrisos
Ou falsidades.
Adeus e distanciamento.
Ela bateu os dedos
Contra as grades,
Como se fechasse a porta
Contra sua cara.

Pegou as chaves de dentro do bolso,
E num gesto as levou para frente.
Ele deu três passos tortos,
Abertos e rápidos,
E grudou no portão
Para pegar as chaves,
Bateu com força o rosto
Nas grades,
Ferindo-se.

Para trás,
Ela disse.
Eu pedi para ir.
Você disse estou indo.
Entenda, é o fim.
Eu não aceito mais isso.

Ela sentiu medo,
Apertou a chave em sua mão pequena,
Dobrou a chave
Até quase quebra-la,
Ela não sentia-se segura,
De forma nenhuma.

Ele estava rápido,
Ele estava mentindo,
Ele não estava respeitando.
Suma.
Ela disse.
Desapareça.
Embora.
Saída.
Fora.
Saia.

Ela usou cada palavra
Meticulosa
Para manda-lo embora,
Desejou que fossem pedras,
Desejou que fossem tiros
Contra seu rosto assombroso.
E ficou onde estava.
Mesmo com medo.

Ouviu ele dizer
Toda a babaquice possível.
E esperou até ele ir.
O viu entrar no carro e sair.
Sentiu nojo.
Ficou ali.
Depois entrou dentro de casa.
Desejou estar segura.
Desejou muito
Estar segura.

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