quarta-feira, 28 de junho de 2023

Um Anjo

Um persistente vento norte soprava forte, 

Anunciava a mudança nos alicerces, 

Avistava-se a tempestade, 

Sabe-se, 


O tempo passa e nem sempre resiste a saudade, 

Erramos ao dizer que a noite cai, 

Ou que as estrelas fogem, 

Porque estrelas não brilham mais ou menos, 

Elas simplesmente existem, 


Assim como o beijo, 

Mais intenso ou menos, 

Porém, permanente. 

Deveríamos dizer que a noite sobe, 

Então coisas se fundem e outras se dilaceram, 


Vem do alicerce a obscuridade... 

Eu fixo meus pés no chão, 

Sei que meu amor seria capaz de aguentar, 

Mas vejo ele se aproximando ao longe, 

Temo e penso que o dele não. 


Os efeitos luminosos do crepúsculo 

Recortam as partes como em moldes, 

Parece que querem, de alguma forma – registrá-lo, 

Penso se ele tem medo de ser esquecido, 

Nesta hora não penso se eu tenho. 


Contornos de suas roupas ficavam nítidos, 

Eu sentia como se pudesse absorvê-lo, 

Ele tinha bom gosto e: como é belo! 

Distinguir o efeito do horizonte ao dele, 

Realmente se tornava difícil, 

Ele faz o tipo que se assemelha aos sonhos, 

Parece mais parte integrante deles. 


Eu acredito nisso, 

E quanto mais ele se aproxima 

Mais eu esqueço de qualquer pensamento, 

Fica sempre a sensação do aproximar... 

O cheiro quente e intenso, 

O suor escorregando a pele, 


Parece que percorre cada parte dela, 

Mas mesmo ele um dia desiste, 

Eu não, 

Eu gosto muito de conhece-lo, 

Admirá-lo e amá-lo. 


Penso que amar ele me faz bem, 

Impossível não sonhar ante um amor jovem. 

A noite, o vento norte e a tempestade se misturam, 

Quase que ele se torna indistinto, 

A escuridão feito uma máscara toma seu rosto, 


Mas não esconde o brilho do seu olhar, 

Seja como for eu o reconheço, 

Sua silhueta se confunde e se funde a minha alma, 

Ela não permanece onde está, 

Penso que odeia a distância, 


Mas quanto mais se aproxima, 

Mais ele se distingue de dentro de mim, 

É um não estar lá e estar aqui, 

Estar aqui e não tão dentro de mim, 

Dizem as bocas: 


-Por quê quando você o beija ergue um pé? 

Eu rio incontida 

“Porquê quero dizer que meu pé é mais bonito que o beijo dele”. 

Elas, as bocas, baixam seus olhares, 

E buscam um alicerce, 


Parece que não ouvem o que querem, 

-Ah, você também acha que quando uma mulher 

Oferece a mão, 

Na verdade é o pé? 


Eu indago aquela que chega ao meu lado 

E me estende sua mão longilínea,  

Curvilínea e espessamente junta. 

Ela faz um gesto com o olhar, 

Porquê o olhar de toda a mulher fala, 

E levanta sua mão até meu peito. 

Eu levo minha mão até a sua e a aceito. 


- Você também precisa fechar dois dedos de sua mão 

Para demonstrar que é uma mão na hora de  

Oferecer cumprimento? 

É que, meus outros três dedos ficam estendidos... 


(Eretos, finos, seguros, frágeis, fe-me-ni-nos...) 

Desisto do assunto antes do término, 

Há uma tempestade e um vulto que se distingue, 

Eu gosto disso. 


Rio quase descompassada, 

Efeito álcool que cheira à boca 

E já reaje.  


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