sábado, 10 de maio de 2025

O Mulato- Prosas, Versos e Pele Ardente

Audaciosa em seus sentimentos,
Pretensiosa de sentidos,
Valorosa em seus desejos,
Ana Rosa amou Raimundo
Por uma noite inteira,
Chegou sorrateira,
Retirou sua calcinha rendada,
Pôs lhe sobre os olhos,
E aperfeiçoou suas carícias,
Provou do amor mais puro,
Do néctar de todos os seus beijos.
Entregou-se como em seus sonhos,
Sonhou com o sol do dia
A acorda-los,
Percorreu cada centímetro
De sua pele negra
Com seus dedos alvos,
Embebeu a ponta do dedos
Em sua volúpia,
Percorreu-o a linhas de desenhos.
Mergulhou neste amor,
Sentiu como se tivesse as estrelas,
E tê-las não lhe significasse nada,
Diante da imensidão
Que foi amar aquele negro,
Sentir seus pelos eriçados,
Seu desejo crescer
E consumir a ambos,
Ele não buscou esquivar-se
Apenas a teve,
E entregou-se.
As horas correram no relógio,
Como se fossem areias
Numa ampulheta aberta,
O ponteiro deslizou
Como se percorresse minutos.
A chegada da manhã,
Ela escondeu-se por detrás
Da cortina vermelha e pesada,
Viu-o dali sem ser vista,
Pode ver o sol bater em sua cor
E resplandecer aquele negro
Ardente e prazeroso.
Ele sorriu,
Retirou a calcinha de sobre
Os olhos
Com indisfarçada estranheza,
Cismou ao ver o objeto
Entre seus dedos,
Soltou a calcinha na beirada da cama,
Sentou-se com ela entre os dedos,
Sentiu profundamente o cheiro,
E pôs ambas as mãos
Sobre o rosto.
Ana Rosa suspirou
Por ver aquela pele negra arfar,
Seus seios sobressaltaram,
Um perdeu-se do sutiã,
Sua camisa de dormir
Ficou molhada e pediu
Colando-se entre as pernas.
Ele olhou em direção ao banheiro,
Foi tomar o banho,
Ela aproveitou sua saída
Do banheiro
Com a toalha a secar o rosto,
Percorrendo seus cabelos,
Nuca e ombros,
E o esperou prostrada.
Ele retirou a toalha,
Fez cara de espanto,
E virou as costas para ela,
Ela sentiu-se tomada de pânico,
Viu-se a perde-lo,
E a ideia a destruiu por completo,
Então, jogou-se em suas pernas,
Pôs-se a lamber aquela cor negra,
A cedência de seus pêlos,
O calor efervescente de sua pele,
Ansiosa por tê-lo.
Depois ajoelhou-se
E pôs a chorar em parar,
Colada com a bunda no chão,
Com lágrimas a hora feito
Uma torrente desenfreada.
Ele não a reconheceu,
Juntou-a através de seu braço
Esquerdo,
Colocou ela de pé
Em sua frente,
Olhou seu rosto,
Não soube expressar
O que sentiu,
Nunca a imaginou de tal maneira.
- prima?
Eu não a esperava.
Ele disse.
- me perdoe os modos grosseiros,
Eu estava no banho...
Contudo,
Ela cansou de fingir,
Rejeitou a mentira,
O quis,
Neste intuito
Jogou-se para beija-lo,
Puxou seu rosto
Com ambas as mãos
E sorveu aqueles lábios negros
Sobre os seus,
Como se fosse um pêssego
Que se abre,
Se rejeita o caroço
Com a ponta da língua,
E suga toda a sua doçura
E pureza,
Movendo sua boca sobre ele
Com prazer imensurável
De quem está a submergir de fome
E tem ao seu alcance
Único pêssego,
Grande, carnudo e doce.
- precisamos nos casar.
Ele disse.
- saia, querida.
Precisamos nos recompor
Para eu pedir permissão
Para Manuel, seu pai.
Ela jogou-se para sobre
Suas pernas,
Até sentir seus prazeres
Se misturar
E escorrer sobre a pele
De ambos.
Então, se foi.
Como nem tudo é perfeito,
Manuel neste mesmo dia
Foi acamado
De temerosa doença,
Nada pode dizer
Ou fazer de importante,
Apenas medicar-se.
Raimundo aproveitou
A oportunidade
E pôs-se a escrever seus poemas
E prosas para o jornal local.
O povo reprovou sua rebeldia
De palavras e pensamentos,
Sua liberalidade para tratar
De assuntos íntimos,
E querer romantizar
Assuntos rotineiros,
Mudas conceitos,
Tratar de valores já estabelecidos,
E por isto,
Considerados imutáveis.
Ficou mal afamado
E irritou-se.
Todavia,
O pior lhe reservava
O mês de junho.

Poema da primeira página:

Acordou a negra,
Assustada e paciêncosa,
Percorreu as escadas
Da senhora branca,
Cuja filha desfalecia,
Nasceu fraca,
Mas branca se fez,
Precisou de leite,
Há quem recorrer?

As tetas da negra escrava,
Derramaram-se em carinhos,
Fez-se o ninho,
Entregaram-lhe a criança 
Aos seus cuidados,
E sabor de negra forte,
De pouco a pouco
Sorveu o leite,
Da manta que lhe cobria,
A negra fez-lhe a veste.

Aniversário de três anos
Da menina,
Branca, grande e forte,
A negra escrava,
Conhecedora das linhas,
Costurou-lhe perfeito vestido,
Presenteou a menina
Com tecido velho.

Imperdoável,
Disse o senhor branco,
Vai ao açoite 
Para recuperar os sentidos,
A criança correu as escadas,
Viu sua ama amarrada,
Ferida,
Do seio que lhe deu comida,
Sobrou a ferida
Do ferro quente 
Que o derreteu até a carne.

A alforria,
A alforria,
Disse o senhor branco,
Diante do seu domínio,
De medo por estar diante 
Da menina tão criança,
A negra jogou-se e jogou-se,
Estava com uma algema
De ferro a prender suas mãos,
Dilacerou seus músculos,
Perdeu seus movimentos,
Agora vive na casa de negros,
A senzala é seu lugar,
Cuida de seus iguais,
Não serve para as paredes
Tão quentes e grandes demais,
Não é vista ou sai lá fora.

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