quinta-feira, 20 de março de 2025

Um Filho

- seu filho.
Acolha é seu filho.
Nasceu morto.
O homem estranho se aproxima
Entrega a criança
Dentro do supermercado
Nos braços de um homem,
Ele está ao meu lado.

Eu penso comigo,
Não me convidam
Para o nascimento,
Concepção:
Vão me convidar
Para o velório.

Este pensamento me faz mal.
Eu olho para a minha barriga
E penso que já cheguei
Aos 35 anos,
É tarde demais,
Eu não posso ser mãe.
Então, ele crê que pode salva-la,
Eu descreio,
Prefiro que ele não se fora
Com uma certeza tão aterradora,
Ser responsável por uma vida
Que já partiu.

Então, foi vida?
Conclui no olhar dele
Que sim,
Confiei neste que estava
Ao meu lado,
Desconfiei de mim.

Pedi a criança
E disse que poderia ajudar.
Me pareceu que aquele homem
Confiava em mim,
Em algo sobre eu ler o Alcorão,
Em ter fé absoluta,
E busquei nele
O que era o Alcorão?
Um livro aberto a ser lido.

E isto, nele,
Era o bastante para confiar.
Em mim, o que era?
A fé.
Então, me acolhi.
Me achegue para trás,
Fiquei ali.
Me vi sozinha.

Me busquei infante,
Um bebê,
Um bebê no colo.
Me recusei a ver.
Me vi no colo da minha mãe.
Não quis estar,
Abriu os olhos,
Olhei para aquele teto,
Me preferi onde eu estava,
E não no passado.

Aí disse,
Me dê!
Ele disse não!
Você não presta
E não irá valer.
Eu não quis chorar,
Desde lá foi assim também.
Aí, por favor baby,
Eu fiquei me olhando,
Me vendo
E não vendo.

Casa de oito metros,
Sem repartição,
Minha mãe sentada na cadeira
De madeira,
Ela toda de branco,
Eu também.
Seus olhos fundos
De preocupação,
E medo,
Mas quando ela me via
Ela tinha certezas,
Certezas absurdas.

Aí, ele me deu a criança.
Quando eu já estava naquele colo,
Tomando aquele leite,
Sentindo aquele calor,
Tocando naquele seio,
Ele me deu.
Peguei o bebê,
Morto e gelado,
Quase sem roupa,
Esmagado concluí,
Olhei para o homem ao meu lado
E ele sabia que nasceu vivo,
Então, eu também.

Tirei meu seio,
E o dei.
Eu nunca fui mãe de concepção,
Ou adotei.
Lembrei de como fazer comida
E chamar pelo cheiro
As pessoas para comer.

Ele não voltou.
Então, isto foi uma certeza absurda,
Certeza que uma doce mãe
Credita na filha.
Bobagem de mãe.
Depois pensei em coisas
Que fariam um filho
Querer mamar.

Lembrei de uma amiga,
Ela me ensinando
Sentada num posto de saúde
Público,
“Olha Aline,
Quando você tiver os seus,
Amamentar é assim”.

Ela pegou aquele seio cheio,
Passou ao redor da boca da criança,
Deixou próximo ao nariz,
E ele puxou o líquido.
Me pareceu simples,
Pois o que haveria
Neste ato de difícil?

Ela disse nasce vermelho,
Fica preto,
Depois quando ele toma o leite,
Todo ele fica vermelho,
E o sangue da gente
Correu ali dentro.
Eu olhei aquela criança,
Não vendo nada de diferente,
Pensei que sim,
Ele estava vermelho.

Fiz o mesmo e a criança retornou,
Eu me assustei e pensei:
“Estava morta!”
A ideia não deixa de ser assustadora.
Ele puxou muito fraco,
Apertei ele,
Depois pensei
“apertar é para bonecas”
O acariciei
E o cobri em meus braços.

Ele mamou muito.
Eu pensei
“vou encher ele de vida”.
Ele mamou vida de mim.
Foi incrível.
Eu pensei
“Esta mãe não será
Capaz de dar-lhe vida,
Darei a ele tudo da minha”.

E o entreguei todos o leite
Que tinha,
Sem nunca ter tido uma concepção.
Olhando aquela criança,
Eu vi um futuro,
Um futuro triste.
Vi eu indo ajudar meu irmão,
Ele estava estranho,
Eu dei dois passos
Em direção a ele,
Sentindo muito menos de dor
Do que ele sentia,
Cai no chão
E quebrei os ossos do rosto,
Também os dentes.

Depois me vi pegando sua pá
E cavando um chão barrento,
E estava tão duro
Que perdi os movimentos,
Perdi os dois braços.
Meu irmão riu,
Sentiu orgulho,
Ele abriu em três dias o buraco,
Lá ele me jogou respirando,
Depois veio a esposa dele
Ao seu lado,
Ele abriu então em cinco dias
Com sua ajuda,
E ela me jogou lá dentro viva,
E ele cobrou com terra.

Eu não tive mais ar
Para respirar.
Saí de lá,
Olhei para aquele rosto
E vi coisas diferentes,
Busquei um futuro
E ele sorriu,
Pedi se eu ainda podia ser mãe,
Ele disse não.

Indaguei assustada
Qual o motivo,
Ele disse com as duas
Mãozinhas
Que havia algo no meu seio
Esquerdo,
O que ele sugava em sua boca,
Eu indaguei a ele o quê?
Ele não sabia.

Eu pedi se ele podia concertar,
Para ele não estava quebrado,
Eu pedi se ele me ajudava,
Ele levou suas mãos
E massageou.

Moveu o seio do lugar
E eu soube através dele
Que sim.
Aos 35 anos,
Próxima aos 36,
Eu ainda posso ser mãe.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Sim

Celio estava dirigindo Compassivo o seu Vectra branco, Escolheu aquele carro Para levá-lo Ao seu próprio casamento, No in...