segunda-feira, 12 de maio de 2025

Adeus

Eu monto com o pé direito,
Me apoio na corda,
Na cela e nas crinas,
Me puxo e passo o pé esquerdo.
Estou no alto,
Sobre o cavalo,
Eu me sinto em liberdade,
Vejo mais longe.
Ao meu lado
O cavalo dele se aproxima,
Eu me agacho,
Beijo sua testa,
Sim, querido,
São dezesseis dias...
Espalmou seu pescoço
Duas vezes,
Com um pequeno empurrão
Para o lado
Como se dissesse
Vá.
Ele obedece,
Olha longe,
Se curva,
E sai em silêncio,
Eu ainda estou parada,
Bato os pés,
Toco meu cavalo
De leve,
Ele anda.
Meu peito se sobressalta,
É alto,
Eu confesso que sinto medo,
Estou sozinha,
Mas sigo.
Onde estará,
Eu lhe disse vá,
Ele apeou do cavalo,
Pegou a corda,
O amarrou na cocheira
E seguiu.

Pra quê lembrar
Ou querer perdoar,
Ela me pediu para partir,
Não irei retornar.
Ele pensa,
Distante e pondo confiança
No que raciocina.
Senta no banco da moto,
Se segura no pé direito,
Levanta o capacete
Assenta na cabeça
E olha para longe.
Liga a chave,
 Vê o ponteiro do velocímetro
Mexer-se no painel,
Solta o freio aos poucos,
Segue.
Segue reto
Sem pensar em nada,
Lá da rua onde passa,
Vê seu cavalo a cavalgar sozinho,
Mais a frente
A sua garota,
Tudo foi recente
E as lembranças que sopram
Chegam com o efeito de ontem,
Ela anda,
Ereta e segura...
Ele cruza tão rápido,
Mantém as imagens tão nítidas
Que aos sobressaltos de seu coração
Nunca poderia dizer
Que se deve a vê-la,
É como se a deixasse
Para trás,
Conforme o ponteiro
Se adianta,
O motor desconhece
As batidas de seu coração,
Mas como apagar as imagens?
Esquecer.
Ele retorna,
Faz uns curva em cê,
Marca a rua de negro,
Faz queimar o pneu,
Olha fixo,
Levanta o queixo,
Encerra o cê,
Escreve um zero,
Se permite seguir,
Que deveria fazer?

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