Aconteceu de ir dormir
E o céu estar estrelado
E lindo como nunca,
A lua brilhava intensa,
Profunda e delicada.
Com um destes brilhos
Que convida ao amor.
Porém, ela serviu laranja
Num grande copo de vidro,
Rememorou tempos da infância,
Abraçou o esposo,
E foi dormir.
Um pouco mais tarde
Que de costume,
A noite mudou,
As estrelas se dissiparam
Em inúmeras nuvens,
Contudo,
Parecia ser uma única,
Uma espécie de massa cinza
Escondida no escuro,
Pesada e profunda.
Foi como se o céu descesse
Para a terra,
Tudo se apequenou,
Menos o sono de Adriana
Que puxou o cobertor
E dormiu abraçada a Pedro.
Alguns juraram terem
Vistos relâmpagos,
Até mesmo poucos raios,
Outros choravam abraçados,
Outros fugiam para longe
Sem dizer nada.
No entanto, uma música
Romântica soou distante,
Em meio a águas sujas
E turbulentas do rio
Que arrebentou estruturas,
Com o auxílio de poucas
Horas chuvosas,
Invadiu a cidade
E ganhou tudo a sua volta.
Tomou ruas,
Levou para seu peito
Casas inteiras,
Carros desabrigados
E carros de dentro da garagem
Foram parar nos telhados.
Alguns cães
Se encontraram no telhado
De uma casa
E latiam para o alto
Assustados
Devido ao leito
Que apenas aumentava
E arrebentava portas,
Janelas e paredes.
Carregou para o fundo
Famílias inteiras,
Móveis, calçadas,
Asfaltos das ruas
E o que mais em encontrou.
Mas, um pouco distante
Daquela praça pública,
Onde que haviam
Alguns habitantes agarrados
Em árvores,
Não via-se luz alguma,
Todavia, ouvia-se música.
Uma música romântica,
Clara e doce
Que dizia:
“Minha irmã,
Você está longe agora,
Sinto saudades,
Queria te abraçar,
Estar perto de você.
Pois é,
Estou grávida,
Você é a primeira a saber,
Antes de meu esposo,
Ou nossos pais,
Ou nossos irmão,
Escolhi contar para você.
Porém, quando eu souber
Se é menino
Ou menina,
Eu contarei primeiro a ele,
Para meu esposo,
Para ele sentir-se seguro
E amado como você,
Porquê não lhe dou
Toda a preferência,
Eventualmente,
Escolhi dar a ele,
E algumas poucas vezes,
Ao nosso irmão.
Você me entende,
Você também é assim,
Espero que sinta saudades,
Volta logo,
Eu sinto sua falta,
Seu cunhado também sente.
Te amo pra sempre.”
Os rapazes que seguravam
Velas e lampiões acesos,
Estavam num número de cinco,
Ali era ponto de encontro
De amigos,
Faltavam muitos,
Talvez, tivessem morrido,
Mas, eles reconheceram
A música
Era do celular de uma garota
Moradora nova na cidade,
Ela tocava quando a irmã ligava.
A mãe de um dos garotos,
Se levantou de um caico,
Pegou no ombro do filho
E o olhou em prantos.
Se compadeceu da garota
Que dormia,
Com a luz apagada,
Não ouvia o telefone tocar,
Talvez, estivesse afogada,
Talvez morta imprensada
Em algum móvel,
Mas a irmã,
De longe,
Ainda chamava.
O garoto apertou
A mão da mãe
Com carinho
E deu um beijo,
Pegou o remo,
E enfrentou a corredeira
De água suja,
Foi até lá,
A janela estava
Parte aberta e parte fechada.
Ele empurrou,
Por ela já passava a água,
Encontrou a garota boiando
Sobre a água suja
E desmaiada,
Nadou até ela
E a salvou.
Depois voltou,
Pegou o celular que ainda tocava,
No alto de uma prateleira,
Viu a fotografia dela
Com o esposo,
E buscou por ele,
O encontrou embaixo
De uma cômoda imprensado.
Foi fácil retira-lo,
Depois se dirigiram ao hospital,
Remando o caico de madeira,
A garota se salvou,
O rapaz morreu.
Ela ficou em observação
Esperando por ele,
Sempre segurando sua mão,
Não foi suficiente.
Descobriu-se grávida,
Voltou a antiga cidade,
Do lugar obteve apenas notícias,
A ponte que ficava a quilômetros
Pra cima daquela rua,
Onde ela morava,
Se rompeu pouco tempo depois,
Com o filho nos braços,
Oito meses após,
Ela viu no noticiário
Buscarem por pessoas vivas.
Ela sentou-se num
Banco de madeira,
Pegou o filho e abraçou,
Na sala ao lado,
A filha de sua irmã
Acabava de chorar
Pois haviam nascido,
Ela se emocionou
E pediu para Deus
Que mostrasse
Quem havia salvado ela.
Os policiais locais
Encontraram dois corpos
Abraçados,
Enterrados na lama
Na beira do rio que transbordava,
Uma raíz os impediu
De ir mais longe.
A ponte rompeu com dois
Caminhões enormes sobre ela,
Os caminhões e a ponte
Carregaram tudo
Junto com a corrente de água
Da chuva
Que não parou de cair.
Nada ficou inteiro,
Nem mesmo aquele final
De praça pública
Onde antes a viram
E foram até ela salvar-lhe.
Os policiais retiraram-nos
Da lama
E jogaram seus corpos
Para fora da água,
Ela pode reconhece-los
Perfeitamente.
Abraçou o filho
E chorou,
Buscou pela irmã,
Se ajoelhou com o filho
Nos braços
E beijou a mão dela.
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