Sirenes, buzinas ou apitos
Não avisaram
Que uma guerra
Havia iniciado no país inteiro.
A televisão foi cancelada
Por ordem do governo,
O rádio foi interceptado
Por ordem do exército,
As cartas chegavam abertas,
Depois escassas,
Então, nunca mais chegaram.
Contudo, viaturas policiais
Acordaram cedo
Ou nem dormiram com seus
Fuzis em punho,
Passaram na rua da cidade pobre
E distribuíram tiros.
Os trabalhadores daquele local
Já não os interessava mais,
O estado em que viviam,
Suas capacidades, necessidades,
Nada mais sobre aquelas
Pessoas lhes diziam interesse.
Sentaram nas janelas
De seus carros
E dispararam contra as residências
De pessoas honestas
Que dormiam a espera
Do amanhecer para saírem
Trabalhar e ganhar seu
Sustento honesto.
Não houve distinção
Entre o ladrão,
O traficante, o assassino
Ou o trabalhador,
Simplesmente municiaram
Suas armas e disparam
Como se fosse um treinamento.
O pai de Luciane correu
Até seu roupeiro,
Pegou seu revolver,
Carregou e saiu vestindo a calça
Para fora do quarto
Verificar o que havia,
Se estavam todos vivos,
Se se tratava de roubo.
Fosse o que fosse,
Ele queria a sobrevivência
De sua família,
Se precisasse pagar algum drogado
Vagabundo para não ser ferido,
Não seria a primeira vez
Que pagaria,
Se precisasse de dinheiro
Para pagar o silêncio
E respeito de alguma viatura,
Pagaria.
Era homem honesto.
Abriu a porta,
Quatro policiais estavam
Logo na sua frente,
Vendo seu rosto
Sorriram para ele
Em seus uniformes limpos,
E atiraram.
Maicon caiu morto.
De arma em punho,
Incapaz de defender-se,
Proibido de proteger-se.
Era a polícia.
Sim.
A polícia vestiu-se
Para matar
E não escolheu vítima,
Quis apenas ver sangue.
Depois de mata-lo
Os policiais seguiram
Atirando contra janelas,
Portas e rostos.
Trocaram de lugares
Conforme cansavam o braço,
E nem paravam a viatura.
Logo cedo,
Abasteceram com o dinheiro
Do povo aquele carro,
Usavam armas pagas
Pelo povo trabalhador,
Hoje decidiram atirar
Contra os mesmos,
Já não serviam mais,
Eram indigentes,
O país decidiu matar,
Declarou guerra,
Antes disso,
Era treinamento,
Agora tinha motivo sério,
Porém, o território não mudou,
Nem as caras,
Gente pobre,
Honesta,
Com contas para pagar,
Com trabalho a fazer.
A morte de Maicon salvou
Seu pai de morrer,
Ele não foi um dos alvos
Mortos com tiros contra a vidraça.
Porém, logo vieram os caças,
Atiraram também,
O pegaram dormindo
Poucos dias depois,
O cenário tornou-se de desgraça,
Tinha gente morta
Para todo o lado,
As pessoas tinham medo
De levarem seus entes
Para enterrar no cemitério,
Tinham medo de sair de casa,
Buscar socorro.
Os policiais não escolhiam
Horário para invadir
As casas em busca de sexo,
O corpo morto de vovó Alfredo
Não escapou,
Sua neta de doze anos
Também não,
Sua filha de trinta
Muito menos.
Os moradores
Passaram a sobreviver
Do trabalho exercido
Na região,
Não havia transporte
Para locomover.
A prostituição
Se tornou pública.
Samanta de doze anos
Escondia-se
Com seu urso de pelúcia,
Tomava banho de roupa,
Escondia-se embaixo
Do cobertor para vestir-se,
Mas o soldado que a mantinha
Viva cansou dela.
Certa vez, a viu na janela,
Com o urso abraçado
Ao peito,
Levantou a arma em sua direção
E atirou,
Perfurou o vidro da janela,
O urso e seu peito.
Sua mãe ao retornar
Para casa a encontrou
Morta no chão de estilhaços,
Retirou o cinto da cintura
Prendeu na janela
E enforcou-se lá mesmo.
O policial retornou
E viu seu corpo balançar
Na parede da casa,
Ergueu a arma
E disparou até cansar os dedos.
Corpos envelhecem,
Almas não se compram,
Nem o gato sobreviveu,
Nem o telhado,
Ou os carros.
Bomba, explosivos e balas
Do brincar do tiro ao alvo.
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