terça-feira, 3 de junho de 2025

O Touro

Sobe meu velho pai
No vigor de seus quarenta
E cinco anos
Na tábua da cerca do potreiro.
Apoiado no alicerce
Ele toca o berrante,
Puxa o chifre do boi
Bem para o alto,
Sopra o chifre com força,
Chama as vacas,
É hora da ordenha,
Vamos tirar leite.
Minha vaquinha,
A favorita,
Vem logo lá embaixo,
De longe eu a vejo
Calçada com minhas botinhas
De frio,
Eu aos meus quinze anos,
Já me sinto segura,
Subo no alto do poste
E a chamo:
- venha, vaquinha,
Venha.
Ela para e olha na minha direção,
Parece entender o que digo,
Abaixa a cabeça
E segue seu rumo.
Aos poucos elas se amontoam
Rumo a saída,
Meu pai salta da cerca
E vai abrir a porteira,
Eu embasbacada com o gado,
Entro no potreiro,
Com um salto
Estou sobre a grama farta,
A farfalhar por entre meus pés.
Contudo, o touro é bicho bravo,
Me vê lá debaixo
Do pé de jabuticaba
E não pensa duas vezes,
Corre em minha direção,
Eu sinto medo,
Não tenho para onde ir.
Próximo a porteira
Meu pai grita com ele:
- foge boi jabuticaba.
Ele cessa num instante,
Olha meu pai,
E eu me sinto segura.
Todavia, amedrontada
Me coloco para o meio
Do potreiro,
E o boi vira o rosto,
Seus olhos grandes me pegam
Em cheio.
Ele bufa,
Sapateia com seus pés,
Bateu o pé no chão
E o arrasta,
Faz arrancar grama,
A novilha está baruiando,
Ela entrou no cio
E o touro decide me odiar.
Ele correu atrás de mim,
Eu despenco ladeira abaixo
Feito um cacho de banana
Que simplesmente cai,
Um amontoado que perde
A razão de tanto que foge.
O touro gosta disso,
Berra alto,
Se torna um amontoado
Gordo de carne
e dois chifres enormes
A me perseguir por onde eu for,
Corre sem direção
Parece que vai se chocar
Com a cerca
Porém, no mesmo instante estaca,
Se vira e retorna para onde estou.
Eu perco o rabicó
Correndo adoidada,
Cabelos ao vento
Voando para o alto,
Lá de cima
Meu pai abre a porteira,
E o chama.
Ninguém o ouve,
Todavia, ele recorda
De puxar o berrante,
E levanta-se sobre a porteira,
Que agora aberta,
Corre com ele para o lado,
E ele esquece de si próprio,
Toca o berrante bem alto.
O touro para,
Se vira e o ouve,
Gosta do ruído,
Vai até meu pai,
Já manso e calmo,
Eu consigo me voltar,
Passo aí seu lado,
Esbaforida,
Me coloco fora do potreiro.
O berrante ganha vida
Nas mãos do meu pai,
E o touro se amansa,
As vaquinhas saem para fora,
Nós as levamos até a estrebaria,
Tiramos o leite.
E a noite chega.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Transporte Ilegal

Terceiro ano de trabalho Na mesma empresa, Cansada de ir ao serviço No transporte público, Vez que, no mês anterior, Um rapaz ...