terça-feira, 25 de fevereiro de 2025

O Garoto da Motocicleta

Lá do sistema
Ele foi definido um bom rapaz,
Lhe fizeram pequenos testes,
Ele foi eficaz.
Logo, lhe deram uma motocicleta,
Uma simples,
Ele jamais seria muito bom,
Nem deveria ficar sabendo de seu valor.
O pai achou perigoso,
Ele era jovem,
Mas o garoto sem saber o motivo
Foi dado a manobras,
E corridas,
Contudo não em velocidade alta,
Mas muito melhores
Se o fosse.

Sua ultrapassagem era perfeita,
A forma como ele reagia
Aos acidentes que deveriam
Ter sido fatais
Era considerada fantástica.

Lá do sistema,
Alguns retiravam seus fones,
Davam socos em suas mesas de desespero
E o aplaudiam.
Ele se safava bem.

Levado ao hospital semiconsciente,
E levantava da cama dando ordens.
Depois, disso.
Ou melhor, junto a isso.
Lhe deram uma música
E o disseram: “cante”.

Ele foi bom.
Seus movimentos sobre a motocicleta
Começaram a ser aplaudidos,
Por motoqueiros antigos
E treinados,
Ele foi se tornando um prodígio.
De pronto,
Um filme foi escrito
E seus movimentos foram postos,
Contudo, ele era odiado
Ninguém podia fugir disso.

Armaram-se represálias,
Ele saiam com escoriações
E a moto sem amassados
Ou riscos na pintura,
Estava se sobressaindo demais.
Do sistema,
Eles escolheram outros
Para serem melhores,
Ele era para estar inválido
Ou pior.

Odiado e vitorioso.
Não com um sistema daqueles
No seu calcanhar,
Fora do seu alcance,
Determinados a atacar.
Ele precisava entender
Que não foi o escolhido:
Gravaram suas músicas,
Com sua voz,
E poucas modificações.

Ele era uma mulher.
Quando soube ele desmaiou,
Desejou morrer,
Ou lhe disseram isto
Através de vozes pouco definíveis,
Era a sua voz,
Ele comprou o cd,
Mostrou aos amigos,
Parentes e conhecidos:
Eram suas músicas, sua voz...

Chorou.
Ele sentou-se escorou a cabeça
Nós joelhos e chorou.
Ele era uma cantora feia,
Drogada e desesperada.
Ele precisou recuperar o autocontrole,
Ser mais forte,
Resistir aos conflitos,
Mas, o que era isto?

Que vozes lhe diziam tanto?
Por qual motivo lhe tinham ódio?
Simplesmente,
Ele não era o escolhido.
De repente, sai em cartaz,
Um filme e dentre os atores:
Ele.

Ele se reconheceu.
Não soube explicar.
Mas se viu nele.
O garoto fez namorico
Com sua motocicleta,
Apaixonou-se nela,
Viveu para ela por algum tempo.

Pouco tempo.
Amores duram.
Ódios, porém, padecem.
Este sistema de vigilância e fala
Era composto por muitos integrantes,
As manobras que lhes rendiam
Dinheiro eram difíceis,
E as ideias de exigências
Apenas surgiam e cobravam.

Ele não sabia disso,
Não ganharia nada com isso.
Mas vinha a fala no ouvido,
Sob ameaça e represálias,
Era só um movimento,
Então, ele fez.
Girou sua moto naquela estrada de pedras,
Soltou pedras do chão,
Levantou terra mais alto que o vento,
Rodopiou e gravou um círculo,
Depois disso,
Caiu.

Último movimento.
O filme saiu.
O cd fez sucesso.
Ele não pode ser substituído.
Nem a voz ou movimentos...

Mudou.
Ele que não ganharia
Não ganhou.
A família nada soube.
Nem ele,
Na verdade.
Resta o túmulo
E a motocicleta ao lado.

Foram-se os anos,
Ela enferruja-se e cede ao tempo.
A voz dele foi calada,
Seus suspiros não são ouvidos.
Mas, o sistema falhou.
Sobre o final daquele filme,
Sobre a carreira daquela voz,
Sobre a aparência de uma pessoa
E um rosto.

Mesmo que este rosto
Tenha sido ocultado,
A imagem ficou.
Se você assistir com interesse
É possível perceber.
Eu guardo o encarte, o cd,
O cartaz e o dvd daquele filme.
Eu temo ser o próximo descarte.

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