De repertório sobre a mesa,
Ela decidiu-se por outro trabalho,
Reativou a carroça do pai,
Amansou os bois,
E pôs-se a lavrar a terra.
Não tinha mais que trinta anos,
Seu pai contava com sessenta,
Enxergava pouco,
Sofria de dores causadas
Pelo esforço do labor rural.
Suas dores quase
O impediam de andar,
Narinta se viu divorciada,
Desde que casou-se
Nunca deixou de sonhar
Com sua carteira artística:
Escrever músicas,
Contar histórias escritas,
Ser famosa,
Alcançar as grandes capas de revista,
Ser convidada a fazer televisão.
Seus sonhos não lhe custaram pouco,
O esposo optou por outra,
Nunca se conectaram para ter um filho
E a ruptura matrimonial
Que ocorreu dez anos
Após o início
Foi natural.
A vida lhe cobrou os sonhos
Que desejou,
Mesmo nunca tendo construído feitos,
Tudo que conseguiu foi
Fazer uma página na internet
E lá expor toda a sua vida,
Em rimas, em versos
Em provas frias.
Agora, o pai estava incapacitado
Para o trabalho,
Não tinha de onde tirar sustento,
Foi obrigada a deixar o lar,
Desgastado e solitário
Para voltar ao lugar onde nasceu.
Puxou as cordas dos bois,
Os fez parar na sombra
De uma bergamoteira
Para se refrescar,
Plantou batatas o resto da tarde,
Colheu mandioca próximo
A noite.
Esforçou-se o bastante
Para conseguir comida,
Agora não morreriam de fome,
Ela ou o pai,
Ambos estavam salvos.
Contudo, chegou o vizinho
Com uma caminhonete dupla da
E o som ligado,
Lá ela ouviu sua rima,
Não liberada e não vendida,
Simplesmente, cantada
Por cantores famosos no país.
Seu primeiro ímpeto,
Foi sentar sobre a sua escada,
Pegar a escova que estava
Ao lado e por-se a limpar,
Sem água ou sabão,
Ali quebrou uma unha
E feriu um dedo.
De repente, após um lapso
De tempo todas as rádios
Nacionais tocavam suas rimas
Através de algum artista famoso,
Ela tirou leite,
Fez o queijo,
Colheu ovos,
Fez o jantar,
Logo após a meia noite,
Uma rádio começou a divulgar
Que a buscavam,
Deram seu nome completo,
Queriam que ela atualizasse
O contato no site
Para que eles pudessem falar
Com ela e conversar
Sobre seus direitos de escritora.
Ela correu até a cozinha,
Abraçou o pai que estava
Sentado em frente ao fogão
A lenha,
Ali, no interior onde estavam
Não havia internet,
Ou meio de acesso,
Mas, sem delongas,
O pai mesmo sendo velho
E doente,
Correu para o quarto
Colocou casaco e calça
De frio,
Pegou as chaves do carro,
E a conduziu através da neblina
Gelada de agosto de geada,
Para até onde pegassem sinal
De internet e ela pudesse
Atualizar número de telefone,
E outros meios de acesso.
Fundo isto,
Dentro do carro parado,
Em meio a noite escura e gelada,
Ela abraçou o pai
Que compartilhava de seu sonho
E acreditava nela,
Voltaram para casa
Com o coração aos saltos,
Agora, era só aguardar contato,
Então, dentro de algumas horas
Eles retornariam até aquele local
Para ter sinal de telefone
E ver as mensagens recebidas
Para então, responder.
Rica.
Inteligente e rica,
Bem estruturada,
Tudo em sua vida iria melhorar,
Desde a casa velha de madeira
Apodrecida,
Que nas primeiras chuvas
Já pendeu para cair,
O telhado esburacado,
O banheiro que cedia
Para a fossa,
A caixa de água muito pequena
Que mal recebia água
Para abastecer a família,
O carro sem pneu,
Com pouco combustível,
Em mal estado da velhice,
Tudo,
Tudo seria substituído
Por casa nova,
Carro novo,
Dinheiro no bolso,
E finalmente, a felicidade
De seu pai que tanto escasseou
A comida para poder alimenta-la,
Tanto trabalhou que agora,
Velho, se rendia a idade,
Tudo seria facilitado,
Porquê um dia seu pai disse:
“filha, eu não sei ler
Uma única palavra,
Você pode aprender,
Mas, se esforçar tanto,
Que você possa me ajudar
Com seus estudos?”
Ela naquele dia
Apenas lhe sorriu,
Hoje seu intelecto os garantiu.
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