segunda-feira, 12 de maio de 2025

Acendo Um Cigarro

É madrugada,
As estrelas escondem-se
Lá fora,
A janela fechada,
Mas o vidro está a vista.
Meu amigo embaralha
Algum jogo mental
Através do baralho,
Vez ou outra ele dá as cartas,
Após, recolhe todas,
Retorna a embaralhar.
Eu me sirvo de sua carteira
De cigarros aberta,
Acendo um,
Faço um gesto afirmativo
Para ele,
Que sorri,
Com seu cigarro aceso
A esfumaçar seus dois
Últimos dedos.
Parece que gosta de sentir
O calor,
O fogo que arde por dentro,
E exclama por fora,
Eu me silencio,
Ele também não diz nada,
Mas, sabemos,
Pensamos nela.
Bem, namorei uma garota,
Ela era inteira perfeita,
O conheceu
E gostou logo dele,
Não me deixou,
Nem se esquivou
De tudo que sentiu,
Se entregou a nós dois,
Foi nossa sem que
Falássemos sobre isso,
Mas, agora,
Beijos outro.
Bebe com ele whisky,
Eu choro escondido,
Cansei de correr atrás,
Ela falou a frase inteira,
Esqueça-me,
Pertenço a outro,
Cansei de você e seu amigo.
Eu passei
Nunca falei que sabia
De eles dois,
Mas o que ouvi foi o bastante,
Hoje, ele chegou cedo
Jantou comigo,
E ne disse tê-la visto,
Com outro
Num restaurante do centro,
Bebendo muito
E sorrindo.
Já deve nós ter esquecido,
Sem perceber
Sinto minha camiseta verde
Molhada e quente,
Penso de são as cinzas
Do cigarro,
Me engano,
Estou em prantos...
Sem saber porquê
Baixou o cigarro
Sobre o molhado
E o apago ali mesmo.
Levando,
Empurro a poltrona para trás
Com a panturrilha,
Meio que em desespero
Eu me acolho
Junto a janela,
Me coloco de costas,
Busco o final da rua,
Não há nada,
Me volto,
E meu amigo
Não cansa de embaralhar
E cartear sozinho,
Penso se estou louco
Ou é só o amor...
Acendo o cigarro molhado,
Me demoro nisto,
Sinto o gosto do meu pranto,
Olho para a ponta acesa
Com ele entre o dedão
E o anelar e mindinho,
Movo a ponta acesa,
Bato as cinzas com o dedão,
Deixo cair no chão,
Ao lado do meu sapato,
Me volto,
Fumo um pouco,
Talvez, passe tudo isso.
Meu amigo meiou a caixa,
Estendeu seus pés
Sobre a mesa de centro,
Folheia as cartas,
Embaralha,
Busca vencer a si próprio...
Eu tento queimar a dor.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Caso: Assassinato da Balconista

Aos vinte e cinco anos Não se espera a chuva fria De julho Quando se sai para o trabalho, Na calada da noite, Até altas mad...