Já estou quase
Sentindo o amor
Do vizinho
Pela esposa dele.
É o segundo mês
Depois que eu descobri
Seu horário de tomar banho
E trocar de roupa
Que eu me posiciono
Estrategicamente da minha sala,
Com minha cortina
Semicerrada para vê-la.
Já decorei suas curvas,
Admiro seu perfume,
E tenho preferência
Por seu hidratante.
Agora, encontrei minha coragem,
E escrevi o horário
Em meu vidro
Molhado de suor
E sereno
Em que irei vê-la.
Convenhamos que a sua
Veneziana de madeira
Não me convence
Sobre ela desejar me afastar.
Há dois meses
Que tenho por hábito
Cuida-la,
E me deliciar com a visão
Dela nua,
A desfilar feito uma deusa
Por seu quarto,
Fazendo poses
E apelos,
Que já não acho possível
Que ela me ignore,
Ou não tenha notado
Minha presença.
Estou doente por ela,
Já estou quase
Pedindo a ela
Que se divorcie.
Bem, se aproxima
Do horário expresso no vidro,
Desta distância,
Não há como ela
Não ter enxergado.
Vou-me embora,
Rumo a sua janela.
Chegando ao pátio
Do vizinho,
Não encontrei até agora
Problema nenhum com seu
Portão sujo,
Contudo, minha roupa
Já não está como outrora.
Bem, vejo daqui debaixo
Que a veneziana está fechada,
Está certo,
Porém, a luz do quarto está acesa,
De tempos em tempos,
Ela aparece nua
Na janela,
Este deve ser meu aceite,
De fato.
Me agarro numa árvore,
Subo pelo tronco,
Chego às venezianas
E pulo em direção a ela.
A moça me vê,
Eu aceno,
Me seguro no espaldar
Da janela,
Ela abre a boca,
Faz cara de susto,
Eu sorrio sem jeito.
Indico as venezianas
Semiabertas,
Ela confirma com a cabeça,
Então, é isto,
O convite foi aceito,
Com está informação
Subentendida
Eu movo meus dedos
Para a veneziana
Que se parte ao meio.
Eu perco minhas forças,
E odeio a maneira
Como um tombo
Termina odioso
Quando ao final dele
Você se vê de costas,
Caído no chão,
Olhando para o céu tão distante,
E sua boca exclama
Um grito de dor involuntário.
Contra o involuntário
Não há como lutar,
Ferido,
Enganado,
E abandonado.
Com o custo da minha
Autoestima eu levanto,
Chacoalho a sujeira
Da minha roupa
E vou embora
Depois de um último tchau.
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