“Ora, por quê responde-me
Tão irritadiço,
Deixa de braveza
Que desmanchou estas suas
Rugas de expressão de raiva
Da testa aos mil beijos,
Meu amor”.
Assim, Mariquinha respondeu
Ao primeiro ímpeto de raiva
De Silvio.
Ele, contudo, acostumou-se
A raiva e desistiu de seus carinhos
Com a mesma facilidade.
Porém, está raiva ganhou
Mais expressão com o casamento.
“Desmanchar minhas rugas?
Sou velho para você agora?!”
Ele indagou,
Retirou os chinelos
Que calçava
E bateu com eles
No rosto dela,
Até deixar a marca,
Até fazer sangrar,
Até quebrar seu nariz,
Até quebrar seus dentes
E sucessivamente.
O tempo de casados
Fez aumentar o amor,
Tanto quanto lhe aumentou
O ódio.
Masariquinha foi a primeira
A se cansar,
Arranhou novo amor,
O chamou de homem,
E contou a ele suas dores,
Ramiro, assustou-se
Com as primeiras marcas.
No dia em que Mariquinha
Foi jogada para fora de casa,
E empurrada de cima
Da escada para a calçada,
Aos gritos e solavancos de Silvio,
Ramiro se irritou,
Muniu-se de uma arma,
Estacionou em frente a casa dele e gritou
Ao sair do carro
Rumo a porta:
“Permita a Mariquinha
Que entre para a casa
Que também é dela,
E não a fora!”
Lá de fora
Ouviu o riso alto
E sonoro de Silvio.
Irritou-se disso,
Abriu a porta
Que não estava trancada
E atirou uma única vez
Contra Silvio que estava
Sentado no sofá
Assistindo a televisão.
O tiro acertou em sua cabeça,
Perfurou até a televisão,
Apagou-a depois de a tela
Ficar primeiro escurecida,
Depois, ter algumas listras
Coloridas, então, veio o escuro.
Nisto, Silvio apenas
Pendeu a cabeça para a frente,
E ficou estagnado
Sem respirar
Nova vez.
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