segunda-feira, 7 de abril de 2025

Ferida

Certa tarde,
Meu pai saiu com a espingarda,
Eu não soube pra onde foi
Ou para que.
Então, voltou mais tarde
Do que a hora que foi,
E me chamou:
- Aline, vá até às bananeiras.

Eu fui.
Se ele me manda,
Eu obedeço,
Eu sou filha.
Pensei que se tratava
De algum serviço
A ser feito.

Eu sempre fui esquecida,
Nem sempre vejo
O que tem para ser feito,
Nem sempre o faço.
Fui,
Cheguei lá
E até acreditei que houve
Barulho de tiro,
Ou não,
Sei lá.

De repente,
Ele juntou pedras do chão,
Grandes pedras
E começou a atirar contra eu,
Acertou na altura
Da minha bexiga
Acima da perna esquerda
De primeira.

Eu me contorci de dor,
Não gritei,
Sempre que ele me batia
Eu procurei não gritar
Ou fazer alarde,
Ele dizia:
- engula o choro!

E eu era proibida
Do choro ao barulho.
Depois disto,
Voaram mais pedras,
Uma acertou contra
A minha perna esquerda,
Eu olhei para trás das bananeiras
E pensei:
“ Será que corro?”

Ele sempre diz:
- se correr é pior.
Eu te pego!
Eu acreditei,
E nunca corri.
De repente, houve mais pedras.
Aí ele disse:
- agora corra
E fique atrás da moita.

E gesticulou para a flor
Que havia em frente a casa.
Eu fui,
E ao dar o primeiro passo,
Eu senti medo imenso,
Aí corri.

Então, fui tomada
Pela vergonha
E não corri mais.
Mas, eu juro,
Eu não sentia as pernas,
Doeu tanto a esquerda
Que ela pareceu
Se estirar para trás,
Tremeram tanto ambas
Que elas se chocavam
Feito gelatina.

Eu quis gritar,
Eu quis pedir socorro.
Eu quis não ir,
Eu juro.
Então, prendi a respiração e fui.
- agora pare.
Eu parei.

- você gosta de se esconder
Atrás de moita,
Venha pra frente pra você ver.
Eu não quis ver.
Eu baixei os olhos,
Minha cabeça caiu
Para baixo,
Eu não tive forças
Para olhar.

 Eu acho que se ver morrer
É odioso,
Temeroso e aterrador.
Eu nunca quis
Me ver morrer,
Só desejei morte rápida.
Mas fui, saí de trás da moita.
- erga a cara!
Ele disse.

E eu fatalmente o vi.
Sim.
O vi.
Mesmo com a cabeça abaixada,
Vi seu chinelo preto,
Sujo de terra,
Seus pés sujos,
Suas pernas peludas,
Seu calção verde,
Seu peitoral sem camisa,
Bronzeado e tonificado,
Seus músculos dos braços,
A arma em sua mão,
Seu rosto bonito
E jovial,
Seus olhos escuros,
Seu cabelo curto escurecido,
Suas orelhas bonitas,
A arma em ponto de mira.

A arma dele estava reta
Contra meu rosto,
No meio,
Apontada.
- eu com a arma na mira.
Apontada na cara.
Que vontade de explodir!
Ele disse.
Explodir minha cara.
Eu o vi.
Eu o ouvi.
Me explodir.

Meu corpo tremeu
Violento de medo,
Meus braços caíram
Na lateral do corpo,
Inertes feito duas cobras
Se tocando,
Eu fiquei pesada,
Eu parecia feita de ferro
Dos joelhos para cima,
Um ferro em casa perna,
Um ferro do início ao fim
Do corpo,
Um ferro no lado
Das faces,
E um no meio,
Bem no meio da cara.

Eu pensei
Se me atirar que acerte no ferro.
E eu não era mais de carne.
Aí fiz sinal de consentimento
Para ele,
Dizendo-lhe “ atire”.
E ele disse:
- corra.
Faça que nem os outros,
Fuja!

O ferro em meu corpo
Era pesado demais,
Eu não me moveria mais.
Ele se cansou daquilo
E saiu,
Foi para o lado do galpão
Próximo às bananeiras.
Eu caí no chão,
Com um baque alto.

Cai sentada
Sobre os meus ossos.
E fiquei.
Minha mãe chegou ali
Mais tarde,
Cansada de me chamar
Para ajudar nos afazeres,
Eu não ouvia,
Não via,
Não me movia.

Ela juntou
Um pé de guanxuma
E me bateu,
Bateu nas costas,
Bateu na cara,
Enfiou o dedo
No meu olho.
Me deu socos
E tapas.

Depois saiu para frente da casa.
- cadela vó.
Cadela quebrou
Meu braço
Quando eu fui dar educação.
Cadela,
Me machucou.
Ela falou para a minha vó Marica.
A vó saiu para fora,
E me viu.

Ela havia jogado
Terra contra meu rosto,
Esfregou em meus olhos terra,
Puxou meu calção
E jogou terra lá
Em meu corpo.
- o que você quer vó?
Estou suja e imunda.
Eu disse a ela.

- quero nada, fia.
Quero nada.
Minha vó frágil,
De ossos sobre salientes,
Pele alva e enrugada,
Cabelos brancos,
Quase seca a disse:
- dexe ela.
Dexe ela.
E eu fiquei.

Chorando e escorrendo
Terra e pedregulho,
Sentindo dor,
Com a cabeça caída
Sobre o peito.
Ferida.

Meu Amparo

Uma noite,
Eu sentei no sofá,
Meu pai ficou no chão,
Com o prato na mão.

Eu poderia dizer que não o vi,
Que não percebia o que fazia,
Ou que sim.
Escolha sua.

Eu peidei,
Peidei alto e potente.
Ele se irritou,
Eu o vi,
Fiquei com vergonha
E sorri.

- ah, pai.
O senhor está aí?!
Ele chorou.
- sim. Estou sim.

Ele disse,
Soltou o prato no chão
E foi em direção ao quarto.
- acredita que eu não te vi?

Eu indaguei,
Tirei os pés do sofá
E ao soltar no chão
Pisei no prato de comida dele.
Pensei, fedeu!

E fedeu bastante.
Ele pegou uma arma,
Uma espingarda,
E me pôs para fora de casa,
Pegou na minha orelha
Com aquela arma apontada
Contra a minha cabeça.

Me pôs na área de casa,
Na verdade
Me fechou no escuro.
Eram sete e pouco,
Eu acho.
Início de noite.

Mas estava escuro,
Muito escuro.
Eu senti pena dele,
Por quê eu pisei dentro do prato?
Por quê eu peidei?

Quis chorar,
Olhei para a porta,
E ele havia me empurrado
Usando a espingarda,
Colocou a ponta contra
A minha bunda
E gritou:
- atirei nela.
Atirei.

Eu não soube se sim.
Senti medo.
Depois ele virou a traseira
Da espingarda branca
Acinzentada
E bateu contra a minha bunda,
Me jogando na área.

Eu me segurei na grade feita
De madeira,
E chorei.
Senti medo,
Muito medo,
Senti pânico.

As horas passaram
E eu fiquei lá,
No frio e escuro
E vazio.

Aí ele apontou a arma
E houve o barulho,
Eu acho,
Eu penso que
Em algum instante houve.

Ficou um buraco
Na tábua da parede de madeira,
Aí ele saiu para fora,
Eu estava lá em pé,
Eu chorei tanto
Que molhou o chão,
Escorreu feito uma valeta
Por meu rosto,
Molhou meu calção,
Molhou meus pés,
Pingou no porão.

Ele voltou lá.
- eu atirei.
Acertei?
Ele gritou.
- eu dei sustinho nela.
Ele disse
E pôs a cabeça
Para fora da porta.

Eu olhei para ele,
Chorando,
Sem poder ver,
Chorando muito.
Eu senti medo estremo.

Depois, perdi a vergonha na cara,
Aquela que de antemão
Eu não tinha
E voltei para dentro de casa,
Sem dizer nada,
Eu sabia como abrir a porta,
Eu nem soube se estava tramelada,
Eu voltei,
Fui até meu quarto e deitei.

Eu nunca quis dormir,
Eu nunca mais quis dormir.
Hoje,
Vinte e três anos depois
Meu filho me olha e diz:
- obrigado mãe,
Por você estar aqui!

Isto me realiza,
Me dá orgulho do que fiz.
Ter voltado
Foi minha melhor atitude.
Deu meu filho para mim.

A Mulher

Querida mulher,
Intensa e forte,
Está sabendo enfrentar dores,
Amparar a quem precise.

Mulher linda e elegante,
Veste-se como se sente bem,
Porquê mulher segura
É aquela que enfrenta a mente,
E as ideias descabidas.

Porquê ter uma mulher
Em sua vida,
Não refere-se a fragilidade
Ou a ideais alcançados,
O contrário,
As vezes,
A mulher quer tudo
Pelo que precisa lutar,
E por ser tão forte,
Ela sabe que consegue,
Então, meu bem,
A ouça com atenção,
E saiba ampara-la,
Carrega-la se for preciso
E entender que ela
Sabe vencer.

Mulher determinada,
Veste e calça tudo que há,
Trabalha no que convier,
Com cabelo comprido ou curto,
De maquiagem ou sem,
No salto ou no chinelo,
Ela é sempre mulher,
Porquê nasceu pra vencer.

Aquela pessoa forte,
Que sai sem razão
A frente de todos,
Está é a mulher,
Em sua paixão
Esta o bom exemplo,
Nas suas mãos
Suas conquistas.

Querido homem,
Não se atrase,
Dirigir ela dirige,
Já paga a própria conta,
Trabalha e recebe o salário,
Seja mais que isto.

Arregacei as mangas,
Faça a comida,
Lavei a louça,
Faça o café quente
Para a dor de cabeça dela,
Assim, você não fará
Mais parte de um número,
O singelo número dos descartáveis,
Que ela coleciona lembranças
Desde aquela época
Da escola
Onde a mulher aprendeu
A calcular números,
E você só sabia rir dela
Porquê ela usava a tabuada.

Amada Madrinha

Amada madrinha,
Obrigada por suas visitas,
Por lembrar de nós
Em seus dias,
E ao fazer suas orações
Nós acrescentar em cada uma.

Querida madrinha,
Saudade das nossas conversas,
Te passar o tempo pescando,
Passear pelo gramado,
Molhar os pés na areia.

Amada madrinha,
Temos sempre
Bons momentos
Uma com a outra,
Você é meu abraço abrigo,
Me sinto feliz com você.

Em você já busquei amparo,
Encontrei calor e afeto,
Obrigada madrinha,
Peço a Allah que te abençoe
Todas as noites.
Te amo,
Fica bem sempre.

Afilhadinha

Amada afilhada,
Seus pais me escolheram,
Eu sou a grande garota especial
Que lhe tem por filha
E a ama sem igual.

Amada afilhada,
Escrevo estes versos
Para te ver sorrir,
Busco um cantinho
Do seu afeto,
Espero sua visita,
Querida menina,
Adorada afilhadinha.

Tão pequenina e menina,
Te amparei em meus braços
Vi seu primeiro choro,
Ajudei sua mãe a preparar
Seu leite quente,
Tempero seu primeiro chá.

Amada afilhada,
Escolhi algumas
De suas lindas roupinhas,
Me esforcei para estar próxima,
Amei suas feições ao sorrir.

Te amo afilhadinha.
Quem escreve é sua madrinha.
Peço a Allah que te abençoe,
Ame e ampare.

Não esqueça de mim,
Construa confiança comigo,
Estarei sempre aqui,
Minha menininha,
Serei fiel contigo.

Sobrinha

Oi sobrinha,
Como você está querida?
A tia sente saudades,
E manda um grande abraço.

Te amo, amada sobrinha.
Gentil menina,
Cresce forte e alegre,
Reforça meus dias,
Me trás proteção e abrigo.

Estes bracinhos tão frágeis,
Tão menina ainda,
Como é bom ser sua tia,
Poder te amparar,
E cuidar de você na rua.

Amada sobrinha
Não saia no sol forte,
Coloque chapéu na cabeça,
Use protetor solar,
Esqueça a maquiagem,
Biquíni é para garotas grandes,
Não exponha tanto as suas formas,
Lá fora existem garotos mais,
E eles não gostam de meninas boas.

Minha linda menina,
Que lindo sutiã,
Está formando um corpo lindo,
Eu sinto orgulho
Desta moça pra qual
Você se encaminha.

Quando for chutar a bola,
Não chute tão forte,
Você pode ferir-se,
Quando andar de bicicleta
Não corra nas ruas,
Também não vá longe.

Skate são legais, claro,
Mas não faça manobras,
Patins não é coisa pra toda hora,
Não seja agressiva
Com os mais pequenos,
Obrigada pelas notas
Boas na aula.

Eu te amo,
Lhe desejo tudo de bom,
Gosto de ver você sorrir,
Que linda menina
Trocando os dentinhos,
Buscando um shorts curtinho,
E eu doida atrás
Para amarrar seu cadarçinho
Do lindo tênis colorido.

Linda a sua tiara de princesa,
Adoro principalmente
Quando você busca meu colo
E conta sobre a sua vida,
Me fala da escola,
E confidencia sobre os amigos.

Linda menina,
Perfeita garota,
Sempre estarei aqui
Torcendo por você,
Tia é para sempre,
Você deixa afeto e saudades.

Eu ainda leio
Pensando em suas leituras favoritas,
E quando escrevo
Eu me esforço
Para você gostar,
Espero que veja
E compreenda meu afeto.
Te amo,
Que Allah te abençoe sempre.

Querida Irmã

Adorada irmã,
Tenho tantas coisas
Para te contar,
Queria poder dividir
Tudo muito rápido,
Mas me faz tão feliz
Poder lhe falar,
Que não sei qual assunto conto.

Eu soube que você está bem,
Que quando eu sofri,
Você sofreu também,
Eu senti bastante,
Mas a distância fere em saudade,
E não suaviza se não
For com um abraço.

Te mando caloroso abraço,
Fraterno amparo
Para narrativa de tantas histórias,
Pois é,
Sempre dividimos a vida,
E um dia o destino
Levou uma para longe da outra.

Que pena,
Mas você está bem,
E isto é ótimo.

Posso lhe contar
Que me curei de muitas dores,
Rompi antigos amores,
E me livrei de horrores,
Já converso melhor
Sobre pavores.

E saiba:
Fantasmas já não me assustam,
Eu te amo.
Sinto falta da pipoca da tarde,
Em frente a televisão,
Contando umas histórias,
Vendo um filme bom.

Saudade de planejarmos
O dia-a-dia juntas,
Das bolachas engasgadas
Na garganta,
A receita favorita por trás da manga,
E nossos dias bons,
Porquê minha irmã,
Com você nunca houve dia ruim.

Você é a melhor irmã,
Eu parei de sair,
Desisti de garotos fáceis,
Estou cuidando das flores,
Faço receitas adoráveis,
E plantei alguns frutos
Seus favoritos.

Deixo um abraço
Com verdadeira saudade,
Convido você para uma visita,
Nossa casa está sempre acolhedora,
O jardim está limpo,
E agora temos patinhos.

Ferida

Certa tarde, Meu pai saiu com a espingarda, Eu não soube pra onde foi Ou para que. Então, voltou mais tarde Do que a hora q...