sábado, 10 de junho de 2023

A Submissa


 

O que poderíamos ver se ele fosse transparente? 

Talvez, o amor mais forte, 

Quem sabe um tanto de sangue por entre os dentes, 

De repente, sempre que beijou minha pele, 


Não fez mais que passar seus dentes, 

Testar a carne, 

Ver até aonde poderia ir sem que eu notasse, 

Até que ao perceber, 

Não lhe restasse mais que esta que escreve, 


A dilacerada, a apaixonada e enclausurada, 

Que hoje anseia por ter arrancada a superfície, 

Até ele e somente ele adentre e possa, enfim ver, 

Mais que ver – ver-se, 


O tanto que o amo e o quero próximo, 

O quê! Ora, que mulher extravagante, 

Já não me basta mais única chance... 

A sonhadora lúbrica, a virgem, 


Até que sua vontade se faça, 

E ele possa, então, ver-me, 

Seduzida não por um qualquer, 

Aquele a quem amo já tem um nome, 


Ser exposta a praça pública por amá-lo, 

Não é nada mais do que meu desejo, 

Brinquei de ser deusa, 

Pobre de mim que não sei esquecer, 


Arrogante miserável esta minha alma, 

Mergulhou no doce de seus lábios, 

Tocou até seus dentes, 

Foi longe demais, 


Agora já não sabe esquecer. 

Que fraqueza é esta que me pega pelas pernas 

Atinge em cheio meu estômago, 

Será que não é possível viver seguros beijos? 


Pronto! Escrava do que sinto e imagino, 

Já não vivo mais isso. 

Fui achar que aquele homem era simplesmente bom, 

Por quê não pude ver um pouco além? 

Que infâmia, 


Desejei ser beijada sem delicadeza, 

Quis que me rompessem os medos, as angústias, 

Foi um mais que tirar a roupa, 

Reviravolta selvagem que me espuma a boca, 


Pronto, condenada a ser aquela taxada: - a bonita, 

Preferiria mil vezes ser explorada até não ser mais a mesma, 

Reconhecê-lo em mim, 

Estar nele até perder-me, 


A caridade do seu beijo foi irremediável, 

Essas lembranças e sua busca me impedem, 

Já não sou aquela que transitava livremente, 

Até minhas roupas parecem ser coisa dele, 


Logo após vestir-me vem a indagação, 

Será que ele iria gostar e aprovaria como estou? 

Não me basto, 

O beijo que lhe entreguei transbordou, 


E não tenho como busca-lo – sem retorno, 

Está dito. 

Estou entregue a ele. 

E por quanto? 

Pelo quê? 


Sim ou não? 

Dele até roer os ossos, 

Doce beijo corrosivo, 

Não consigo me recompor, 


Não farei outra coisa além de agradecer eternamente, 

A sua, a que não quer se pertencer, 

Sua como de nenhum outro alguém, 

Não queria ser socorrida, 


Por Deus mil vezes agredida por ser alvo dos seus beijos, 

Agora, minha boca adora um dono, 

Um ser humano diferente do que sou, 

Sua generosidade de uma noite me cobra submissão, 


Aceita por ele, 

Meu corpo e alma se curva e enaltece, 

Glórias a esta diminuição que amplia, 

Não consigo baixar a voz, 


Tudo que ouço é muito alto nas ruas, 

Falam dele, 

Só me vejo mecanicamente amável, 

Será que me pertence? 


Como retornar ao estado de antes? 

Tê-lo! 

Óh, por Deus, 

Sentir-se em dívida é ser explorada, 

Como poderia fazer mais por ele? 


Como enfatizar todo este sentimento que me toma? 

Chega um momento em que você estende a mão, 

E submissa o entrega a moeda, 

Não há cobranças onde há a paixão, 

A entrega e mais nada. 

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