As pessoas que olham do alto de um precipício,
Sentem no mínimo um intenso calafrio,
Não são todos que aceitam pular de olhos fechados,
Investir tudo que sente em um amor desconhecido,
Deixar a razão de lado para viver o que há de mais intenso,
Mesmo quando eu me recordava de tudo que sofri,
De tantas noites insones em busca de mim,
Por ter me perdido de tanto me entregar
E não receber nada além de um vazio e uma fuga,
Não sei acerto se chamo vazio ou ausência,
O fato é que daquele abraço que sempre esteve disponível,
Existia apenas um cruzar de braços inflexível,
Ali onde era o meu lugar de refúgio,
Estava ocupado por um alguém com tantas certezas,
Mas, estava vazio de tudo que jurou em outro momento,
Não me restava outra coisa a não ser o calar,
Mas o amor que eu sentia não podia ser silenciado,
Esse olhava através da dor e amava em desmedida,
Esses momentos eram compostos de eventos esporádicos,
Instante em que um tendia a transferir sua dor para o outro,
Como um dizer: lhe firo pois estou ferido,
E quanto ao mais, deixa de importar!
Na primavera do nosso primeiro ano juntos,
Eu era praticamente o oposto de tudo que juramos,
Confesso que era difícil sentir e não demonstrar,
Não obstante o passado sombrio que vivenciei,
Nunca havia amado como a você um outro alguém,
Hoje não posso fazer melhor do que transcrever,
Na íntegra cada palavra que você ousou dizer,
Ou que, talvez, tenhamos dito um para o outro,
Com intenção nenhuma além de fazer sofrer,
Quanto as cartas escritas em letra borrada de saudade,
Elas já não se encontram em meu poder,
Mas recordo bem do conteúdo,
E mais uma vez afirmo com a mesma segurança,
O amo com a mesma certeza que tive naquela hora,
Não me importa tanto sobre o que digo, as consequências,
Eis aqui o texto de uma das cartas,
Um texto que chegou em minhas mãos mal escrito,
Trêmulo de medo por confidenciar tanto,
Um texto em que me jurava amar, você lembra?
Nosso amor seria algo que nada poderia abalar,
Esta foi minha impressão e ela dura até agora,
Passou-se daquele hora dez anos e alguns dias,
Ainda sinto em minhas mãos a sensação,
O mesmo pulsar acelerado no coração
Que senti naquele dia ao ler a sua carta de amor
E que o sinto agora ao falar sobre o conteúdo dela,
Fui conduzida a mudar o rumo desta história
Por antigas demonstrações de carinho que ainda lembro
Com o mesmo sentimento daquele momento,
Mas, hoje desejaria não ter recordado as cartas,
São 4:15 da madrugada eu não dormi ainda,
E nem ao menos sei aonde você se encontra,
O que desejo dizer é que temo ter chegado a hora,
Em que toda a verdade sobre nós se esclareça,
Muito embora a razão também esteja do meu lado,
Ela não duvida sobre todo o amor que eu sinto,
Já vi vestígios, ou procurei-os não importa,
Mas, se você me traísse, penso que estaria bem próxima,
Convivo ao seu lado a tanto tempo,
Como negar que o conheço o suficiente para tanto,
Eu tenho ouvido você atender o telefone as escuras,
Ligações estas que, me perdoe, evito descrevê-las.