sexta-feira, 6 de junho de 2025

O Último dos Mendes

Houve guerra contra o soberano,
O rei foi detido,
Seu suserano foragido,
Tentou buscar auxílio,
Não soube para onde ir,
Nem a que se apegar.
Disperso por entre o bosque,
Encontrou uma linda rocha,
Como se estivesse sentada,
Ereta rumo ao alto,
Uma espécie de cama elevada,
Sentiu um sopro de esperança,
Ao vê-la,
Foi até lá.
Logo além dela,
Situava-se o vilarejo vizinho,
Onde por sorte do destino,
Ou manobra de um Deus soberano
Poderia encontrar refúgio,
Até mesmo ajuda
Entre os integrantes do povo.
Subiu usando de toda
A força de suas pernas
Até a rocha,
A partir dela teria uma visão
Mais ampla do lugar,
Instante em que decidiria
Adentrar no lugar
E pedir ajuda por sua família,
Ou empreitar em fuga
Para lugar distante.
Ao achegar-se a pedra,
Já era fim de tarde,
O sol se punha,
Mas a pedra estava quente,
Ela lhe trouxe calor,
Seu corpo arrepiou-se
Devido ao sopro de vento
Que passou,
Lá distante se aglomeram nuvens
Numa densidade assustadora,
Iria levar dentro em pouco,
A estação do calor se perdia,
Ele não tinha roupas de frios,
Sem auxílio morreria
Nesta mesma noite.
A fome o fazia querer
Comer a terra,
E o que tivesse sobre ela,
Se jogou sobre a grama verde,
Levou a mão e arrancou
Um maço,
Olhou as nuvens de frio vindo
Para sua direção,
Estremeceu ainda mais.
Com o maço de grama,
Sentou-se levando-o a boca,
Aconchegou a coluna
Na pedra quente,
Sentiu um calor tocar-lhe
A espinha,
Cruzar por seus braços,
Rosto e pernas,
Se viu vivo
Outra vez.
Ainda comendo a grama,
Olhou para o lado da pedra
E encontrou um cartaz
Com um desenho de si próprio,
Onde estava escrito:
“Procura-se,
Paga-se recompensa por sua cabeça.”
Lágrimas lhe inundaram o olhar,
Sua única esperança
Estava a sua frente
Naqueles estranhos do vilarejo,
Precisava deles,
Agora mais que nunca
Desejou ter sido uma pessoa
Gentil e caridosa com os estranhos,
Todavia, não teve lembrança ruim
De atitude sua para se apegar
Como meio de martirizar-se,
Foi bondoso em tudo que pôde,
Humano em casa atitude,
Porém, agora tudo que fez
Durante uma vida
Lhe pareceu pouco.
Nisto, um maltrapilho o viu,
Se escondeu por detrás da pedra,
Num movimento de reflexo,
Se segurou nela
E lhe pôs a mão sobre o ombro:
“pego”.
O velho deu um pulo,
Não foi contido,
No entanto parou e virou-se:
- qual meu crime?
Ele perguntou.
-ser quem é.
O mendigo respondeu.
-eu nunca lhe fiz mal,
Não me puna
Pelo que nunca cometi.
O mendigo riu.
- não irei lhe fazer mal,
Imagine,
Eu sou um mendigo
Moro nas ruas,
Nada tenho
E nada preciso.
O velho o olhou,
Viu o homem mal vestido,
Realmente, um mendigo.
- acredito em você.
Ele respondeu,
Deu um passo a frente
E apertou o ombro do homem.
- então, venha comigo,
Se aproxima a noite.
Disse o mendigo.
E se colocou a frente do homem
Apontando a direção
Com a mão aberta.
O velho sem ter saída,
Decidiu confiar neste
Que o viu,
Estando descoberto
Sentiu-se como se estivesse preso.
A casa do mendigo
Se localizava embaixo
De uma enorme árvore,
Entre suas raízes,
Num buraco escavado na terra.
- venha, aqui é seguro.
Ninguém sabe deste lugar.
Ele recomendou
Retirando os galhos secos,
E folhagens que cobriam
A entrada para o buraco
Por entre raízes enormes
E grossas.
Para sentar-se havia
Uma espécie de palha seca
Que cobriam os desenhos
Feito pelas próprias raízes.
- aguarde, eu tenho chá quente,
Que planto e retiro da terra,
Isto ninguém quer,
E tenho perdiz assado
Que consigo através de caça.
Minha vida é humilde,
Tenho apenas o que encontro
Mas aqui a lei não entra
E a polícia não me acha.
O velho confiou no que
O mendigo dizia,
Abrigou-se sobre a raiz
E se sentiu seguro,
Lá havia uma fogueira,
Sobre sua cabeça
Havia mais raízes,
Um enorme tronco de árvore
E terra.
Enquanto o mendigo
Colocava o chá para aquecer,
Ele conseguiu estender
As pernas para se abrigar,
Neste momento,
O mendigo puxou uns espécie
De cipó que descia através
Da própria árvore,
No mesmo segundo
O velho se viu com o cipó
Enrolado no pescoço
E não teve como evitar ser puxado
Para fora da casa improvisada,
Através de um buraco
De planas e terras.
Ele voou para fora
Muito rápido,
Indo parar na copa da árvore,
Lá em cima
Próximo às nuvens frias,
Enforcado pelo cipó.
O mendigo saiu para fora,
Depois de servir-se
De sua chaleira de chá quente,
Olhou o velho pendurado
E sorriu com a xícara entre
Os dedos:
- agora só falta a recompensa.
Um vento frio soprou
Trazendo neve
Por entre sua brisa,
O corpo de velho balançou,
E o mendigo se encaminhou
Ao vilarejo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Transporte Ilegal

Terceiro ano de trabalho Na mesma empresa, Cansada de ir ao serviço No transporte público, Vez que, no mês anterior, Um rapaz ...