Caiu a noite,
A lua iluminou as frestas
Da velha casa
Feita em madeira bruta.
O avô Alfeu mexia o brasido
Dentro do fogão a lenha
Que começava a apagar-se,
A avó Marica colocava lenha,
Quando ele pegou Sandra
No colo e iniciou
A contar sua história:
- em tempos antigos,
Quando o vô veio morar aqui
Não existia cidade,
Nem mesmo a maior
Das proximidades,
Tudo foi aberto a mão...
Ele juntou seus cavalos,
Eram três belos animais,
Convidou sua esposa,
Recém casados,
Decidiram buscar
Uma vida melhor,
Mais facilitada.
Pegaram algumas peças de roupa,
Cinco pães caseiros,
Vinte quilos de salame
Recém defumado
E rumaram.
Ora caminharam,
Outrora montados.
Cruzaram a ponte
Que dividia os dois estados,
Para passar o rio
Usaram uma ponte de madeira,
Que estendia por 200 metros
Sobre o rio de água doce.
Algumas pessoas iniciaram
A travessia
E optaram por morar
Do outro lado do rio Uruguai.
Seis gigantes louros
Foram derrubados para
Construir a ponte.
Com um serrote,
Eles foram serrados,
Depois de caídos,
Foi separada a copa
E as raízes e o mais
Foi estendido sobre o rio,
Usando bois, cavalos e homens,
Outros trinta foram derrubados,
E deles fizeram barrotes e
Tábuas.
Nestes meses em que
Alceu e Marica passaram
Auxiliando na construção da ponte,
Eles receberam alimento,
E três serrotes compridos,
E cinco serrotinhos curtos.
Alceu puxava o serrote
De um lado,
E Marica guardava a saia
Entre o meio de suas pernas,
Junto de seu avental
De flores silvestres
E ajudava a puxar para
O outro lado.
Não tardou,
A ponte foi construída a pregos.
Ele ganhou também martelo, facão , foice
E pregos.
De mãos dadas sobre
Seus cavalos
Eles rumaram com seus
Objetos e pertences
Ao lado do matagal.
Um novo estado de abria
A facão, foice e serrote.
Um pequeno caminho
Foi aberto para cruzar
E ir adiante,
Não tendo mais que mato
E capim no horizonte.
Se adiantou de muitas pessoas,
Adentrou por quilômetros,
Passou por um pequeno vilarejo,
Com poucas casas de madeira
Construídas.
Ali, também, não havia estrada.
Ele beijou a mão de sua amada,
E iniciou seu trabalho:
Fez maior o carrero entre meio
Ao mato fechado.
De pequeno lugar
Que cabiam poucas pessoas,
Abriu um estrada.
Não haviam carros,
Então, fez amizade
Com um ferreiro
E construíram uma espécie
De embarcação a tração animal
Que chamaram de carroça.
As estradas cheias de capim,
Agora cediam espaços
Às carroças que passavam
Carregando as pessoas
De um lado para o outro.
Recebeu por seu trabalho,
Ganhando duas carroças
E a canga para os bois.
Também, uma junta de bois,
Composta por dois
Enormes bois gordos.
Encangando os bois,
Teve poucas divergências,
Amarrou os três cavalos
Atrás da carroça,
Colocou seus pertences
Dentro da carroça
Junto com sua esposa e ele,
E seguiram por mais alguns quilômetros.
Assim, se fez a primeira cidade
Do segundo estado deste país,
Brasil,
A cidade de Chapecó,
No estado de Santa Catarina,
Contudo, ele andou um pouco mais,
Encontrou o rio Chapecó,
E ficou por entre suas margens,
Morando na cidade
Que recebeu o nome de Nova Itaberaba.
Ali ele fez o primeiro carrero,
Aumentou em poucos dias
Para estrada,
Dando a ela tamanho suficiente
Para que pudesse passar
De carroça.
Adquiriu grãos em Chapecó,
Limpou uma parte do mato,
Lá plantou,
Logo depois da segunda colheita,
Teve seu primeiro filho,
E assim, sucessivamente,
Agora, sessenta anos após
Recebia no colo seus netos.
Sua casa era feita de madeira,
Das árvores que ele próprio
E a esposa derrubaram,
E cerraram com o serrote,
Depois pregaram para fazer
De parede e chão.
Para o teto usou folhas
De palmeira,
Entrelaçadas como se fosse tricô,
Sobrepondo as tábuas
Que colocou.
Plantou milho, feijão, amendoim,
Soja, ervilha e outros grãos.
Usou tudo para alimento.
Plantou vegetais e legumes.
Estes ele trocou com os vizinhos
Por uma novilha,
Este foi o início de sua boiada.
Da novilha não tardou,
Nasceu um bezerro,
Dela veio o leite,
E ela foi mantida com carinho.
Os cavalos,
Também ganharam fêmeas,
E foram sendo valorosos
Conforme outros moradores
Iniciaram o mesmo percurso
Dele.
Vinham do mato galinhas
E bichinhos desta espécie,
Todos foram sendo cuidados,
E o terreiro se encheu de vida.
Agora, sentado sobre um cepo
De lenha nativa,
O avô abraçava a neta,
Tinha sonhos para a terra
Produtiva e vasta que possuía.
Para pescar,
Ele derrubou uma árvore,
E farquejo o tronco
Por longos dias,
Abrindo um buraco
Horizontal no meio dele,
Onde couberam dez pessoas.
Fez também uma espécie
De colher gigante
Que usou para mover
O caico na água.
Com os galhos,
Ele uniu um ao outro
Usando cipó mil homens,
Prego e ripas,
E fez uma embarcação
Que denominou balsa.
Ela não afundava na água,
E transportava até mesmo
Os bois para as pastagens
Do outro lado do rio.
Houve guerra por estas terras,
Pessoas se escondiam
Entre moitas desejando
Ferir e apoderar-se
Do que o outro tinha.
Ele sempre soube se defender.
Decorrido estes sessenta anos,
Veio o asfalto ,
E tudo mudou.
Foi como se milhares de anos
Tivessem decorridos.
Porém, o asfalto ficou longe
Da cidadezinha de Nova Itaberaba,
Mas os moradores o conheceram.
Pasmados, eles abraçavam
Seus entes queridos
E andavam amedrontados
Com aquilo.
Chegou também veículos a motor.
Acidentes ocorreram
De toda a forma.
Entretanto, Alfeu não desistiu
Da carroça.
Aos oitenta e três anos
Marica faleceu
Sem nunca ter estado
Dentro de um carro.
Vinte anos antes,
Aos setenta anos,
Alfeu partiu
Também sem ter
Colocado seus pés
Num veículo destes.
As casas eram todas feitas
Em madeira,
Possuíam, as vezes, por assoalho
A terra do chão.
Noutras, era feito de madeira.
No máximo,
Elas possuíam dois pisos,
Um porão onde era guardado
Os mantimentos da casa,
E o andar superior.
Altas e feitas de telha de barro,
O asfaltou trouxe estas ideias.
As vezes, se entendiam para trás
No horizonte,
Tendo muitas janelas.
Algumas portas.
Uma varanda e uma área de lazer
Aberta e cercada por
Ripas de madeira.
Alguns se adiantaram,
E fizeram galpões,
Estes tinham o mesmo
Formato das casas
E se entendiam.
No entanto, não eram
Cercados por tábuas,
Eram abertos e altos.
Casas mais antigas
Eram abandonadas
E chamadas de paiol,
Lá costumava se guardar
Os grãos e utensílios da roça.
Não havia luz,
Usava-se lampião.
A água era retirada
Direto da nascente,
Onde se capinava
Um buraco ao redor
Para encher e armazenar
A água,
Que era buscada em baldes.
O asfalto trouxe a manga
Feita de plástico,
Ela passou a puxar a água
Do pocinho
Para dentro de casa,
E soltar através da torneira,
Isto foi de enorme alegria.
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