quinta-feira, 1 de maio de 2025

No Silêncio

Não dou asas a mentiras,
Nem me apego as palavras,
Mas em relatos simples,
Não tardará,
E a dúvida se instalará.
Louca eu seria se esperasse
Que convenceria a todos
Da minha veracidade,
Sabendo que até meus
Sentidos rejeitam
O que testemunharam.
Todavia, acreditem
Em seus olhos,
Não tardará e todos verão
O que digo se concretiza.
Namorei um garoto,
Rapazinho com idade escolar,
Fui preparar o jantar,
Eu trintona,
Gabando-me dos meus dores culinários,
Isto em minha época significava,
Pronta pra casar.
Pronto o jantar,
Mesa posta,
Ele clica no maldito celular:
“pizza gigante com entrega”.
Depois da segunda pratada,
De comer de “encher o rabo”
Ele empurrou com a mãozinha
De dezessete anos o prato
Para a frente:
- estou satisfeito,
Mas a pizza do Kadinho que pedi
Pra comer durante a noite
Lá em casa é muito melhor.
Eu fiquei pasma e estarrecida,
“ a pizza do Kadinho”,
Minha amável comida
Comparada a fest food de rua?
Foi demais para a minha ruína sentimental,
Não tardou,
Limpei a mesa,
Tirei a louça,
Lavei tudo bem rapidinho,
Ao término da limpeza,
Corri para abraçar o demoníaco,
Cobrir o maldito rosto
Com beijinhos demorados.
Ao chegar perto do sofá,
Ele me olha e diz:
- a cerveja está quente,
A televisão está ruim,
Me dá dinheiro que eu vou pra casa,
Preciso pagar o Kadinho.
Antes de eu dizer
Qualquer palavra
O malandro se levanta
Pega minha bolsa,
Vasculha meu dinheiro,
Junta o da pizza,
Me olha sorrindo
Parecendo ter encontrado
Um pote de ouro,
E não aquelas minhas
Moedinhas contadas
Para as contas
E gastos de até o final do mês.
- ah, preciso também de dinheiro
Pra gasolina,
Ah, pra pagar o empréstimo
Do carro que aluguei
Pra te impressionar...
 E foi juntando as moedas,
Catando o que houvesse
Em papel e falando
De gastos inimagináveis
Com alguém ou para alguém
Que eu não imagino quem.
De imediato,
Juntei minha faca do pão,
E finquei sobre aqueles dedos
Grudados a minha parede.
O maldito tinha tanta destreza
Na mão com relação ao dinheiro
Que mexia na carteira
Com uma única mão
E não poupava tostão.
- lhe comunico agora delegado!
No meu mês de namoro
Nada falei
E só levei desaforo,
Estou aqui para dar o relato...
Eu dizia,
Sentada em frente a mesa
Do delegado
Que olhava para eu
E olhava para o Messenger
De seu computador.
- dá licença vó.
Preciso falar com o delegado!
Me cortou a fala
A maldita voz infantil
Que nem precisei buscar
Na memória,
Me puxando para trás
E me empurrando corredor afora.
- a senhora falou por muito tempo,
Precisa comprar dentadura nova,
Organizar está gengiva...
Ele foi falando
E me empurrando
Pelos ombros.
Bem, desisti de falar,
Agora só escrevo,
A você que me ouve,
Não faça juízo,
É outro quem reproduz.

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