quarta-feira, 31 de julho de 2024

Lugar

De sobre os pés,
Sem pensar em dores,
O que calçar,
Ou mesmo como ir,
Levantou seus olhos,
Sem burcas no horizonte,
Simplesmente,
Precisava ir.

Para outro lugar,
Outros olhares,
Outras pessoas,
Outras paisagens.
Embora soubesse
Que deveria estar feliz
Com sua vida,
Suas conquistas 
E vivências,
Contudo,
Não bastava,
A cadeira não satisfazia,
Os afazeres não preenchiam.

Mesmo que tudo parecesse perfeito,
Não era o que sentia,
Viver não agradava,
Queria emoções novas,
O vazio que nunca se preenchia,
Também nunca soube se afastar,
A solidão sempre conseguiu chegar,
Os poucos amigos que vieram
Se foram,
Tão logo puderam,
Foram.

E ela se viu obcecada 
Pela tentativa louca
De fugir daquele lugar,
Outrora foram outras cidades,
Agora, talvez,
Se tratasse do país inteiro,
O continente,
Ou então os mares…
Iria para um lugar
Onde não houvesse mar.

Já era uma direção,
Mais uma coisa chata,
Viver parece preencher um sistema,
De obedecer e viver conforme,
Faltou de repente,
O “ótimo. Faça o seguinte”.
Afinal, tudo estava pronto,
Mas não havia um alguém a satisfazer,
Tudo que precisava era preencher
A si mesmo,
Gostar do que foi feito,
Sentir-se bem com o que estava pronto,
Fazer o que mais fosse preciso
Para encerrar o que estava iniciando,
A questão era:
Iniciar o quê?
Satisfazer-se….
Orgulhar-se,
Pensar em si e apenas.

Sob a luz do luar
Que brincava por entre as formas,
Ela encarou a si mesma
E sentiu ódio,
Sentia raiva por temer tanto,
-Então, garota que basta-se -,
Disse a si mesma,
Olhando a noite que escurecia
Cada vez mais serena,
E resplandecente,
-Para onde ir agora?

terça-feira, 30 de julho de 2024

Louca e Tanto

Finalmente,

Estou louca e não estou,

Acordo passaram-se instantes,

Pode ser dia ou noite,

Nada programado.

Fechei os olhos e fui.

Não estou louca ou estou.

Mas, espero você aqui.


Converso com o espelho,

Brinco com as formas em meu rosto,

Conto as histórias lidas,

Invento as minhas próprias,

Evolui as páginas do livro,

Reescrevo tudo que senti.

Estou louca e menos.


Menos esperançosa de perde-lo,

Menos indigna de te-lo,

Já saio com a bolsa vazia,

Esqueço o livro ou decido deixa-lo,

Faço tranças de tricô,

Imagino e reimagino.

Louca e menos.


Dirijo o carro em velocidade,

Faço curvas bem feitas,

Sei dar os sinais,

Diminuir ou aumentar marcha,

Poucas vezes me confundo

Com você no espelho,

Me jogo de uma margem a outra,

Na frente do caminhão básico,

Você sabe sua louca e nem tanto.


Bebo pouco, 

Coloco salto alto,

E dirijo o carro,

Mas baby,

Desta vez, eu não te olho,

Mas lhe permito

Fazer a marcha,

É claro,

Isto se você estiver do meu lado,

Cerveja fria,

Pizza quente,

Beijos prontos,

E a escuridão da noite.


Sua louca e nem tanto,

Conjugo o verbo passado,

Me vejo no retrovisor,

Mexo no cabelo

E abro minhas pernas,

Toco no câmbio,

Convite, baby,

Esteja pronto.


Sua louca e pouco,

Deixo você cuidar seu lado,

Me diz se preciso acelerar,

Diminuir ou trocar a marcha,

Vê se nota,

A forma como eu deslizo no asfalto,

Garoto, eu não ando, desfilo,

Sério,

Confio em mim no volante,

Mas diz aí,

Posso trocar a faixa do seu lado?


Sua louca e tanto pouco,

Vê, ali, vem,

O garoto na motinha,

A toda e pouco,

Puta cara, gatinho,

Será que dar a travadinha,

Deixar o carro de lado,

No meio da pista aberta,

Na leve ameacinha da loucura ajuda?

Caramba,

Todo mundo para fora da pista,

Ah, a louca e tanto o mais.


De repente,

É adeus para sempre,

Mas caramba,

Como vê-lo e não pensar só em mim,

Ah, paro o carro e diminuo sim,

Erro a marcha,

Faço aquele barulhinho do explodir,

A fumaça escura,

E o puxa,

Cheiro da gasolina,

Sou garota e errei fácil assim.

Sua louca e tanto…

A cervejinha do lado,

Roupa desconfortável,

Calcinha a menos

E para o alto,

E o cara que voa e foge,

Quase passa longe,

Quase,

Você sabe,

Calcinha no visor,

Capacete a menos, baby,

Sua louca e tanto.


É madrugada,

As luzes se acendem,

O sinal se apaga,

Estrada escura e aberta,

Ninguém,

E você se acusa?

Jaqueta quente,

Calça colada,

E eu dou volume,

Meu bem,

Sua louca e tanto.


domingo, 28 de julho de 2024

Jardim de Inverno

Desafiador.
Às dez horas da noite,
Chamada do namorado.
Seguido de convite.
Ela chega ao bairro do interior
Da cidade onde vive.
Entra num jardim inglês,
A oeste de Dubai,
O jardim de inverno 
Estilo medieval,
Esconde flores lindas,
Que iluminado a meia luz
De lamparinas solares,
Formam um espetáculo único.

Flores brincam umas com a outra,
E colam-se as pernas dos que andam lá,
Como se a pedirem para ficar,
Molhadas de sereno parecem jurar,
Sob a luz do luar paira um altar,
Que abaixo, bastante abaixo,
De um amontoado de estrelas,
Se assemelhariam a uma cama alta,
Um convite de namorados,
Ou algo de bonito, romântico e profundo.

Qualquer um que não ame,
Não seria capaz de estar ali,
Dizem que as flores despertam alergias,
E outras urticárias a quem lhes seja inertes,
Ou insensível,
Seja como for,
Assim que ela passa o portão,
Sente falta do namorado,
E o deseja com profunda paixão,
Quase como uma necessidade,
Urgência moderada e desesperada.

O jardim se ergue elegante,
Com árvores floridas
E pedras postas juntas,
Como se fossem bancos naturais,
Um gramado florido resplandece ali sempre,
Seja dia ou noite,
Cada estação com cores e formas diversas.

Bem, logo de entrada encontra ali uma caixa,
De formas antigas e amarrada,
Cordão antigo,
Lacre desconhecido,
Ela a pega,
E seus dedos correm para abri-la,
Mas como se por desejo,
Ou urgência,
Ouve a voz do namorado,
E teme o conteúdo,
É como se fosse especial,
Mais que o beijo ou se abraço,
E isto não lhe parece verdadeiro,
O que haveria de mais importante,
Mais único ou desejado?

É como se o ouvisse dizer que é antigo,
Presente de avó,
Que foi deixado de lado,
Porque embora querido,
Nunca o foi aberto,
Apenas guardado,
Como se o conteúdo fosse do mais alto valor,
Então, vieram as mulheres,
Mãe e namorada,
Porém, a caixa permaneceu no lugar,
Quase como se fosse parte daquela entrada,
Ou se tivesse aderido a beleza.

Sempre limpa sobre a pedra,
Nunca, nunca aberta.
Os anos vergaram o corpo da mãe,
Levaram a avó,
E dificultaram a visão,
E a caixinha foi ficando,
Agora estava em suas mãos.
Quase que por instinto,
Por saber de seu amor,
Ter certeza de tudo que sentia,
Seus dedos foram seguindo o barbante,
E romperam a cera do lacre antigo,
Um anel surgiu brilhante,
Feito estrelas,
Ela virou-se seguida pelo mesmo instinto.

-Sim, eu aceito.
Simplesmente disse,
Conhecedora de que ele estava perto,
A amava e que também lhe era amado,
Ele tomou o anel entre os dedos,
Sem que ela abrisse os olhos,
O colocou,
-Nunca quis algo mais que isso.
Uma cortina de flores se abriu,
Ante o peso dos dois sobre o piso
De grama sobre pedra natural,
E abriu-se um desconhecido 
E único jardim,
Cheiroso, florido e antigo.

Dava-se para enxergar seus avós ali,
Juntos,
Plantando, limpando, colhendo…
Animais brincavam,
Borboletas e pássaros,
Também coloridos vagalumes,
Dava-se para ver o nascimento do pai,
Sob a luz de luar ocre,
Suas vestes deixadas ao tempo,
E uma história que ficou, até então, guardada.


sábado, 27 de julho de 2024

Me Fala

Eu quero que diga 

Que me ama,

Que sou tudo que você quer,

Que você ama estar comigo,

Que sou sua mulher,

Amada, sonhada esposa.


Aonde quer que você vá,

Quero estar contigo,

Antes de cada passo que der,

Quero poder te proteger,

Projetar nossos melhores sonhos,

Viver cada único momento.


Chove lá fora,

Sobre as plantas, a horta, o telhado,

Eu contemplo seu rosto perfeito,

Toco cada parte sua,

Sinto tudo crescer,

Inclusive nossa vontade de viver.


Diga que me ama sempre,

Preciso ouvir isso de você,

Me abrace e ampare,

Eu me sinto fraca e tenho medo,

Que coisa ruim quando você se cala,

É horrível quando você some…

Palavas falam, falam e não dizem nada,

Se não vier de sua boca.


Oh coisa ruim, horrível,

Ouvir frases e frases,

E não tiver seu sonido,

Seus lábios a moverem-se,

Frases de outros só fazem medo,

Diga que me ama,

Preciso ouvir isso de você.


Me deixa segurar sua mão,

Te levar a lugares perigosos,

E te amparar em voraz paixão,

Me deixa te dar todos os abraços,

Segurar você firme,

Estar contigo sem que nada impeça.


Ser sua foi sim o que mais sonhei,

Te trazer a minha casa

Foi motivo de orgulho,

Não quis outra coisa,

Coisa triste te perder,

Não quero isso em sentimento,

Ai terrível dor e lamento,

Deus me impeça de viver.


Antes destino trágico,

A ver nossas mãos separarem-se,

E nunca, nunca mais eu o possa ter,

Antes dor mais felina,

Castigo mais traiçoeiro,

Cruel esquecimento,

Da vida, de mim e de tudo,

Oh Deus não nos seja cruel,

Como esquecer a quem tive amor,

Já não é possível o não tivesse conhecido,

Deus não consigo me contentar 

Nem com o tivesse antes eu morrido…

Impeça,

Sim, que aja impedimento,

De sua ausência,

Sua falta,

Distância 

E calar.

Diga-me, diga:

Me ama?

O que lhe vem em mente

Quando lhe surjo do nada,

Em horas insones 

Ou vagas,

Amor, doce carinho,

A que este meu amor lhe entrega?

Afagos, sonhos beijos?

Diga, por favor me diga.


Liberdade, liberdade

Amores novos não substituem antigos.
Ele chega,
Fala do cara que você gosta,
Você ri pra caramba,
Mas não muda nada.
Não gostar de sofrimento basta.

Odiar e não sentir nada,
Que pessoa se satisfaria?
Mas ele insiste,
Fala do cara e chama o nome,
Pega você pelos cabelos e puxa,
Pensa que tem domínio sobre você,
Apenas porquê acha que sabe:
*Sobre você;
*Sobre o que você sente;
*Sobre dar prazer;
*Sobre o receber.

Você embasbaca
E a boca saliva,
Dá vontade de sumir dali,
Estar com outro,
O outro que nem sabe de você.
O cara aproveita seu descontrole,
E faz pressão sobre sua coluna,
Dirige sua boca ao pênis dele,
O que ele quer?
Te sufocar ou morrer?!
Ódio puro reveste o prazer,
E o que estaria por vir
Foi mais fácil que estar ali,
Agora sair…
Ir para longe,
Recuperar-se,
Ninguém precisa de estúpidos com você,
Prazer, prazer, prazer,
Bate latente contra sua cara
E você recusa.

Não basta e ele tira a foto do cara
E cola acima da cama,
Na distância do seu olhar,
Será que ele pensa que você 
Pensando num cara
Poderia estar com outro ao mesmo tempo,
Desculpa mas o pênis na bunda
E vara na cara não me satisfaz nenhum pouco,
Sei lá vergonha
Ou liberdade demasiada…

A Plantação de Pêra e Maracujá

Os pais de Pitelmario Fizeram uma linda plantação, Araram o campo, Jogaram adubo, Molharam a terra, Então, plantaram pêras...