terça-feira, 5 de agosto de 2025

Lá na Plantação

Meu pai e eu
Iniciamos uma plantação
De manga,
Uma fruta doce,
Difícil de ser encontrada
E nutritiva.
Nossa intenção era vender
De casa em casa,
Talvez, montar uma barraca
Na beira do asfalto
E tirar algum proveito
Destes frutos
Para sobreviver.
Em cada dia
A vida na roça se tornava
Mais difícil,
Plantar milho, feijão
E criar galinhas
Já não supria o suficiente
Para encher a mesa.
Contudo, o vizinho
Artêmio Joseniro não poupava
Esforços em buscar
Comprar a terra,
No entanto, achava
A terra desnutrida,
Fraca para o plantio
E queria pagar o quanto menos.
Isto não nos bastava,
Meu pai nasceu nesta terra,
Eu também e mais meu irmão,
Não podíamos vender
A propriedade ao vizinho
Quê valorizava o quê lhe pertencia
E queria pôr preço no que
Era dos outros.
Contudo, nossos quatro
Alqueires de terra
Nos trazia pouco sustento,
Num primeiro instante,
Quase na época da colheita
O milho pegou fogo,
A palha estava quase seca,
A espiga já se abria
Para ser colhida,
Sem sabermos como
A plantação toda queimou,
Restou cinzas de meses
De trabalho.
Não bastasse,
A chuva trouxe vento,
E o vento trouxe enormes pedras de granizo
Que despencaram do céu
Como se fossem torrentes
De água despejadas a balde,
Isto levou a plantação de feijão,
Catamos os poucos grãos
Ainda verdes,
Quase bons para colher
Para pôr na panela.
- nossa, papai.
Tantas pedras de tamanho
Tão enorme não pertencem
A ventosa dos céus.
Eu disse, triste,
Sentada na terra molhada
Com uma bacia sobre
As pernas
Enquanto catava na vagem
Os grãos que sobraram.
- sim, filha.
É inacreditável.
São pedras grandes demais.
-parece que alguém passou
Com uma madeira,
Levou o que quis
E destruiu o resto,
Depois, jogou gelo
Aproveitando-se do tempo chuvoso
Para disfarçar o mal que fez.
Meu pai sentou
Na terra molhada,
Levantou os joelhos
E não conseguiu conter
O choro.
Minha mãe e meu irmão
Continuaram o trabalho
Até o fim da roça.
De bacia em bacia,
Pé em pé,
Conseguimos colher
Três sacas de feijão verde.
- vamos investir nas frutas.
Falou meu pai.
De manga a manga que colhemos
Plantamos o caroço,
A maioria brotou
E formou muda,
No decorrer de um ano
Conseguimos 50 mudas
Aptas ao plantio.
Minha mãe foi na frente
Desbotando os tocos
Com um facão,
Eu e meu irmão fomos
Afastando as pedras
Para o lado da roça,
E nosso pai foi arando
A terra com os bois.
Em nossa ausência
Alguém invadiu o galpão
Onde estavam as galinhas,
Levaram 20 galos de estimação,
E 10 galinhas ponhadeiras,
Além de todos os ovos
De cada ninho.
Ao chegarmos em casa,
Minha mãe foi colher ovos
Para fazer a massa,
E avistou o galpão sem nada,
Correu chamar meu pai,
Ele pegou um facão
E correu até lá.
Bateu o facão no chão,
Bateu contra o galpão,
Gritou por misericórdia,
Não foi ouvido,
Exceto pelo vizinho
Que ao meio dia tornou
A vir até nossa casa
Nos fazer a proposta de compra.
Não desistimos,
Na mesma tarde plantamos
Todas as mudas,
Fomos até a cidade de carro,
Juntamos o que sobrou
Do milho e do feijão,
Levamos uma balança
E vendemos de porta
Em porta.
Em dois anos
Colhemos os primeiros frutos,
Armamos uma barraca
Na beira do asfalto,
E ficamos lá
O dia todo oferecendo
Os produtos: milho, feijão, manga e ovos.
Agora, trinta anos depois,
Eu retorno com meu filho
Em meus braços,
Meu esposo nos abandonou,
Cansou de viver comigo,
Buscou outra vida.
Eu perdi o emprego,
Não consegui sustento,
Retorno ao lar,
De longe avisto meus pais
Sentados na área
Tomando chimarrão,
As mangueiras carregadas
De manga,
Com seus frutos maduros
Caindo no chão.
Sorrio, já tenho o que fazer,
Tenho por onde começar,
Porém, antes de descer do carro
Avisto o vizinho,
Com a velha proposta esdrúxula
Em mente sobre vender a terra.
Logo, já sei que nosso produto
Não adquiriu valor,
Que a vida está desassossegada,
Lá no galpão os galos cantam
Felizes por nos receber,
Próximo a casa,
Meu irmão joga adubo
Na roça com sua esposa
Ao seu lado
E duas crianças brincando
Sobre a terra por entre as vergas.
Elas pegam a terra
E amontoam para fazer desenhos,
Há esperança,
Eu posso ver isso,
Há alimento,
Estamos a salvo.
A noite sussura por entre
Seus serenos
Que produzem a vida,
Há nela uma sombra
Que caminha comigo
E nos protege,
É meu avô,
Ele permanece.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Lá na Plantação

Meu pai e eu Iniciamos uma plantação De manga, Uma fruta doce, Difícil de ser encontrada E nutritiva. Nossa intenção era v...