segunda-feira, 28 de abril de 2025

Convite de Lua

O relógio restou meia noite,
Ela não soube entender,
Mas, no palpitar de seu coração,
Entendeu que era sexta-feira,
Dia treze.
Levou a mão ao peito,
Pois seus ossos ficaram
Significativamente frágeis,
Então, seguindo o impulso,
Sentou na beira da cama,
Depois, retirou a mão do peito,
Levantou-se,
Abriu as cortinas
E pôde contemplar a lua cheia.
Tão imensa e brilhante
Que fez parecer dia,
Sua luz ofuscante
Lhe bateu no mesmo
Instante em seus olhos,
Deixando-a cega,
Seus lábios abriram-se,
Mas não precisou falar.
Seu corpo deu meia volta,
Parou estagnado
Olhando a porta trancada,
E não importou se estava segura,
Sentiu urgência por andar.
Precisava, de alguma forma,
Dentro de si, vagar.
E sentia que tinha um rumo,
Por isso, necessitava seguir
O fez.
Caminhou até a porta,
Sem preocupar-se por estar
De camisola até os joelhos
Transparente,
Abriu a porta.
Não disse nada.
Saiu.
Lá fora percebeu
Que haviam outras portas abertas,
Como a sua,
Que sem saber porquê,
Não quis fechar,
Só entendeu
Que era desnecessário,
Precisava seguir,
Tinha que ir.
Tomou o lado direito da rua,
Sentido ao centro da cidade,
Duas quadras antes,
Desviou,
A lua brilhava sobre sua cabeça,
Feito uma lâmpada,
Tornando a noite um dia.
O rumo que tomou a levou
A um portão,
De imediato ela não reconheceu,
Mas o abriu,
Ele era alto e grande,
Estava escrito em letras
Gigantes Cemitério 🪦.
Abriu,
Seguiu.
Chegou a uma lápide,
E não soube porquê,
Mas precisou sentar-se sobre ela,
Sentou e seu coração
Começou a parar de bater.
Ele foi acalmando-se,
Para um batimento lento
E regulado,
Era como se a lua tivesse mãos,
E suas mãos regulavam seu corpo,
E coração.
Nisto pensou se deveria
Rezar,
Não soube que oração fazer.
Então a lua escondeu-se
Atrás de algumas estátuas,
Lentamente, baixou para trás,
E aquelas sombras
Ganharam o cemitério,
E saíram de cima das lápides
Para irem percorrer o chão.
Não havia barulho,
Não tinha ninguém além dela,
E as sombras vinham
Com desenhos obscuros,
Sem formato
Querendo alcança-la.
Seu coração ao invés
De acompanhar seu medo,
Fez o contrário,
Foi batendo cada vez
Mais devagar,
Então, quando a primeira sombra
Quis tocar seus pés,
De modo instintivo,
Ela sentiu que deveria levanta-los.
O fez.
Levantou-os,
Depois, os puxou para onde estava,
E como seu coração parou de pulsar,
Ela, primeiramente, caiu,
Então, ele pulsou fraco,
Aí ela organizou o corpo,
E deitou-se ali.
Sem conseguir pensar,
Sem impulso para reagir,
Aninhou as mãos retas
Ao corpo,
Então, as sombras chegaram,
Subiram a lápide,
E ela caiu.
Caiu dentro do túmulo,
Havia ossos lá,
Um formato de pessoas,
Não muito reconhecível,
Estes ossos levantaram os braços,
E a abraçaram.
Mantendo ela ali dentro.
A lua não surgiu mais,
Apenas o dia.
Com o dia veio o coveiro,
Ele chegou cantando
Com uma pá em mãos,
Enxada e cavadeira,
Subiu para mais acima
E iniciou a abertura do chão.
Morreu alguém na cidade.
Haveria velório.
Ele passou por ela
Diversas vezes,
Seu coração pulsava fraco,
Ela não tinha forças
Para falar,
Não conseguia abrir
Os lábios,
Nem emitir grunhidos,
Ou mesmo soluçar.
De uma vez,
Ele olhou em sua direção,
Seus olhos estavam abertos
Ardiam contra o sol,
Mas ela esforçou-se
Para mantê-los,
Seu peito arfava levemente.
Ele olhou,
Passou a mão
Para limpar uma sujeira
Como se ainda houvesse
Uma lápide sobre ela,
Ele pôde ver sua mão mexer-se.
Depois, ele pegou um balde,
Colocou água,
Trouxe sabão,
Uma toalha,
E limpou onde ela estava.
Ela podia ver a água cair,
Podia até sentir,
Num esforço imenso,
Abriu os lábios,
Estatelou os olhos,
Arregalou-os num pavor abafado,
Mas, ele não a via.
Ele passou o pano do início
Ao fim do túmulo
E saiu de perto,
Seguiu seu rumo de abrir a cova,
Na parte da tarde,
Aproximadamente dezessete horas,
Um caixão passou.
Seus homens o carregavam,
Pessoas choravam atrás,
Algumas traziam flores,
Outras cantavam louvores,
Outras faziam orações,
Todas olhavam curiosas
Para todos os lados,
Mas nenhuma a via.
Todavia, ela enxergava
De uma a uma.
Ela tentou mover-se,
Mas, os braços daquele
Que a seguravam
Eram mais fortes.
Ela ouviu quando seus pais
Saíram na janela chamar seu nome,
Quando alguns se tumultuaram
Atrás dela,
Quando carros passavam
Aturdido pela estrada,
Mas ela estava emudecida.
Era como se sua língua
Tivesse ficado presa,
Ela mal conseguiu
Abrir a boca,
Então, chegou o entardecer,
Conforme o sol se foi,
E as sombras da tarde
A tocaram
Ela pode chorar,
Copiciosamente,
Mas seu peito estava fraco,
Ele não emitia sons.
A lua chegou.
Velas crepitavam
No seu entorno,
As ceras das velas
Começaram a escorrer,
Chegaram até ela,
Ao passar pelo túmulo,
Invadiram a lápide,
E algo quente a tocou,
Ela não pôde mover-se,
Apenas deixou ser consumida
Por ceras de velas coloridas.
A cada nova vela
Ela podia ouvir um pedido
Do ente querido
Que a acendeu...
Aos poucos, a lápide
Foi sendo preenchida,
E a noite foi,
Veio o dia.
O dia não deixou as ceras
Esfriarem,
Manteve elas cada vez mais aquecidas,
Algumas pessoas entravam ali
Aturdidas,
A maioria saíram,
Porém, na noite do dia 15
Uma não saiu.

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