“Oi, mãe.
Voltei,
Não grita
Que assusta o bebê”.
A filha fala sorrateira,
Ao entrar na cozinha
Onde a mãe está
Fazendo galinhada,
Com uma sacola
De roupas de um lado
E o filho pendurado
No outro braço.
A mãe para de mexer
As panelas,
Sente-se na caixa de lenhas,
Olha para o fogão,
Coloca outra madeira queimar
E se cala.
“Mãe, o Mauro disse
Que sustentar eu e o bebê
Ficou muito caro pra ele,
Ele preferiu separar-se”.
Ela diz,
Vai até seu antigo quarto,
Solta o bebê sobre a cama,
Põe um cobertor fino
Sobre ele que está suado
E trêmulo.
A mãe corre até a porta
Do quarto:
“ Separar-se?
Eu e seu pai somos
Casados há trinta anos,
Porquê só o teu casamento
Não durou?
Ela indaga ríspida
Da porta.
“ mãe, por favor,
O bebê está infebrado,
Foi demais a briga de ontem”.
A filha diz,
E senta-se na beirada da cama,
Contempla seu reflexo
No espelho do roupeiro antigo,
Sente-se morrer.
“você foi má esposa,
Você errou,
Tenho certeza”.
A mãe reprime,
Então, se aproxima
Da filha
Estapeia seu rosto,
E acaricia o menino
Na perna direita.
“mae, não me bateu
Em frente ao bebê,
Ele se desespera,
O Pedro me bateu demais,
Com muita força,
Eu insisti que ele disse trabalhar,
Ele pegou a folha de pagamento
Socou contra a minha garganta.”
A filha fala chorosa,
Sem fazer alarde,
Contudo, o bebê acordou
Começa a chorar
Convulsiva mente.
“mae, ele me fez engolir
Aquela folha,
Depois pegou o carro
E foi para a casa da mãe dele,
Jurou que não volta,
Eu estou aqui porquê
Consegui carona.”
A filha baixa a cabeça
Sobre seus joelhos,
Seca as lágrimas
Com ambas as mãos,
Joga-as no chão,
Feito chuva de dor.
“Mãe não chateia...”
Ela se altera,
Levanta o rosto
E olha assustada
Para a mãe.
A mãe se espanta,
Dá um passo para trás,
Se cola na parede
E cai em lágrimas.
“ Perdão, filha,
Perdão...”
Ela fala,
Chorando leva
Ambas as mãos no rosto
Da filha para lhe dar carinho.
Nenhum comentário:
Postar um comentário