Revolução é sinônimo
De conquistar espaço,
Expandir horizontes,
Em meados de 600 em Paris
Não foi diferente.
Declarada a guerra,
O comércio saiu de suas casas
E foi para a rua,
Armou -se mesas nas calçadas
E fez-se ali seu trabalho.
O que pode ser comercializado
Em carrinhos ambulantes foi,
A vida morreu entre quatro paredes,
Tudo ocorreu a olhos vistos,
Inclusive o comércio do corpo
Em praça pública.
Os bens eram doados aos soldados,
Andava-se descalço,
O dinheiro se desvalorizou,
O valor se concentrou
Em ganhar a guerra
E no que viabilizasse a vitória.
O comércio foi substituído
Pela fabricação de armas,
A cada arma nova feita,
Um soldado posicionava-se
Com ela na vitrine
Para que o olhar da rua
A contemplasse
E todos paravam seus afazeres
Para aplaudir a nova arma.
No mais,
Tudo passou a ocorrer nas ruas,
Das ruas emergiu um homem,
Este incapaz de pagar pelos estudos,
E tendo a alfabetização por importante,
Tornou-se padre.
Morto seu último parente,
Adquiriu sua herança,
Em posse,
Desistiu da igreja.
Nestes tempos,
Até mesmo as igrejas
Foram demolidas,
Pouco ficou intacto,
O que permaneceu em pé
Dedicava-se a guerra.
Este homem era a consciência
Mais pura,
Todavia rodeada em sombras,
Feito o céu que contém luz,
Ele guardava em si
Uma serenidade obscura.
Cheio de virtudes,
Atrelado a verdades,
O sacerdócio produziu nele,
O que ele foi,
Fora do terreno sagrado
Não deixou de ser,
Padre.
Ele brilhava como homem,
Porém, vivia na noite,
Não abandonava uma ideia
Se a ela deu início,
Sem dar-lhe o fim.
Pensava com encarniçamento
Falava com todos,
Por isso, reconhecia as línguas.
A verdade lhe demoliu a fé,
Não podendo deixar de ser padre,
Sentia-se mutilado.
Abandonou a família,
Adotou a pátria,
Trabalhará si próprio
Para ser considerado homem.
Recusando mulher
Adotou a humanidade.
Embora pleno,
Guardava um fundo vácuo,
Seus pais o retiraram do povo
Para guarda-lo sob os alicerces
Da igreja,
Derrubado estes muros,
Ele retornou ao povo.
Voltou para a rua,
Apaixonado,
Olhava a todos com paixão,
Se comparecia dos que sofriam,
Proibido de amar,
Foi fácil para ele odiar.
Odiava as mentiras e o presente,
Sozinho, acreditou poder
Prever o futuro,
Via-se como um vingador
Que odiava a miséria.
Se o sofrimento infunde horror,
No que se referia aos miseráveis,
Ele não se adaptava a isto,
Procurava as úlceras
Para beija-las,
Certa vez,
Um homem iria morrer
Com tumor na garganta,
Ele impediu que este se afogasse,
Ele aplicou a boca no tumor,
Fétido, e talvez, contagioso
E na proporção que a boca enchia
Ele esvaziou o abcesso,
Sugou-o,
Salvou o homem.
No entanto,
Não faria isto a alguém
Que não fosse pobre,
Era desta forma que ele era.
O ódio é fecundo em enganos,
Com uma palavra ele ganhava
Os pobres que sofriam
Ao seu lado,
Impedia crimes
E causava os que queria
Da mesma forma.
Em agosto,
Tremendo de frio
E maltrapilho,
Levou o povo a derrubar
As estátuas das ruas,
Odiou a cara dos reis,
Foi chamado de demolidor.
Fez das estátuas pedaços,
Nada fez contra a guilhotina
Que permaneceu erguida
Ao olhar de todos.
Desejava derrubar
Toda a estátua do rei,
Abrir um sepulcro onde estavam,
E derrubar lá a monarquia.
Odiava o rei que decretou lama
Ao povo.
Ele era destes homens
Que tem dentro de si uma voz
A qual é ouvida por todos.
Possuía a certeza de uma flecha,
De olhos vendados,
Se ficava no alvo
E rumava direto para ele,
Sem desvios.
Fatal e reta.
Nestes derrubamentos
De estátuas muitos morreram
Soterrados,
Certa vez,
Ele ofereceu o braço
Para Joci passar
E teria levado-a até o fim
Da linha
Andando sobre cadáveres,
Não fosse Aldo a chamar
Para um beijo.
Ela trocou a passagem
Sobre os cadáveres
Por um beijo de Aldo.
As ruas eram cobertas por pessoas
Que agrupadas
Levavam um cartaz consigo,
Este cartaz tinha uma frase
Que a longa distância
Definia qual partido na guerra pertenciam.
Ele era um homem honesto,
Valorizava a verdade,
Os crimes sentiam-se lisonjeados
Vendo-se presididos pela virtude,
Liderados por ele,
A corromper suas dignidade,
Deformar seu caráter.
A violência era o mais temível
Nas revoluções,
Ninguém o via chorar,
Era justo
E odiava a intriga,
Era reconhecido como
O homem negro.
Tinha as mãos grandes
E calejadas,
Olhos atentos,
Ouvidos apurados,
Um falar alto e brusco,
A boca triste,
E o semblante carregado
De indignação.
Ninguém o reconhece
Pelo nome,
Mesmo hoje.
A história tem desses descuidos.
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