- você ainda me ama?
Jacira acordou assustada,
Por um momento reconheceu
A voz melodiosa
Que sussurrava aos seus ouvidos,
Contudo, não poderia ser...
Ela levou a mão
Para trás de suas costas,
Buscou a perna dele,
Lhe fez um carinho...
Estava neste instante
Dormindo em sua própria casa
Na cidade de Nova York,
Escolheu aquela propriedade
Para passar a primeira noite
Depois de casada com Marcos.
Sorriu no silêncio da noite,
Encontrou a perna quente
E com pelos de Marcos,
Não seria outro,
Não teria como Jaimir
Tê-la encontrado tão longe
Da Inglaterra,
Tão escondida dele
Conforme fez
Para celebrar a união.
Sentiu fortemente
O cheiro intenso de Marcos,
Ele estava ali,
Ela poderia vê -lo,
Mesmo no escuro.
O caso com Jaimir
Foi de todo, para ela,
Preocupante.
Certa vez,
Ele a viu na faculdade,
Seguiu-a até sua casa,
A invadiu tarde da noite
E passou a ter relações sexuais
Com ela.
Jaimir era lindo,
Intenso, loiro e alto.
Mas, demorou assumir
O que fazia,
E mesmo assumindo
Não aparecia nos locais
Em que ela estava,
Mesmo após marcar encontros.
No entanto,
Em cada relacionamento
Que Jacira tentava iniciar
Ele ressurgia,
Feito uma sombra.
No primeiro beijo
Que ela deu em Marcos,
Na sorveteria do shopping,
Jaimir estava escondido
Por trás do coqueiro
Próximo a lixeira do meio da sala.
Enquanto, ela aceitava o carinho
Tão sonhado
Em seus lábios,
Ele se pôs pela metade
Em sua vista,
Vendo-a com um único olho,
Sério,
Como se não tivesse
Outra coisa para fazer.
Assim que ela abriu
Os olhos,
Antes de encerrar o beijo,
Viu Jaimir,
Um assombro aterrador
Percorreu seu corpo,
E ela nunca mais pode
Beijar Marcos de olhos fechados.
Marcos foi gentil,
Ele se adequou aos seus medos,
Supriu suas expectativas,
Logo tomou conhecimento
Dos fetiches de Jaimir.
Tentou conversar com ele,
Ele negou cada fato.
Apresentou um álbum de fotografias
Dele e sua família.
Ele era casado,
Tinha duas filhas
No relacionamento de oito anos.
Jacira correu pela casa
De vergonha ao saber disso,
Transformada em amante,
Tendo suas verdades negadas
De maneira tão sórdida
A Marcos,
Como se ela fosse uma desleixada,
Que não preenchesse
Os desejos e vontades
De nenhum homem.
Todavia, Jaimir foi eloquente
Em tudo que disse,
Tão gentil e atencioso com Marcos,
Encaminhou a casa de Jacira
Em horário marcado
E data prevista para Marcos
Comparecer e presenciar
Um psiquiatra para cuidar
Dos desvelos de Jacira.
Alegou que compreendia
Que a faculdade exigiu
Muito de seu psicológico
E que o psiquiatra era renomado,
E as primeiras sessões
Ele se encarregava de pagar.
Jacira escondeu-se no quarto
Por meses
Com vergonha de ser vista na rua.
Marcos em cada dia a buscou,
Em todos se preocupou
Com seu bem-estar,
E assim, a conquistou.
Foi difícil superar a situação
Constrangedora,
Mas com Marcos para amparo,
Tudo soou melhor.
Se apegou a ele,
Diagnosticada paranóica,
Ele a acompanhou em suas sessões,
Após um ano de tratamento,
Parou de ver o vulto
De Jaimir em seu quarto.
Constrangida,
Negou os fatos:
“Sentir o toque dele,
Os sinais dele em seu corpo,
Em cada manhã
Em que ia tomar banho”.
Se insistisse nesta ideia
Com Marcos,
Por mais educado
E gentil que ele fosse,
Ele a rejeitaria,
Ela sabia disso,
Sem saber porquê,
Entendia que ele não iria quere-la.
Agora, mais que nunca,
Precisava de Marcos.
Se olhava nua no espelho,
Parecia que esperma escorria
Por suas pernas suadas e trêmulas
De medo,
Mas Marcos não dormiu com ela,
Ela tinha medo,
Preferia passar suas noites sozinhas.
Não entendia o motivo,
Mas, precisava dar um espaço
De tempo entre os encontros
Com Marcos,
Precisava da solidão
Que isto causava,
Precisava refletir.
Mas, neste instante,
Vendo-se nua refletida
No espelho de corpo inteiro,
Se imaginava mãe,
Imaginava sua barriga crescendo,
Marcos a beijando
Ajoelhado no chão,
Abraçado a sua cintura,
Segurou de encontro a sua
Grande barriga.
Ansiava por ser mãe,
Sonhava em ter sua família,
Sentia que precisava acontecer...
Decidiu dar um tempo
Nas sessões,
Se cuidar sozinha,
Permitir a Marcos uma maior
Aproximação.
Queria casar-se,
Estava cansada
Dos malditos sonhos
Tão reais
Que ao invés de lhe trazer Marcos,
Lhe traziam sordidamente Jaimir.
As vezes, acordava
E parecia senti-lo
Abrigado ao seu corpo.
Sentiu tanto medo
Que não ligou mais a luz
Do quarto,
Não importava a motivação.
Escolhia o horário
Para ir dormir,
E tinha isto por regra,
Então, ia pela última vez
Ao banheiro,
Depois se deitava
E nada além do sol do dia
A despertava exatamente as oito.
Seus sonhos eram intensos,
Cheios de vozes,
E até mesmo efeitos,
Mas vazios ao amanhecer
Não restava um rosto,
Um nome,
Ou um alguem,
Então, Jacira pegava o celular
E buscava Marcos,
Ele sempre estava lá.
Ela tinha medo
De que a espera o cansasse
Ou lhe fizesse mal,
As vezes, ela sentia muitos medos,
Inexplicáveis medos...
No entanto,
Decidiu assumir o que houvesse,
Enfrentar o que precisasse
Por este amor.
Tinha certeza sobre o que sentia,
Pedida em casamento,
Aceitou.
De súbito marcou viagem,
Escolheu destino e roupa,
Se casou.
Casados, fizeram amor
No banheiro do lugar
Onde comungaram a união.
Estavam decididos
A formar família,
Poucas horas se passaram
Depois de casarem-se.
Muitos poucos sabiam
Desta residência que Jacira
Possuía tão longe de casa,
Ninguém tinha a chave,
Ela organizava quando estava,
Antes de sair fechava tudo,
E ninguém abria
Até sua volta.
Estava segura,
Era está sua primeira noite
Com Marcos como esposo.
Contudo, a lembrança de Jaimir
Estava presente,
De alguma forma
Nítida exatamente como
Nas outras vezes.
Ela soprou fundo
Várias vezes,
Puxou a respiração,
Segurou por alguns instantes,
Então, soltou.
Buscou a mão de Marcos,
Não reconheceu,
Estava mais dura e grande,
Seu peito parou,
Depois arfou vagaroso,
Ainda assim,
Enlaçou os dedos,
Apertou com paixão,
Fechou os olhos
E pediu aos céus por Marcos,
Por fim, chamou seu nome
-Marcos.
Um sorriso
Saiu do peito do homem
Que dormia com ela,
Era tarde da noite,
Madrugada,
Deviam ser duas horas,
A luz estava apagada...
Ela soltou a mão dele,
Quis mudar o destino,
Lutar por este amor,
Levantou da cama,
Buscou o interruptor,
O acendeu...
Um espasmo de pânico
Tomou seu peito,
Ela se afastou um pouco,
Então, se voltou para sobre
A cama em que dormia
Encontrou Jaimir nu.
Ele sorria sereno,
Deitava-se com ela
Com familiaridade,
Ela correu para buscar Marcos,
Duvidou que estivesse
Sonhando,
Então, o viu.
Não queria tê-lo visto,
Antes fosse pesadelo,
Ele estava morto
Na entrada do quarto,
Nu e sangrando.
Sangue frio ganhou o azulejo,
Ela levou a mão sobre a barriga,
Seu marido,
Seu esposo não resistiu a Jaimir,
Que resistisse então o filho
Que planejou para o casamento.
Era a única esperança
Que tinha
E mais nada.
Marcos estava com uma
Faça cravada em meio ao peito,
Morto e silencioso
No chão do quarto.
Ela voltou-se para Jaimir
Ele não se movia,
Sorria sereno.
Tinha no dedo anelar
Uma aliança que pertencia
Ao casamento dele,
Ele era esposo de outro alguém,
O que fazia ali?
O que queria dela?
Matou.
Invadiu sua casa
E agora matou seu esposo
Por prazer,
Tudo por sexo.
Os anos corriam
Mas, era como se para ele
Não passassem.
Tudo deveria ir a seu modo,
No modo de Jaimir não
Cabiam os homens.
- você invade quantas
Outras casas,
Além da minha, Jaimir?
Ela indagou
Munindo-se de toda a coragem.
Ele sorriu.
Se levantou.
Veio até ela e a abraçou,
Da forma que ela reconheceu,
A beijou,
A carregou até a cama,
A jogou de bruços
E transou com ela.
Depois a soltou,
Ela se virou para olhar
O rosto dele,
Ele se afastou,
Pegou Marcos pelas pernas,
E o puxou para fora do quarto.
Jacira sentou-se
Sobre a própria cama,
Marcos estava morto,
E estava sendo retirado de sua vida
Por Jaimir.
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