terça-feira, 18 de março de 2025

Tempestuoso

Reza a povo de joelhos,
A chuva finalmente chegou,
Cessou o vento,
Ensurdeceu os trovões,
Parou o raio.
Não desta vez.

A chuva chegou
Mas o vento não parou,
Veio o trovão e os joelhos
Tremeram sobre a terra molhada,
Veio o raio
E cortou metade daquele povo.

Alguns correram para suas casas,
Mas vento não possuem fronteiras,
Ele deitou os montes,
Fez descem terra segura
Como se fosse de pedregulhos.

Cobriu o leito do rio,
Chegou a estrebaria,
Desalojou as vacas que correram,
Todas as que puderam,
Algumas foram soterradas.

- A água limpa,
O leite do alimento?
Gritou uma mulher,
Dentre o povo desesperada.
Mas foi pouco.
O raio desceu dos céus
E cortou-lhes o rosto,
Dos que sobreviveram
Ficaram com metade do rosto
Escurecido.

A chuva caia em torrentes,
E o rosto não limpou,
A lama do chão voou até seus rostos,
De um lado escurecido,
De outro amarronzado
Com pedras, folhas molhadas
E lama a escorrer por suas roupas.

Houve o desespero do povo,
O vento chegou profundo
E desolador,
Abaixou-se naquele terreno,
Carregou algumas pessoas,
Deitou no coberto daquelas casas
E subiu como se tivesse vida própria,
Arrancou todo o telhado.

As crianças gritaram, choraram,
Os idosos juntaram de suas forças,
Saíram para fora de casa
E desacreditaram do que viram,
Estava tudo escuro céus e rostos.
Mas o vento achou pouco,
Desceu a leste e correu,
Parecia ter mãos e pernas invisíveis,
Deixou na chão a plantação,
Arrancou pela raiz muitas árvores.

O povo espantou-se,
Rezou e correu,
Rezou e escondeu-se,
Abraçaram-se uns aos outros,
A chuva doía em seus rostos,
Parecia ser feita de pedra.
O povo sentiu que Allah
Estava lendo seu termo,
Chegou a Hora,
Não reinaria na terra outra vida,
Mas ninguém ouviu trombetas,
Ou viu Allah,
Sequer ouviu sua fala.

E o povo não parou,
Gritou um homem
Entre o povo:
- Allah, intercede!
É verdade tudo isso?
Responde outro,
Olhando para o céu chuvoso:
-tudo isso é verdade.
Não há o que possa impedir.

Uma vovozinha
Saiu a janela,
Com o Alcorão em mãos,
E passou a ler entre a chuva,
Com o livro aberto,
Debruçada na janela,
Sem telhado
E com chuva por toda parte.

Mas o vento é surdo,
O barulho provém dele
E não de outro,
Desceu árvores
Quebrando seu tronco
Ao meio.
- Allah,
Está nos levando tudo
Que temos?

Deixa meu filho,
Perdoa meu pai,
Proteja minha esposa.
Gritou um homem.
Em meio ao tumulto chuvoso.
Nada se ouviu incomum.
Lá do monte que desceu,
Correu água feito um rio,
Pais se jogavam sobre seus filhos,
Guarda-chuva voavam ao vento
Como se tivessem asas.

Chapéus foram arrancados
De suas cabeças
E bateram na cara de outros
Que estavam logo atrás,
Os pais agachavam-se
Sobre seus filhos e colocavam
Os chapéus, segurando-os,
Para que ficassem.

Todos os olhares
Ficaram assustados.
Uma mulher ajoelhou-se
Para agradecer,
Sentiu sua morte chegar,
E decidiu rezar,
Juntou suas mãos,
Depois abriu-as para o céu,
Rosto sujo sendo limpo
Pela chuva tormento da:
- Allah, de suas mãos nada se escapa.
Sou sua por toda adoração e misericórdia.

Mas não terminou a oração,
O vento a empurrou de joelhos
No chão,
Chocando ela contra uma porta
Que se abriu.
Portas e janelas abriram-se,
Nada restou intacto.

Ela bateu com força
Contra a madeira e caiu sem vida.
Todo o povo clamou,
Juntou seus Alcorões
Elevaram-os para os céus,
E o leram,
Em voz alta, segura e declarada,
Leram o que havia lá,
De palavra a palavra,
Sobre a chuva derramada,
E o vento passou,
Restou chuva mansa.
E o escuro tempestuoso
Passou,
Restou luz e chuva calma,
E uma fonte de petróleo 
Brotando da terra.

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