quinta-feira, 8 de agosto de 2024

Luar de inverno

Sob o luar tênue e quente
Que atravessava a luz do telhado,
Eu o encarava com ódio,
Incerteza e fúria controlada,
Já não sentia o vento de inverno 
Que tocava e penetrava a pele,
Parecia cortar,
Mais valia possuía o luar 
Que tocava e aquecia.

É certo,
Que está espécie de calor
Jamais seria referida a ele,
Não com aquele rosto enfurecido,
Menos ainda com aquele ímpeto desmedido
Que rapaz que sabe o que faz,
Que possui todas as certezas,
E quê, sabe-se Deus porquê,
Não erra.

Decididamente,
Hoje,
Ao menos por ora,
Ele estaria errado,
Desde o instante em que abriu aquela porta,
Desde o momento em que quis beija-la,
Mais ainda quando ousou insinuar 
Que ela,
Ela,
Se apaixonaria por ele.

Ela forçava satisfação a cada grito,
A cada palavra humilhante que proferia,
Tentava maquiar no rosto
Uma felicidade e orgulho que não sentia,
Fosse fazer o que o coração mandava
Se aproximaria,
O aqueceria em seus braços,
Antes ainda de o frio toca-lo,
Envolveria-o em seus beijos,
Antes mesmo que pudesse sentir
O arrepio do terrível inverno,
Ou antes que as estrelas do céu,
Caíssem sobre aquele telhado de vidro,
Embaçando a visão,
Gelando seus entornos,
Escondendo os céus com seus flocos de neve,
Congelando os dois completamente.
Pois é sabido,
Mais certo que a previsão do tempo,
Muito mais que a sabedoria dos anos passados,
Ela não iria beija-lo.

O gelo viria e os consumiria,
E o amor antes consumado,
Numa gota de gelo os levaria,
O que estaria por vir,
Pertencia a qualquer coisa,
Destino, erros, medos ou fracassos,
Mas não estaria por vir,
Não pertencia ao futuro,
Menos ainda ao presente,
Pior que isso,
Passado.
Simples e puro passado.

Então senhor todo quente, -
Ela disse sacudindo seus dedos no ar,
Dedos avermelhados e arroxeando-se,
Toda dono do pouco de calor 
Que ainda havia,
Como se suas mãos
Fossem pequenos fósforos 
Que poderiam ser acesos 
Assim que desejasse,
Que usaria para queima-lo,
Reprimi-lo, distancia-lo.

Coisas odiosas que lhe vinham a mente,
Sempre que o via convicto
E dono de suas certezas e classes,
Estalou-os,
Como se quisesse acorda-lo,
Retira-lo do transe que o faria crer
Que ela iria toca-lo,
Ele jamais mereceu tal certeza,
Cai neve no telhado,
Imagino que você tenha 
Em suas certezas
Alguma singela ideia
De como não con-ge-lar.

Foi como se cada fio dele se arrepiasse,
Cabelos soltos e irritadiços,
Pelos e barbas eriçados,
Olhos arregalados e seguros,
Terrivelmente seguros.


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Busca aos Peixes

Masharey acordou, Subiu na alta cadeira Feita de pneu usados, E cantou alto: - estou no terreiroooo! Em forma de canto. Ap...