-desgraçada, aja por ti própria e o fim será seu!
Me canso de suas manias
Encerro a conversa com um virar de costas,
Um sair quase silencioso,
De quem tem muito a dizer,
Mas quanto mais tem menos é ouvida.
-Ache, se ache!
Grito de costas em alta voz,
Não sei o que tanto procura,
Mas até imagino o que irá encontrar.
Medo, dor, segredos.
Abraço meu próprio corpo que queima.
Há no escorrer do meu sangue
Mais que um caminho a percorrer,
Há resistência, dor e muitos medos.
Teimo em não olhar para trás e sigo.
Não sei, também, aonde irá resultar isso.
Há sempre um beco perdido e sem saída
A espera de perdidos!
Chega o verão e meus olhos estão abertos,
Há no sol que renasce a casa dias mais que brilho,
Percebo isso enquanto sofro a molhar uma salada,
Traze-la a vida ou mante-la nem sei mais.
Tomo o cuidado de não ser vista
Pela mulher que deixa para trás
Aos gritos,
Sinto medo de que se tornem arrependimentos.
O que foi dito foi falado,
Mas quanto ao que foi gritado…
(Precisa ser mantido).
Penso que águas não fazem milagres,
Nem as lágrimas,
A salada ficará como está.
E a mulher lá atrás?
A pouco e pouco,
De sol a sol esqueço dela,.
Vejo nisso um esquecer e não lembrar,
Muito menos vejo procura, busca, ou outra coisa.
-maldita!
Quero dizer isto a ela,
Mas já não me atrevo a levantar a fala.
Ocorreu neste lapso de tempo tanta coisa,
A raiva passa no transcorrer das horas,
Mas o que houve, ocorreu e agora?
Engolir cada palavra, os atos…
Admitir o erro
Ainda julgando estar certa.
Doses de veneno não devem matar rápido,
Penso que matam enquanto nós percorre as incertezas.
Disse ela:
“Um dia há de você admitir em público estar errada”.
Jamais, jamais.
Pensei assim antes e vou me manter.
Ela disse que poucos dias me fariam voltar,
Passaram-se nistos os anos.
Mentira. Mentira.
Vejo que até nisto estava enganada.
Horas inteiras sem querer ser vista,
“Assina, então, com tua letra o erro cometido”.
Malditas as suas palavras,
Percorro cada uma,
Como se fossem as gotas do meu sangue
A passarem por dentro de mim
Sem nem entender o meu eu de fora.
O rosto que trabalhei tanto para ser visto,
Sofri para construir uma ideia sobre a que sou,
Me esforcei para fazer tudo certo,
Construi ele por base em confiança,
De repente,
Surgir do nada e dizer em alta fala:
“Menti. Estava enganada”.
Não. Por mil céus não farei isto agora ou nunca.
Confesso ter me acostumado a andar por está horta,
Molhar a salada,
Colher, me alimentar dela.
Mas viver numa mentira?
É fácil acostumar-se com o sangue de suas veias,
Mas isto em nada te obriga a aturar
Os de seu sangue de fora.
Herança e riqueza veem-se na face,
A morte chama-se estupidez.
Não sou nenhuma burra.
Ora, é certo que as lembranças se apagam,
Mas me apego aos gritos a todo custo.
Me feriu muito o virar de costas,
Ter que agir com falsa indiferença
Para poder tolerar o ódio que me percorria,
Não.
Não aqui vínculo que nós prenda.
Nem acontecimentos
Muito menos saudade ou lembranças.
O olhar ferino apunhalava.
Eu fui ferida.
Não vi nela a importância,
De sentir por mim ou de sentir por ela.
Não sinto nada agora.
Dor. Mágoa.
Meu rosto marcado denuncia minha dor,
Conservo nele a marca de cada lágrima,
Este rosto que envelhece frio e sóbrio lembra.
Chora e recorda.
Reconhece-la…
Traze-la para perto.
A dor entra sem cerimônia.
O choro já não faz gesto algum,
Simplesmente percorre por minha cara,
Com certo ar de se perder em seguida,
Disfarce de ódio de quem muito sofreu,
Quem suspeita disso não fala,
Não consigo ouvir outra versão da mesma história.
Biscoitos e latas de conserva não substituem saladas.
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