sexta-feira, 9 de maio de 2025

O Mulato- Cabra

Manuel, o viúvo,
Era grande proletário,
Dono de terras,
Cultivava cana de açúcar,
Sobrevivia da venda do açúcar.
Precisava de muita mão de obra.
Pedro, pai de Ana Rosa,
Trabalhava no armazém,
Vendia e armazenava alimentos.
Era comerciante reconhecido.
Manuel recebeu em visitas
O padre da cidade
Que trazia com ele uma carta,
Tiago, trazia a carta de Marcelo,
Filho do irmão falecido de Manuel,
Com uma brasileira, Domingas.
Ele comemorava a formatura
Em direito,
Desistiu de ser padre.
- ele deveria ter preferido o celibato,
Ora, no fim das contas,
Serão superiores os negros
Que as cozinheiras!
Deveriam proibir aos cabras
Certos misteres.
Reclamava o próprio padre.
- devo proibir a visita?
Indaga a Manuel com palavras
Inchadas de ódio,
Esmurrando a carta
Das mãos do padre
Sobre a mesa de ipê.
Não deveria ser oferecido
A estes o estudo,
Deveriam ser burros,
Burros, estes bastardos!
Berrou Manuel.
- Ora, Manuel.
Não imagino o pior,
Ver a própria filha casada
Ou ter ela confessada por
Um negro.
Imagine dona Anica,
Sua sogra,
Beijando a mão de um filho
De Domingas?!
E quando vierem seus netos,
Ou próximos filhos,
Pode imagina-los
Apanhando de palmatória
De um negro mais preto
Que está batina?
Esbofarou o padre.
- pra, nestes termos
Nem quero recebe-lo.
Disse Manuel.
- deve recebe-lo
Na qualidade de bastardo!
Encerrou o padre.
Na casa de Ana Rosa,
Chegava um funcionário da casa,
O pequeno Manoelzinho,
De dentes amarelos,
Roupas esfarrapadas,
E orelhas sujas.
O compadre de seu pai,
Daniel, se irritou com a posição
Inferior da criança,
Que sofria saudades da mãe,
Deixada em outro país,
Baixava a cabeça
E nada mais fazia que obedecer.
Daniel ergueu Manoelzinho
 Pescoço,
O forçou a sorrir,
E quando este sorriu
Daniel o definiu cuspo.
Ana Rosa se apiedou,
Chamou a criança
E lhe cortou as unhas.
-sente saudades
E sua mãe?
Indagou.
O menino chorou silencioso.
As lágrimas escorrendo
Pelo rosto negro.
Dias, o funcionário
Passava pela porta da sala,
E pode ver Manuelzinho
Tendo suas unhas cortadas
Por Ana Rosa,
Nutriu apenas ódio
Por aquelas faces escuras,
Saiu dali e levou vinho
Até a casa de uma mulata gorda,
Cheia de filhos,
Conquistou sua confiança,
Recebeu dela todos os seus ouros
Objetos de valor.
Tudo pelo que sonhava Dias
Era ascensão pessoal,
Enriquecimento,
E em tudo que fazia só tinha isso
Só objetivo.
A raiva ganhou os sentimentos
De Dias,
Que nunca teve quem lhe
Cuidasse das unhas,
Fechado em si mesmo,
Feito um ovo,
Fedia feito ovo podre,
Definiu Ana Rosa
Que ele nunca teve coragem
De comprar uma escova de dentes,
Tamanha economia que fazia.
Retornando da casa da mulata,
Pediu ao patrão, Marcelo,
Para ficar no quarto.
Marcelo preocupado chamou
Um médico.
- o que tinha o rapaz?
Indagou Marcelo ao médico.
- aquilo é mais porcaria
Que outra coisa.
Disse o médico,
Receitou a ele banhos mornos.
Banhos. Precisava de banhos.
Ana Rosa ao término
De cortar as unhas de Manuelzinho,
Receitou a ele banhos
Na torneira do lado de fora da casa.
No teor de seus vinte anos,
Ana Rosa já se entristecia
Em razão da solidão,
O médico solícito,
Lhe indicou banhos frios
E passeios.
A idade chegou
E lhe tomava pelas mãos,
Chegou a hora de casar-se
Precisava escolher o marido.
Tinha pouco em vista,
Dias – o Mulato sujo.
Manuel – o proletário,
Viúvo e odioso em seus modos.

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