Cassie chegou tarde
Ao velório,
Vestida de negro,
Retornou a velha morada,
Ver o esposo,
Então, morto.
O encontrou dentro de um caixão,
Guardou suas lágrimas,
Estava grávida,
Precisava poupar-se,
Então, o marido foi antes,
Desfaleceu e fez novo caminho,
Agora ele lhe guardaria,
Cuidaria os portões do céu,
A espera-la,
Assim esperava ela,
E assim permaneceria:
A sua espera.
Ela não sabia se estava
Porvir um menino
Ou uma menina,
Mas, era seu primeiro filho,
O sonho a consumar-se
Na família.
O velório duraria três dias,
Seria aberto ao público
No amanhecer,
Por vinte e quatro horas
Os moradores locais
Estavam convidados a despedir-se.
Há dois meses,
Ela partiu para a cidade,
Deu a ele um beijo na testa
De despedida,
E apertou sua mão com força,
Agora, a sua força diminuiu
Consideravelmente,
Ele estava gelado,
De olhos fechados,
Lábios cerrados.
Não haveria outro abraço quente,
Um novo olhar de vai bem,
Uma nova promessa de amor,
Ou mesmo o casual eu te amo.
Nem mesmo um abraço.
Nem adeus.
Aberto o funeral,
Ela cansou de chorar,
Ouviu ruídos estranhos
A noite,
Sem ele para protege-la
Tudo ficou mais difícil,
Mas, optou por ser forte,
Pegou uma vela e seguiu
O ruído assustador
Que não cansava de arranhar
E fazer barulhos estranhos.
Chegou próxima,
Cada vez mais perto
E percebeu que vinham
Do sótão,
Pegou uma escada,
Soltou embaixo do alçapão
E subiu até lá.
Iluminado pela vela
Ela viu seis pares de olhos brilhantes,
Que mais pareciam com pontos
De luz móveis,
E lá estava o barulho.
Ela perdeu o equilíbrio
Mas conseguiu manter-se em pé,
E protegeu-se de sofrer uma queda,
Arfou o peito,
Lembrou de ser forte
E subiu mais perto.
Estendeu o corpo para a frente
E repousou inúmeras velas acesas
Com a luz da anterior,
Então, viu o que era,
Se tratava de um ninho de gatos
Pretinhos de olhos verdes,
Não via-se nada deles no escuro,
Contudo no claro
Eram os mais perfeitos animaizinhos,
Eles estavam escondidos
Amedrontados.
Sorrindo,
Ela decidiu lhes dar carinho,
Subiu até lá
Para ampara-los,
Com os gatinhos em mãos,
Abraçados a ela,
Ela tropeçou em dois quadros
Enormes que caíram no soalho,
Mas, não quebraram.
Lá estava a fotografia do esposo,
Em tamanho real,
Mas pintada em tela,
Ao lado da dele encontrava-se
Uma dela própria,
E em frente havia outra
Que parecia ser de uma criança.
Ela pegou os quadros
E levou para baixo,
Então, pendurou na parede
Do quarto,
Olhando com mais atenção
Viu que havia assinatura e datas,
Contudo, era datado de trezentos anos passados,
Ela assustou-se,
Com as mãos trêmulas
Abriu o quadro menor,
E lá havia uma menina.
Ela estava grávida de Rubens
Há trezentos anos atrás,
Nunca pode fazer um retrato
Ao seu lado,
Porém , ela teve uma menina,
E mexendo o quadro menor,
Ela viu uma espécie
De vestido ao lado dela,
Então, ela percebeu que poderia
Abri-lo até torná-lo maior,
Ao fazer isto,
Se viu ao lado da filha.
Todavia, com roupas antigas,
Data extremamente longínqua,
Mas, o rosto do esposo
Era idêntico e o seu também.
A filha tinha os traços dele
Nítidos em seu semblante,
O sorriso dela,
E olhava com determinação
Para aquele que pintava o quadro,
Ela sobressaltou-se,
Lembrou de Geraldo,
O amigo íntimo da família
Que cuidava do velório,
Seu coração se acalmou,
Não estaria sozinha
A espera do tempo passar,
Tinha um amigo, também,
De longa data.
Sua mão ficou gelada instintivamente,
A criança mexeu-se dentro dela,
Faltavam poucos meses
Para o nascimento,
Parecia uma premonição,
O destino que tornava
A separa-los também os união
Por vidas e séculos.
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